Antônio Paulo , do BNC Amazonas em Brasília
Foi lançado nesta quinta-feira, dia 1º de abril, o Observatório Social da Petrobrás. E na inauguração das ações dessa nova organização da sociedade civil, o lançamento da campanha “Preço Justo Já! ”.
O movimento quer demonstrar que é viável comercializar o litro da gasolina a R$ 3,60, um valor bem abaixo do praticado hoje no mercado nacional.
“Vender a gasolina a um preço justo no Brasil é possível e depende, principalmente, da mudança na política de precificação da Petrobrás”, afirma o manifesto do Observatório.
De acordo com a entidade, esse novo valor traria benefícios à população, que tem sofrido com os reajustes sucessivos da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, sem colocar em risco a lucratividade da companhia, dos distribuidores e revendedores de combustível.
Preço de importação
A pesquisa parte de uma análise da estrutura de custos da Petrobrás, eliminando a política de preço de paridade de importação (PPI), modelo que a estatal utiliza desde 2016 para definir os valores dos combustíveis em suas refinarias.
Diz o estudo que, apesar de cerca de 80% dos derivados do petróleo serem produzidos hoje no Brasil, o PPI segue o mercado internacional e usa a cotação do barril de petróleo e do dólar, mais os custos da importação, que incluem transporte e taxas portuárias, como principais referências para o cálculo da gasolina, criando preços fictícios para o consumidor brasileiro.
Ganhos dos acionistas e multinacionais
“Essa formulação de preço faz com que a Petrobrás venda combustíveis produzidos no país como se fossem importados, privilegiando grandes acionistas e multinacionais com o reajuste dos valores”, afirma o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps).
Segundo ele, os acionistas da Petrobrás são beneficiados pelo crescimento do lucro e as empresas estrangeiras pela oferta de preços favoráveis, que lhes permitem ampliar as suas fatias do mercado nacional.
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Gastos com extração e refino
O estudo é fundamentado nos relatórios financeiros publicados pela Petrobrás e aponta que, mesmo com a disparada do dólar, os gastos com extração (lifting cost) e refino caíram e, em 2020, ficaram abaixo da média real dos últimos 16 anos.
Graças à descoberta do pré-sal, a estatal registrou em dezembro passado um custo de extração de petróleo por barril na ordem de R$ 67,60 e de refino, de R$ 8,67.
“É importante salientar que a maior parte do gasto em dólar da companhia concentra-se na extração, onde há maior demanda de serviços de empresas estrangeiras, como, por exemplo, o aluguel de plataformas”, ressalta Eric Gil Dantas.
Preço dos combustíveis estão muito voláteis por causa da paridade internacional Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/arquivo
Cálculo do valor real
Para chegar ao valor de R$ 3,60, a pesquisa se baseou em variáveis reais e não nas do mercado financeiro internacional.
O cálculo considerou o valor que a Petrobrás gasta para extrair petróleo no Brasil, mais os custos da importação de derivados e do refino e outros gastos, como custos de exploração e desenvolvimento, que não são divulgados pela empresa.
Para o Observatório, o resultado é um preço justo e praticável, que assegura à Petrobrás 100% de lucro operacional para a extração e o refino da gasolina.
Veja os números:
– Petrobrás – R$1,17
– Etanol – R$ 0,78
– ICMS – R$ 0,90
– Impostos federais – R$ 0,44
– Distribuição e transporte – R$ 0,30
– Total – R$ 3,60
Preços atuais dos combustíveis
Para fazer uma comparação do valor encontrado pelo estudo do Observatório Social da Petrobrás com os preços da gasolina praticados atualmente no Brasil, o BNC Amazonas verificou a Síntese Semanal do comportamento dos preços dos combustíveis, divulgada pela Agência Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Na última semana – entre 21 e 27 de março – o litro da gasolina comum mais caro do Brasil foi cobrado no estado do Acre, no valor médio de R$ 6,27, seguido do Rio de Janeiro, R$ 6,13%. O preço mais baixo foi verificado no Amapá, onde litro da gasolina tipo C ficou em R$ 4,93.
Gasolina cobrada no Norte
De acordo com a Síntese Semanal do comportamento dos preços dos combustíveis, da ANP, na última semana, o valor médio da gasolina tipo C nos sete estados da Região Norte ficou da seguinte maneira:
– Acre – R$ 6,27
– Tocantins – R$ 5,88
– Rondônia – R$ 5,72
– Pará – R$ 5,61
– Roraima – R$ 5,41
– Amazonas – R$ 5,25
– Amapá – R$ 4,93.
Amazonas tem a menor variação anual
O levantamento semanal da agência reguladora mostra ainda que mesmo o Amapá tendo o menor preço médio do combustível (R$ 4,93), o estado teve a maior variação de preço nos últimos 12 meses: 37,93%.
Tendo uma produção de petróleo e uma refinaria, o estado do Amazonas teve a menor variação no preço da gasolina, no último ano, de apenas 14,13% segundo a ANP.
O Amazonas também é o terceiro estado a ter o menor preço da gasolina comum. Só perde para o Amapá e o Maranhão.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil – 16/3/2021