Governo tira R$ 440 milhões do Fundeb do Amazonas, maior corte do país

A Portaria Interministerial 3/2020, do MEC e do Ministério da Economia revisou a estimativa das receitas do fundo da educação básica, assim como eliminou a participação da União nos 10% do Fundeb. AM ficou sem 22%

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Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília 

Publicado em: 02/12/2020 às 00:05 | Atualizado em: 02/12/2020 às 09:15

O governo federal cortou R$ 440,83 milhões do Fundeb do estado do Amazonas neste final de 2020. Trata-se da maior cifra entre os demais estados que perderam a receita da educação. O Fundeb é o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

A previsão é que o Governo do Estado e os 62 municípios recebam menos 22% da complementação da União nos meses de novembro e dezembro. 

Esse percentual representa R$ 540,69 milhões a menos que 2019 e vai impactar nas finanças municipais e prejudicar o pagamento do 13º salário e o abono dos professores.  

Essa diferença ocorre porque o governo federal, por meio da  Portaria Interministerial 3/2020, reduziu o valor do piso do Fundeb em 2020 

A nova estimativa de receita para todos os estados e municípios brasileiros é de R$ 162,4 bilhões, menos 6,5% em relação ao montante de R$ 173,7 bilhões de 2019. 

O valor mínimo por aluno/ano passa de R$ 3.634,16 (2019) para R$ 3.349,56 em 2020. 

A nova estimativa, alegada pelo governo, reflete a queda da arrecadação dos principais impostos que compõem o Fundeb: ICMS e os Fundos de Participação dos Estados e dos Municípios (FPE e FPM), causada pela pandemia do coronavírus (covid-19). 

Piso dos professores 

Com a queda na receita do Fundeb, em 2021 não haverá reajuste do piso salarial nacional dos profissionais do magistério.  

A variação do crescimento do valor mínimo nacional estimado de 2019, de R$ 3.440,29, e o estimado para 2020, de R$ 3.349,56, foi negativa (-2,6%).  

Assim, o valor do piso salarial continuará R$ 2.886,24 no ano que vem, e é o vencimento inicial da carreira a ser pago aos profissionais com formação em nível médio, na modalidade normal, para a jornada de 40 horas semanais. 

Sem complemento da União 

A portaria modifica também o valor da complementação da União, correspondente a 10% do total da contribuição dos estados, DF e municípios ao fundo. 

Dos estados beneficiados com a complementação da União, cinco receberão menos recursos: 

– Amazonas (-22%),  

– Ceará (-3,0%),  

– Maranhão (-4,2%),  

– Pará (-13,4%) e  

– Pernambuco (-14%).  

 Portanto, o Amazonas, que é o mais afetado, ficará sem a complementação da União em novembro e dezembro. 

 

Manaus tem o maior desfalque 

Sem a complementação da União, o governo do estado e os municípios deixarão a receber, nesses dois meses, R$ 440,83 milhões, de acordo com a Confederação Nacional de Municípios (CNM).   

O maior impacto será em Manaus. A capital terá uma estimativa de receita de menos R$ 81,3 milhões. 

Sem os 10% de complementação da União, a Prefeitura de Manaus não poderá contar com R$ 6,29 milhões de acordo com a CNM.  

Antes da Portaria 3/20, a estimativa de receita do Fundeb para o Amazonas era de R$ 6,35 bilhões. 

Agora, com as mudanças feitas pelos Ministérios da Educação e da Economia, o estado ficará com R$ 5,82 bilhões. 

 

 

Municípios reclamam 

Ao verificar as novas regras do governo para o repasse do Fundeb, o secretário de Fazenda do município de Coari, Diego Guimarães, disse que todo o seu planejamento vai por águas abaixo.  

“Teremos que buscar novas saídas, mas vamos ter que cortar na própria carne para pagar o 13º e o abono salarial dos professores em dezembro. A gente ainda conseguiu compor em novembro, mas tem município que nem vai conseguir pagar a folha do mês passado”, declarou Diego Guimarães. 

Pelas estimativas de receitas, Coari vai ficar sem R$ 4,31 milhões nos meses de novembro e dezembro. 

E pelo fato de não receber os 10% de complementação da União, a prefeitura deixará de receber R$ 3,51 milhões do Fundeb. 

“No meio de uma pandemia, fechamento do comércio, que levou ao desemprego e diminuição drástica da arrecadação, essa redução dos recursos do Fundeb vai causar um maior impacto principalmente nos municípios mais pobres”, comentou o representante da Prefeitura de Coari, em Brasília, Idelfonso Galindo Jr.  

Conforme o ponto de vista dele, os recursos do Fundeb são a principal fonte de receita dos municípios para pagar o salário dos professores.  

 

Reações políticas 

O coordenador da bancada do Amazonas, no Congresso Nacional, senador Omar Aziz (PSD-AM), classificou a decisão do governo federal de retrocesso.  

“Como os estados e municípios vão honrar seus compromissos para pagar o salário dos servidores da educação?”, questionou Omar.  

O senador lembra que os orçamentos estaduais e municipais são baseados na projeção dos recursos do Fundeb. Ele vê com grande preocupação a redução de 22% desses recursos para o Amazonas. 

O deputado Marcelo Ramos (PL-AM) disse, por sua vez, que “os prefeitos não podem ser reféns da falta de planejamento e organização do governo federal. Agiremos para tentar reverter porque temos consciência que o prejuízo será enorme para os municípios do Amazonas’.

O deputado José Ricardo (PT-AM) informou que é um dos subescritores do Projeto de Decreto Legislativo (PDL), apresentado, nesta terça-feira (1), na Câmara, para suspender os efeitos da Portaria 3/20. 

Confira aqui a lista dos municípios amazonenses que perdem receita.

 

Fotos: Secom/AM