Morre a estrela, mas a sua luz permanece

Publicado em: 27/11/2019 Ă s 22:18 | Atualizado em: 27/11/2019 Ă s 22:18
Para o meu professor José Aldemir de Oliveira (-1954 + 2019)
Wilson Nogueira
Por que choramos os nossos mortos?
Choramos porque cada pessoa Ă© um universo.
Quando perdemos uma pessoa do nosso convĂvio, Ă© como se a nossa galĂ¡xia perdesse uma estrela.
A estrela, sugada pela massa cinzenta da morte, vai existir em outras estrelas, em outras matĂ©rias ou vibrações, mas ela nĂ£o serĂ¡ mais a mesma, e nĂ£o seremos mais capazes de reconhecĂª-la como ela era antes.
Choramos porque perdemos um mundo inteiro Ămpar, um Ăºnico evento cĂ³smico, que agora leva consigo todo a experiĂªncia da existĂªncia e todo potencial criativo que a impulsionou para a vida.
O que nos consola, como seres cĂ³smicos, Ă© que a luz da estrela que se transformou permanecerĂ¡ em viagem ad infinitum atravĂ©s das galĂ¡xias.
Assim, se expande o universo.
Assim, nos expandimos como Ănfimas partĂculas dele.
E como feixes de luz ou poeira estelar estaremos entrelaçados para sempre.
Mas tudo isso Ă© – e ainda serĂ¡ pouco ou quase nada – para explicar porque choramos diante dos nossos mortos.
EntĂ£o, quando uma pessoa do nosso convĂvio deixa de existir, o mais confortante mesmo Ă© chorar.
Tudo porque um ser vivo, entre eles os seres humanos, nĂ£o Ă© feito sĂ³ de matĂ©ria ou de ondas cĂ³smicas.
HĂ¡ em nĂ³s, vivente e vividos, uma alma, uma força mĂ¡gica, emoções, uma inteligĂªncia pulsante.
HĂ¡, entre nĂ³s, uma força vital para a convivĂªncia, para a solidariedade, para a compaixĂ£o e para o amor.
A estrela que existe em nĂ³s vive, por isso, tambĂ©m morre.
Morre para que outras estrelas nasçam: estrelas de matĂ©ria, alma, imaginaĂ§Ă£o e imaginĂ¡rio.
E desse modo a nave da comunidade de destino vai sulcando o universo.
Mas, mesmo assim, cheios de explicações e teorias cĂ³smicas para os sentidos da existĂªncia e da morte, choramos!
Choramos ao mesmo tempo o choro da perda, do reconhecimento e do respeito.
É isso: choramos porque somos estrelas que se humanizaram.
Meu caro professor José Aldemir, siga em paz.
Foto: Facebook