A grande maioria dos 61 prefeitos do interior do Amazonas pode ter dificuldade brevemente com órgãos de fiscalização e controle . Seguidamente, eles têm falhado com a transparência na informação sobre os casos de coronavírus (covid-19). O BNC Amazonas fez um recorte de 36 dias e encontrou que pelo menos 56 dos prefeitos, ou 94% deles, falharam pelo menos uma vez com o repasse de dados da doença ao setor de saúde do estado. Mas, há quem deixou de atualizar durante 31 dias desse período.
Tal situação é tornada pública pelo Governo do Amazonas diariamente, via boletim da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS). Até este sábado (10), quando o estado enfrentava 211 dias da epidemia, os registros oficiais de contaminados era de 147.038, com 4.235 mortos.
Como resultado dessa falta de transparência dos prefeitos, que ficaram mais negligentes após o pico da doença e seguem agora, com o recrudescimento do vírus, o boletim diário não reflete a realidade do coronavírus. Tanto os casos de contaminações quanto os de óbitos podem ter ficado de fora.
No período estudado, de 1º de setembro a 6 de outubro, 56 prefeitos deixaram de informar seus dados pelo menos uma vez. Contudo, há os que simplesmente abandonaram a obrigação com a transparência. Esses, que são dez, deixaram o boletim estatístico defasado por mais de 15 dias, alternados.
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Além disso, em dois dias de setembro (6 e 13) o boletim da FVS teve o maior desfalque das informações. Nessas datas, em cada uma, 28 prefeitos, ou 46% deles, falharam na transparência pública.
Contribuiu bastante para esse relaxamento o período de campanha política. De cada dez, oito prefeitos no Amazonas concorrem à reeleição . E, dessa forma, passaram a dar mais atenção ao seu interesse particular do que às necessidades coletivas da população diante do coronavírus. Pior que isso, os próprios prefeitos passaram a ser fator de risco para crescimento da doença, promovendo aglomerações durante a campanha.
Por exemplo, o prefeito de Manacapuru, Beto D’Ângelo (MDB), foi um dos que abandonaram a transparência por vários dias.
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Boletim da FVS prejudicado
Por causa dessa negligência dos prefeitos, é possível afirmar que a FVS é prejudicada pelos prefeitos na hora de fechar o boletim.
Consequentemente, o quadro do coronavírus no Amazonas não está completo. Além da subnotificação natural por parte da população, há enorme lacuna de informações quanto ao coronavírus no interior. É comum encontrar quem teve parente ou conhecido que foi levado do município para a capital e lá a pessoa foi a óbito.
Em resumo, resta pelo menos a desconfiança de que os dados do coronavírus no estado podem ser mais elevados que os atuais apresentados diariamente no frio boletim.
É nesse boletim que a FVS também diariamente se previne diante da irresponsabilidade dos prefeitos municipais. Sobre o recebimento de informações, escreve:
As notificações são realizadas pelas vigilâncias epidemiológicas dos municípios, por meio de sistema de informação de saúde, e repassadas para a FVS-AM, que consolida os dados.
Igualmente, todo dia é divulgada a lista de prefeitos em falta com a transparência:
Nesta edição [sábado, 10], 18 municípios não atualizaram o sistema de informação para consolidação dos dados do boletim. São eles: Anori; Barcelos; Careiro da Várzea; Canutama; Codajás; Eirunepé; Guajará; Humaitá; Itapiranga; Juruá; Jutaí; Lábrea; Novo Aripuanã; Santa Isabel do Rio Negro; São Paulo de Olivença; Santo Antônio do Içá; Tapauá e Tonantins.
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Falha individualizada
Conheça como tem se comportado o prefeito de cada município quanto à transparência na crise do coronavírus. Saiba por quantos dias ele não repassou informações e, por consequência, os números desatualizados da doença quanto a mortos e contaminados.
Com base em média mensal extraída do total de casos de cada cidade, até o dia em que as informações deixaram de ser passadas, o BNC Amazonas fez uma projeção do que poderia ser o cenário real da doença.
Juruá
É o campeão absoluto da falta de transparência quanto ao coronavírus. Nesse período analisado de 36 dias, o prefeito da cidade deixou de passar as informações durante 31 dias.
Quando parou de atualizar os dados, Juruá tinha 564 pessoas infectadas e sete mortos. Se tivesse continuado a levantar os números, e se a epidemia mantivesse a média dos 211 dias, hoje a cidade teria 82 casos a somar aos atuais, passando a figurar no boletim da FVS com 646 contaminados, e não 564.
Quanto aos óbitos, pelo menos um novo caso seria adicionado nessa projeção estimada para os 31 dias sem informação. Ao invés dos sete informados ainda em agosto, hoje seriam, portanto, oito vítimas fatais.
Tonantins
Durante 28 de 36 dias a prefeitura da cidade deixou de passar os dados da covid. Foram 23 no mês de setembro e cinco dias em outubro, até dia 6.
Com base na última atualização pelo município, haviam 586 contaminados e 14 mortos. Com a projeção proporcional para o período não informado, Tonantins teria a acrescentar 82 novos casos de contaminação e duas mortes. Dessa maneira, seus números hoje seriam 704 pessoas contaminadas e 17 registros de óbitos.
Jutaí
Em Jutaí, nos dias 5, 8, 10 a 29 de setembro, 4 e 6 de outubro não houve repasse de dados da covid-19. Portanto, foram 24 dias sem atualização no total.
No dia 1º de setembro haviam 364 casos e 16 óbitos. Já em 6 de outubro foram 392 casos e 16 óbitos. A partir disso projeta-se 44 novos infectados, e 1 novo óbitos. Portanto seriam hoje 436 contaminados e 17 mortos.
Apuí
No sul do Amazonas, a cidade de Apuí não informou o boletim em: 2, 4 a 7; 9 e 10; 12 a 15; 17 a 19; 21 a 30 de setembro; 3 e 5 de outubro. Foram 23 dias até o dia 6 de outubro sem atualização no total.
Conforme levantamento, em 1º de setembro eram 195 casos e 0 óbitos. No entanto, dia 6 de outubro registrou 245 casos, com 2 óbitos. Dessa forma entende-se que seriam durante esse período de não atualização 26 casos novos e 1 óbito. Portanto a projeção atual é de 271 novos infectados e 3 óbitos em Apuí.
Tapauá
De 1 a 3; 6 a 10; 12 a 15; 17 a 20; 26 e 27 de setembro, 3 e 4 de outubro, somam 19 dias no total sem atualização feita pela prefeitura de Tapauá dos dados do coronavírus.
No dia 1º de setembro haviam 968 casos e 5 óbitos na cidade. E no dia 6 de outubro: 975 casos e 5 óbitos. Portanto a projeção de casos a mais é de 87, com 1 óbito. Dessa forma, o resultado seria 1.062 e 6 mortes pelo vírus.
Beruri
No município de Beruri não foram informados os números do vírus no período de: 1 a 9; 13 a 15; 19 a 21; 25 e 26, 30 de setembro, e 3 a 5 de outubro. Dessa forma registra-se 18 dias sem atualização.
No 1º de setembro tinham 713 casos acumulados e 9 óbitos. No entanto, em 6 de outubro foram registrados: 867 casos e 12 óbitos.
Conforme esses dados a projeção é de 74 casos a mais, e 1 óbito. A partir disso, compreende-se 941 novos contaminados, com 10 mortes.
Santa Isabel do Rio Negro
Nos dias 7, 12 e 13; 15 a 27 de setembro, 1, 3 e 4 de outubro, não houve atualização do boletim epidemiológico pela prefeitura de Santa Isabel do Rio Negro. Portanto o total foi de 18 dias sem informação da covid-19 no município.
Durante esse período de análise foi constatado o seguinte: Em 1º de setembro: 2027 casos e 16 óbitos; Dia 6 de outubro: 2183 casos e 17 óbitos.
Desse modo, a projeção é de que 186 novos casos durante os 36 dias analisados, com 1 óbito. Portanto, o total disso seria 2.369 casos de covid-19 e 18 óbitos.
Carauari
Com 17 dias sem atualização, Carauari não informou os números do coronavírus nas seguintes datas: De 1 a 16; 22 e 23 de setembro.
A partir disso a projeção de casos durante os últimos 36 dias de Carauari é de 187 novos contaminados, e 1 óbito. Esse dado é referente aos casos e mortes não informados entre o dia 1 de setembro, quando município tinha 1181 casos e 10 óbitos, e o dia 6 de outubro, com registro de 2.325 casos e 17 óbitos.
A partir disso, a projeção atual seria de 2.525 contaminados e 18 mortes.
Santo Antônio do Içá
Em Santo Antônio do Içá, as datas sem atualização do boletim foram: 5, 9, 11 a 13; 15, 18 a 20; 22 a 24; 26 e 27; 30 de setembro; 1 a 6 de outubro. Dessa forma, por 17 dias no total a prefeitura do município não repassou os dados do coronavírus.
No Dia 1 de setembro: 1197 casos e 23 óbitos; Dia 6 de outubro: 1223 casos e 26 óbitos. A média de novos casos nesse período portanto chega a 98, com 2 óbitos. A partir disso, a projeção é de 1.321 novos infectados com 28 mortos.
São Paulo de Olivença
Com 16 dias no total, São Paulo de Olivença não informou os dados da covid-19 nas seguintes datas: 5 a 7; 9 e 10; 12 e 13; 16 a 21; 23 e 24; 27, 29 de setembro.
Em 1º de setembro haviam 1.285 casos e 24 óbitos. No entanto em 6 de outubro foram registrados, 1.948 casos e 25 óbitos. A partir desses 36 dias analisados, foram 147 novos contaminados, e 2 óbitos. Portanto, o total seria de 2.095 casos e 27 mortos pela covid-19.
Foto: Divulgação/FVS