Bolsonaro volta com cloroquina e diz que “nĂ£o erra nada hĂ¡ um ano”

Na conversa com apoiadores, Bolsonaro tambĂ©m criticou medidas de isolamento e as restrições que estĂ£o sendo asseveradas por governadores na tentativa de frear o aumento do nĂºmero de casos e mortes por covid-19

Defesa e SaĂºde se contradizem sobre a produĂ§Ă£o de cloroquina no paĂ­s

Publicado em: 01/03/2021 Ă s 17:00 | Atualizado em: 02/03/2021 Ă s 08:45

Em conversa com apoiadores no PalĂ¡cio da Alvorada na manhĂ£ desta segunda-feira (1º), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nunca ter errado ao longo da pandemia de covid-19 ao defender o ineficaz tratamento precoce, criticar medidas restritivas e ao dizer que sĂ³ pode comprar vacinas apĂ³s aprovaĂ§Ă£o da Anvisa (AgĂªncia Nacional de VigilĂ¢ncia SanitĂ¡ria), apesar de nĂ£o ter feito isso com os imunizantes utilizados atualmente no Brasil.

“Desculpe aĂ­, pessoal, nĂ£o vou falar de mim, mas eu nĂ£o errei nenhuma desde março do ano passado. E nĂ£o precisa ser inteligente para entender isso. Tem que ter um mĂ­nimo de carĂ¡ter. Agora sĂ³ quem nĂ£o tem carĂ¡ter que joga o contrĂ¡rio”, disse Bolsonaro em uma conversa gravada e transmitida por um canal de internet simpĂ¡tico ao presidente.

No diĂ¡logo, Bolsonaro voltou a defender o tratamento precoce, afirmando que “Ă© um direito do mĂ©dico trabalhar off label”, expressĂ£o que tem utilizado ao longo da pandemia para defender o uso de medicamentos que nĂ£o tĂªm eficĂ¡cia comprovada contra a covid-19.

Bolsonaro disse que, quando recebe notĂ­cias de que hĂ¡ algum tratamento em outro paĂ­s, ordena que o embaixador brasileiro no local confirme.

“O que mandei confirmar agora Ă© a Coreia do Sul, com a cloroquina”, disse.

Publicações sul-coreanas relatam que testes com a droga foram interrompidos em junho do ano passado.

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“NegĂ³cio de spray, quando chegar no Brasil, deve estar tudo caminhando para chegar, vĂ£o tambĂ©m demonizar o spray. Pode ter certeza disso”, disse Bolsonaro, que mandarĂ¡ uma comitiva a Israel nesta quarta-feira (03).

HĂ¡, atualmente, 35 pesquisas em humanos avaliando 22 possibilidades de drogas contra covid-19 aplicadas por inalaĂ§Ă£o feita em hospital.

O estudo de Israel com o spray nasal EXO-CD24, citado por Bolsonaro, Ă© um dos mais iniciais entre os registros de pesquisas clĂ­nicas.

A chamada fase 1 do EXO-CD24 começou no final de setembro do ano passado e, oficialmente, seria concluída apenas em 25 de março.

As informações sĂ£o da base internacional Clinical Trials, que reĂºne dados sobre experimentos de medicamentos, diagnĂ³sticos e vacinas com pessoas no mundo todo.

A droga estĂ¡ sendo testada para covid-19 com 30 voluntĂ¡rios e, por enquanto, nĂ£o hĂ¡ resultados publicados em artigo cientĂ­fico nem da fase 1, que ainda nĂ£o estĂ¡ oficialmente concluĂ­da.

“Aqui dentro [no Brasil] vocĂª nĂ£o pode falar [em] off label, virou crime”, disse o presidente.

Bolsonaro tambĂ©m falou aos apoiadores sobre a vacina. O Brasil jĂ¡ aplicou ao menos uma dose de vacina em 6.576.109 pessoas, segundo o consĂ³rcio de veĂ­culos de imprensa.

O nĂºmero representa 3,11% da populaĂ§Ă£o brasileira. A segunda dose jĂ¡ foi aplicada em 1.933.404 pessoas, o equivalente a 0,91% da populaĂ§Ă£o do paĂ­s.

Bolsonaro disse que, em março, o paĂ­s deve ter, “no mĂ­nimo”, 22 milhões de doses de vacina.

Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou no domingo (28), em reuniĂ£o no PalĂ¡cio da Alvorada, o ministro da SaĂºde, Eduardo Pazuello, apresentou um cronograma que prevĂª entregar mais 25 milhões de doses de vacinas em março e 45 milhões em abril.

As informações, fornecidas pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que participou do encontro, dizem respeito a imunizantes Oxford/AstraZeneca e Coronavac, os Ăºnicos em aplicaĂ§Ă£o no Brasil atĂ© agora.

“Alguns criticam o Brasil, me criticam. A vacina a gente sĂ³ podia comprar depois que a Anvisa autorizar. NĂ£o Ă© ‘vou comprar qualquer negĂ³cio que aparecer’. EntĂ£o, começou essas vacinas a serem certificadas pela Anvisa, estamos comprando”, disse Bolsonaro. No entanto, os contratos com os dois imunizantes em uso no paĂ­s foram firmados antes que a Anvisa aprovasse seu uso.

Na conversa com apoiadores, Bolsonaro tambĂ©m criticou medidas de isolamento e as restrições que estĂ£o sendo asseveradas por governadores na tentativa de frear o aumento do nĂºmero de casos e mortes por covid-19.

“NĂ£o deu certo no ano passado”, afirmou o presidente. “O ano passado eu falei [que] a depressĂ£o leva ao suicĂ­dio. Zombaram de mim tambĂ©m. Ontem reconheceram. E nĂ£o precisa ser inteligente para entender isso. VocĂª confinado, isolado, vocĂª entra em depressĂ£o. NĂ£o precisa ser inteligente, mas precisa ser muito mau carĂ¡ter para nĂ£o entender”, disse.

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Foto: Carolina Antunes/PR