Os candidatos a governador do Amazonas neste segundo turno, Wilson Lima (PSC) e Amazonino Mendes (PDT), fizeram até agora o mais aberto dos debates, com muita troca de acusações e cutucadas. Foi no encontro realizado na manhã desta segunda, dia 15, pela Rede Tiradentes e site BNC Amazonas .
E ficou claro que o programa seria assim logo na apresentação, quando os candidatos responderam à pergunta do mediador Ronaldo Tiradentes por que queriam ser governador.
Wilson disse que sua presença no segundo turno é sinal de que o eleitor não aguenta mais a “velha política”. Pegando o gancho do Dia do Professor, disse que assumia compromisso de não usar direitos da categoria com fins eleitoreiros e de cumprir a data-base de reajuste salarial.
Recentemente, Amazonino conseguiu autorização do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM) para complementar o pagamento anual do abono do Fundeb (fundo da educação básica) aos professores. O pagamento de reajustes atrasados desde 2015 foi parcelado pelo governo depois de greve da categoria em abril deste ano.
Na sua vez, Amazonino apelou para que o eleitor pense bem na hora de votar porque há no país muitos exemplos de que “aventuras” nas eleições são “extremamente perigosas” e “falar, com jogo de palavras, é muito fácil. Fazer é muito difícil”.
Wilson disputa sua primeira eleição e tem sido atacado pelo adversário pela falta de experiência de administrar.
“40 anos” no governo
Na primeira pergunta de tema livre, Wilson cobrou do adversário uma resposta para o Amazonas ser o segundo estado em número de pessoas abaixo da linha de pobreza e mais de 200 mil desempregadas, querendo saber onde foi que o estado errou nesses 40 anos de governo de Amazonino.
Sua referência era ao grupo formado pelo ex-governador falecido Gilberto Mestrinho , do qual Amazonino é o herdeiro político.
A resposta de Amazonino foi que está há apenas um ano no governo (foi eleito em 2017 para mandato tampão). “Não sou responsável por nada de ruim que está aí. Se quiser me cobrar, cobre do meu governo de quinze anos atrás. Essa é a diferença, eu sei fazer, eu sou um livro aberto, não sou uma aventura”.
Wilson replicou dizendo que Amazonino tem 21 anos como governador e prefeito de Manaus, e no período de 40 anos teve participação efetiva na escolha de governantes. “Qual deles que não teve sua indicação, sua mão? O senhor tem responsabilidade sim”.
Para Amazonino, Wilson se valeu da sua condição de apresentador de programa de TV para fazer um jogo de palavras, “com o qual está habituado”. E cobrou que ele apontasse qual foi o erro que cometeu nesses anos de administrador.
Afirmando que passa incólume pela operação Lava Jato, Amazonino disse que seu adversário não pode falar que é ficha-limpa porque “não tem ficha”, se referindo ao fato de Wilson nunca ter assumido cargo de administrador. “Eu não, já fui testado”, disse.
O “criador” do Bolsa-Família
À resposta de Wilson sobre o plano para gerar emprego, que seria de oferecer curso profissionalizante e estágio para o jovem que está cursando o ensino médio, “com a possibilidade de ser contratado para seu primeiro emprego”, Amazonino desdenhou dizendo que o adversário “ouviu o galo cantar, mas não sabe onde”.
“Eles vão ficar de barba branca esperando essa solução. A solução já está posta no Brasil, que é a distribuição de recursos. Eu fui o pioneiro do Bolsa-Família, eu criei o cartão Direito à Vida”.
Na tréplica, Wilson disse que não imagina de onde o governador tiraria recurso para esse programa no estado, e acusou que o caixa do governo está se esvaziando e que vai faltar dinheiro para pagar fornecedor.
Escolas de tempo integral na moda
Ao dizer que vai investir nas escolas de tempo integral, Wilson novamente recebeu cutucadas do seu oponente. Amazonino disse que o que está sendo prometido por seu adversário é o que o seu governo já está fazendo. “Entreguei três e estou mandando fazer outras”.
Amazonino afirmou ainda que foi o primeiro a fazer escolas desse modelo no estado.
A polícia e a consultoria de Giuliani
A consultoria internacional de Rudolph Giuliani contratada por Amazonino não passou em branco. Wilson quis saber em que o ex-prefeito de Nova York poderia contribuir para reduzir a criminalidade.
Como resposta, Amazonino disse, entre outras coisas, que a solução que a polícia deu ao assalto a uma casa lotérica de Manaus no último sábado, com repercussão nacional, quando quatro suspeitos foram mortos, já era fruto dessa consultoria para a segurança pública.
“A polícia deu um exemplo de como a coisa melhorou. Os frutos já estão aí. Agora vamos preparar os snipers (atiradores de elite) amazonenses”.
Wilson contestou o adversário sugerindo que a ação policial nesse episódio não poderia ser resultado da consultoria de Giuliani, pelo pouco tempo de atuação (a do meio deste ano). Para ele, o desfecho da ocorrência foi graças ao preparo que os policiais do Amazonas já possuem.
Nesse momento, Amazonino partiu para um ataque mais contundente contra seu opositor. Segundo ele, Wilson usava seu programa na TV para criticar a polícia. “Como é que agora você quer elogiar a polícia? Você sempre disse que a polícia não prestava. Você foi duro, foi cruel, irreverente com a polícia”.
Como era a tréplica, Wilson não pôde mais contestar a fala de Amazonino. Restou, então, pedir direito de resposta, que acabou negado pela coordenação do debate.
Zona Franca em “pegadinha”
Ao ser sorteado o tema Zona Franca de Manaus (ZFM) para sua pergunta, Amazonino quis testar se Wilson sabia do que trata a lei complementar 160/2017.
Wilson respondeu que essa lei é para acabar a guerra fiscal entre os estados, mas que essa é “uma questão eminentemente técnica que tira as pessoas das discussões”.
Amazonino disse que lamentava a resposta porque essa lei, ao invés de pôr fim à guerra fiscal, acabava mesmo era consolidando as disputas entre os estados.
A lei convalida os incentivos fiscais dados ilegalmente fora da ZFM até 2017 e cria regras para evitar que isso volte a acontecer.
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Emprego acaba na Maus Caminhos
Na discussão sobre a geração de emprego no estado, Wilson afirmou a Amazonino que hoje são mais de 250 mil desempregados. O candidato à reeleição disse que o governo já reduziu 10% desse número.
Wilson disse que seu adversário fala tanto que sabe fazer, mas que não fez nos 40 anos que teve participação nos governos, e ainda apoiou José Melo (ex-governador cassado e que foi preso por envolvimento na operação Maus Caminhos por desvio de recursos da saúde).
Amazonino contestou dizendo que Wilson estava desinformado porque seu apoio na eleição de 2014 foi para o adversário de Melo, o atual senador Eduardo Braga (MDB).
Informatização com ironia na saúde
Ao afirmar que vai modernizar a gestão da saúde e informatizar a secretaria do setor (Susam), Wilson foi ironizado por Amazonino:
“É curioso que quase todas as sugestões e propostas do candidato [Wilson] nós já estejamos fazendo. Engraçado, é interessante, não é só em saúde pública, em todos os níveis, em todas as referências de coisas novas, do novo [apontando o dedo polegar para Wilson], nós já estamos fazendo”.
Minha empresa, nada de emprego
Amazonino voltou com o tema geração de emprego querendo saber o que seu adversário tinha de plano para isso. Wilson falou de incentivar potencialidades e realizar concurso para a área do setor primário.
Na réplica, Amazonino disse que seu adversário tem boa desenvoltura em falar do assunto, como se pudesse resolver tudo com uma vara de condão, mas que na sua empresa, que tem oito anos e R$ 200 mil de capital, nunca gerou um emprego.
Como resposta, Wilson disse que não empregou ninguém na sua empresa porque não houve necessidade.
Cutucadas finais
No fechamento do debate, o ânimo das cutucadas sobre o adversário ainda permanecia.
Wilson acusou a coligação adversária de ter muito dinheiro para “fazer montagem de vídeo, de áudio, de fake news [notícia falsa]”.
Na sua despedida, Amazonino disse que sua preocupação é que desta eleição não saia um outro “José Melo”, chamando o eleitor a não votar por impulso.
Veja o vídeo do debate, na íntegra:
Fotos: BNC Amazonas