Manaus é uma das piores em água e esgoto após 20 anos de privatização
Duas décadas depois, apenas 12,5% do esgoto é coletado na cidade e cerca de 600 mil pessoas — o equivalente a 27% da população — não têm acesso à água

Publicado em: 01/10/2020 às 15:47 | Atualizado em: 01/10/2020 às 15:53
O Senado aprovou no primeiro semestre de 2020 a possibilidade de entregar ao setor privado o controle do fornecimento de água e do tratamento de esgoto no Brasil.
O modelo foi comemorado pelos parlamentares, no entanto, esse sistema não apresentou bons resultados em Manaus e no Tocantins, onde os serviços já são privatizados há duas décadas.
O relator do projeto, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) garantiu, à época, que até o final de 2033, 99% da população terá acesso à água tratada e 90% à coleta e tratamento de esgoto.
Mas a promessa de universalização do serviço nem sempre é garantia de bons resultados, a exemplo do que aconteceu na cidade de Manaus e do estado de Tocantins.
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Privatização de 20 anos
Manaus privatizou o setor há exatos 20 anos.
Duas décadas depois, apenas 12,5% do esgoto é coletado na cidade e cerca de 600 mil pessoas — o equivalente a 27% da população — não têm acesso à água.
O restante do esgoto, ou 87,5% dele, é despejado no rio Negro, em córregos e igarapés.
No ranking de 2018 do Trata Brasil para o saneamento básico, Manaus aparecia como a 5ª pior cidade no país.
A Ageman (Ouvidoria da Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Município de Manaus) divulgou no começo do ano que os serviços de abastecimento de água e esgotamento somaram 91% das reclamações registradas pelo órgão.
“Não é só o setor privado que resolve. Se resolvesse, Manaus não estaria tão mal colocada no ranking depois de décadas da privatização”, afirmou ao UOL o presidente da Aesbe (Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento), Marcus Vinicius Neves.
Manaus ruim no ranking do Trata Brasil
O Trata Brasil apresenta o panorama dos 10 piores nos indicadores de água e esgoto.
Dos dez piores municípios do Ranking, três localizam-se no estado do Pará, dois no Rio de Janeiro, um em Pernambuco, um no Rio Grande do Sul, um no Amazonas, um em Rondônia e um no Amapá.
Esgoto
Em relação ao esgotamento sanitário, em 2018, o Brasil despejou na natureza 5.715 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento por dia, sendo 2 milhões por ano.
De acordo com o estudo, o indicador médio de coleta de esgotos nos 100 maiores municípios foi 73,30%.
No geral, os 100 piores municípios possuem coleta de esgoto bastante inferior à média do Brasil, que foi de 53,15%.
Ananindeua (PA) é o município mais próximo de 0,0% quando falamos em coleta de esgoto, com 2,05%.
Além deste, outros cinco municípios coletam menos que 15% do esgoto que descartam: Manaus (AM), Belém (PA), Santarém (PA), Porto Velho (RO) e Macapá (AP).
Nota-se que os três municípios paraenses localizados embaixo da tabela, apresentam menos de 15% de coleta de esgoto.
Já a média do tratamento de esgotos nos 100 maiores municípios em 2018 foi de 56,07%. Ou seja, as piores cidades tratam muito pouco comparadas com a média do país.
No entanto, em ambos os casos, o indicador está mostrando ser um dos maiores desafios a serem enfrentados.
Dos 10 piores municípios do Ranking, apenas três tratam mais que 15% do esgoto produzido.
É o caso de Gravataí (RS), Manaus (AM) e Macapá (AP).
Perda de água
As perdas de água, que ocorrem a partir de vazamentos, erros de leitura dos hidrômetros, furtos (famosos “gatos”), entre outros problemas, registraram indicador médio nas 100 maiores cidades de 34,40%, o que representa um valor abaixo da média nacional de 38,5%.
Neste indicador, apenas dois municípios possuem menos que 40% de perdas, número já considerado alto, é o caso de Jaboatão dos Guararapes (PE) e Belém (PA).
Manaus (AM) e Porto Velho (RO), ambos localizados na região Norte, são os piores municípios no setor, com números próximos aos 75%.
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Foto: Divulgação/Secom