O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo deflagrou na manhã desta segunda (14), a Operação Sharks para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra lideranças da facção Primeiro Comando da Capital, o PCC.
A ofensiva mira tanto lideranças que estão presas quanto outras que estão soltas – algumas que inclusive se mudaram para o exterior, comandando atividades logísticas da facção a partir de outros Países.
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Agentes cumprem 12 mandados de prisão e realizam 40 buscas em endereços da capital, da região metropolitana, da baixada santista e de cidades do interior.
Um dos alvos morreu durante confronto com a Polícia em Praia Grande, no litoral paulista.
“A operação é considerada por nós como a mais importante desde a remoção do Marcola e demais líderes para o sistema penitenciário federal. Porque foi identificado farto conjunto probatório, todos os líderes que foram indicados pelo Marcola e demais líderes para assumirem todos os setores da facção aqui na rua”, afirma o promotor Lincoln Gakiya que conduz as investigações junto ao MP-SP.
Prisão de homem da contabilidade
Segundo o promotor, as investigações tiveram início após a prisão de um integrante do PCC que tinha o apelido de ‘tubarão’, sendo que ele era responsável pelo setor financeiro da facção.
Na ocasião, os agentes apreenderam diversos documentos com a contabilidade do grupo criminoso, sendo que as planilhas detalhavam inclusive o envio de milhares de reais para o Paraguai e para a Bolívia.
Gakiya indica ainda que alguns dos investigados possivelmente estejam em tais Países da América Latina.
“O importante foi a identificação desses indivíduos, que integram a cúpula do PCC hoje em exercício, e a responsabilização criminal deles. Ainda que alguns não sejam presos na data de hoje – possivelmente estejam no Paraguai e na Bolívia -, as diligencias vão continuar e logo vamos ter a prisão de todos os investigados”, indicou o promotor.
Segundo o MP-SP, as investigações tiveram início no primeiro semestre de 2019. A ofensiva aberta nesta manhã conta com o apoio da Polícia Militar e do 1º Batalhão de Polícia Militar de Choque (ROTA).
Força-tarefa na operação
Participam da ação promotores de justiça, agentes do Ministério Público e mais de 250 policiais militares e 65 viaturas.
Os promotores apontam que a cúpula da facção comanda um sistema que movimenta mais de R$ 100 milhões anualmente – montante proveniente do tráfico de drogas e da arrecadação de valores de seus integrantes -, com rigoroso controle em planilhas.
Para ocultar os valores, os faccionados compravam veículos e usavam imóveis com fundos falsos (‘casas-cofre’) para ocultar dinheiro vivo antes de realizar transferências, muitas vezes por doleiros.
“As investigações revelaram a cadeia logística do tráfico de drogas da facção, bem como a sucessão entre suas principais lideranças a frente da fonte de maior renda da organização criminosa, indicando, ao final, a participação de 21 pessoas, algumas presas durante as investigações”, informou o MP-SP em nota.
De acordo com os promotores, as lideranças que são alvo da operação tem em comum ‘elevado poder decisório’ na fação, a proximidade com a cúpula presa e ainda a ‘ostentação de vidas de luxo, com múltiplos imóveis, carros de luxo, isso quando não residem fora do país e com seus gastos pagos pela própria facção’.
Alvos
A Promotoria indicou que entre os investigados tem destaque o principal líder de rua atualmente do PCC.
Segundo os investigadores, tal alvo da operação está à frente da ‘Sintonia final da rua’ responsável por comandar os integrantes soltos da organização criminosa, mantendo contato direto com a cúpula presa da facção.
A Promotoria classificou os investigados pelas iniciais de seus primeiros nomes.
“MRA é suspeito de ser responsável pelos planos de fuga das lideranças da facção reclusas em presídios federais desde 2019, quando o MP-SP obteve ordem para suas transferências. Também é suspeito de liderar os planos de assassinar agentes e autoridades públicas em represália às transferências e às ações contra a cúpula da facção. M.R.A., tamanha a audácia da facção criminosa, ostenta cargo de adido da embaixada de Moçambique, sendo desconhecidas suas atividades nessa função”, registrou o Ministério Público de São Paulo.
Tal alvo da ‘Sharks’ teria herdado as funções na ‘Sintonia final da rua’ de três outros investigados pelos promotores – E.A.A., M.M.P. e D.L.G.
Chefes de vários setores
Um dos outros alvos da ofensiva atua logo abaixo de M.R.A, à frente do ‘Setor do Raio-X’ – órgão de consulta da ‘Sintonia final’, responsável pela comunicação entre a cúpula solta e todas as demais funções da facção, cumpridoras das suas determinações.
Segundo os promotores, G.F.L.P. era responsável pela chamada ‘Célula territorial’ e tinha a incumbência de fazer o contato entre a cúpula e as lideranças atuantes em outros estados do Brasil e países da América Latina, a chamada ‘Sintonia Geral dos Estados e Países’.
Dois outros integrantes do ‘Setor do Raio-X’ tiveram suas prisões decretadas, diz a promotoria – G.S.L., responsável pela logística de distribuição da maconha na facção criminosa (‘Setor do Bob’) e W.R.C., responsável último por fazer cumprir as normas e a disciplina da facção criminosa (‘Resumo disciplinar’).
Logística das drogas investigada
Segundo o MP-SP, a ‘Sharks’ não investiga somente responsáveis pela organização superior da facção, mas também integrantes responsáveis pela logística do tráfico de drogas.
A promotoria cita V.A.S. e S.L.F.F., que comandam a cadeia de suprimento de drogas da facção, sobretudo aquela vinda de outros Países. Ambos continuam foragidos, segundo o MP-SP, e a suspeita é a de que eles estejam fora do Brasil, de onde atuam para a facção. Ambos estão no rol de pessoas mais procuradas do Ministério da Justiça, assim como um outro investigado, L.A.F, que já foi preso.
Para a distribuição das drogas, a facção tinha como seu último responsável o investigado O.L.B.J., a frente da ‘Sintonia Final do Progresso’ e da ‘Padaria’ (refino de drogas). Ele era responsável direto pelo preparo, guarda e divisão da droga entre os integrantes.
De acordo com os promotores, tal quadro da facção ainda contava com os investigados J.P.T.S. e E.M., bem como com um setor financeiro, tendo como destaque C.L.R.L. Parte dessas funções foram antes exercidas por D.M.G.C. (‘Final do Progresso’) e R.S.L. (‘Sintonia Financeira’), também investigados no caso.
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Foto: Reprodução/Folha