Longe das ideias socialistas, Marcelo se autoproclama liberal moderno

Neuto Segundo

Publicado em: 16/07/2019 ร s 22:06 | Atualizado em: 17/07/2019 ร s 14:09

Por Iram Alfaia, de Brasรญlia

O deputado Marcelo Ramos (PL) jรก foi chamado de quadro polรญtico do PCdoB e do PSB, partidos com ideologias socialistas. Hoje, Ramos procura se definir como um adepto do โ€œliberalismo modernoโ€, ou seja, a preservaรงรฃo โ€œdas premissas fundamentais do liberalismo, mas com concessรตes pontuais ร s prรกticas keynesianasโ€.

ร€ colunista Andrea Jubรฉ, do Valor Econรดmico, ele explicou nesta terรงa-feira, dia 16, que evoca as ideias do ex-secretรกrio do Tesouro americano Laurence Summers e de um manifesto publicado pela “The Economist”, segundo o qual o liberalismo estรก sob ataque e precisa ser renovado.

O deputado na prรกtica defende o convรญvio de duas doutrinas econรดmicas antagรดnicas. O liberalismo fundado por Adam Smith (1723-1790), cujo princรญpio marcante รฉ o mercado regulando a vida econรดmica, e a outra tese elaborada por John Maynard Keynes (1883-1946), que defende o Estado intervindo na economia para prover o desenvolvimento.

No discurso que fez nesta terรงa-feira, no plenรกrio da Cรขmara, o parlamentar comeรงou a exercitar seus novos conceitos teรณricos.

Elogiou a proposta de emenda ร  Constituiรงรฃo (PEC) 45 sobre a reforma Tributรกria que tramita na Casa, sobretudo pela simplificaรงรฃo do sistema tributรกrio, mas a criticou por nรฃo enfrentar o que ele julga ser mais grave no sistema: a regressividade.

Segundo ele, cobra-se mais impostos dos pobres do que dos ricos. โ€œTodos os paรญses capitalistas, liberais e desenvolvidos do mundo praticam o inverso: uma subtaxa sobre o consumo, para estimular o consumo e a atividade produtiva, e uma taxa maior sobre a renda e a propriedade. Isso ocorre por um motivo simples: externalidade de riqueza nรฃo รฉ quanto vocรช come de arroz ou de feijรฃo, externalidade de riqueza รฉ quanto vocรช tem de renda e de propriedadeโ€, defendeu.

Na sua opiniรฃo, trata-se de um sistema equivocado. โ€œTem uma alรญquota mรกxima de 27,5% de Imposto de Renda. Quem ganha 5 mil reais paga 27,5% de Imposto de Renda e quem ganha 100 mil reais tambรฉm paga 27,5% de Imposto de Rendaโ€, diz.

Prosseguiu: โ€œLรก no meu Estado, Amazonas, e na minha cidade, em Manaus, o cidadรฃo que vai ao supermercado comprar um quilo de arroz vai pagar 18% de ICMS e um cidadรฃo que mora na maior mansรฃo do Amazonas, na รกrea mais nobre da cidade de Manaus, vai pagar como maior alรญquota de IPTU 0,9%. Sรฃo 18% sobre o arroz e 0,9% sobre a propriedadeโ€.

Alรฉm dessa questรฃo, Ramos defendeu que a reforma Tributรกria leve em conta as profundas desigualdades regionais, sem abrir mรฃo das polรญticas de desenvolvimento regional.

โ€œร‰ รณbvio que, se nรฃo tivermos polรญticas que estimulem uma descentralizaรงรฃo da atividade industrial pelo territรณrio nacional, teremos uma hiperconcentraรงรฃo da atividade industrial no Sudesteโ€, previu.

Para ele, nรฃo interessa ao paรญs uma hiperconcentraรงรฃo da atividade industrial no Sudeste. โ€œToda a indรบstria nacional, de Goiรกs para cima e do Paranรก para baixo, รฉ incentivada, absolutamente toda! Nรณs vamos deixar simplesmente o mercado resolver para onde a indรบstria vai?โ€, indagou.

โ€œNรณs somos um paรญs de dimensรตes continentais. Ele precisa ser equilibrado. Precisa haver uma distribuiรงรฃo da indรบstria pelo territรณrio nacional. E isso nรฃo รฉ sรณ o mercado que vai resolverโ€, concluiu.

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Jornal da Espanha chama Marcelo Ramos de โ€œcamaleรฃo polรญticoโ€

 

 

Foto: Agรชncia Brasil/Fabio Pozzebom