Vacinação lenta faz acelerar mortes e contaminações por covid na Amazônia
Conclusões são de debate na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia, da Câmara dos Deputados

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 11/05/2021 às 16:50 | Atualizado em: 11/05/2021 às 17:23
A falta de atenção básica e a lenta vacinação são fatores que contribuíram para a aceleração das contaminações e mortes por covid (coronavírus) na Amazônia e em todo o país.
Essas foram as principais conclusões saídas do debate realizado nesta segunda-feira (10) na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (Cindra), da Câmara dos Deputados.
O debate foi uma proposta apresentada pelo deputado José Ricardo (PT-AM).
Segundo o parlamentar do Amazonas, “o caos instalado no país tomou proporção tão grande que pacientes morrem na fila à espera de um leito de UTI, hospitais alertam para a falta de insumos e até mesmo as funerárias falam em cancelar as férias de funcionários”.
O vice-presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Charles Cézar Tocantins, disse que a Amazônia é a região que tem a menor estrutura e investimentos na atenção básica à saúde.
Ele lembrou também que em vários municípios de comunidades ribeirinhas há uma defasagem de informações devido à falta do censo demográfico atualizado, o que implica na ausência de investimentos suficientes na área da saúde.
Para Charles Cézar, a vacinação e o chamamento dos profissionais do programa “Mais Médicos” é a solução para combate à doença na Amazônia.
Dados da covid na Amazônia
Segundo informações apresentadas na audiência pública, a Amazônia brasileira registrou até 1º de maio deste ano pouco mais de 2 milhões dos 14,7 milhões de casos de covid-19 em todo o território nacional.
A taxa de incidência em torno de 7,5 mil casos para cada 100 mil habitantes, acima da média nacional (6,9 mil casos/100 mil).
Já as mortes, mais de 54 mil dos 406,4 mil vítimas fatais no Brasil, também aparecem acima da média, quando comparadas às taxas de letalidades na região, em torno de 195,4 para cada 100 mil contra 191,9/100 mil (taxa nacional).
Vacinação e leitos de UTI
No debate com os especialistas, autoridades de saúde e entidades, José Ricardo cobrou aceleração no Plano Nacional de Imunização (PNI) contra a covid-19 e mais disponibilidade de leitos de UTI para a Amazônia, principalmente para o Amazonas, o estado que mais sofreu com a pandemia este ano.
“Tivemos uma experiência dura e dolorosa. Por isso, queremos saber o que o governo federal está fazendo para evitar novamente essa situação, caso tenhamos uma terceira onda da doença, como apontam alguns pesquisadores, principalmente porque há uma grande demora na vacinação no estado”, disse José Ricardo.
O deputado quis saber o que o governo vai fazer sobre a questão da logística para chegar auxílio à população ribeirinha e demais povos floresta.
Ele também chamou atenção para a falta de leitos de UTI nos municípios do interior do Amazonas e em toda a região.

Sobre a capital Manaus, José Ricardo informou que o sistema de saúde não aguenta tanta demanda, o que tem acarretado em filas de espera para leitos de UTI.
Saúde indígena
Já o secretário Especial de Saúde Indígena (Sesai), Robson Santos, afirmou que o governo federal tem apenas obrigação com a saúde dos indígenas aldeados e a responsabilidade com os indígenas que estão nas cidades é das prefeituras.
Ao defender o governo federal, Santos disse que a Presidência da República tem repassado recursos aos municípios de acordo com número declarado de indígenas. E, na avaliação dele, a vacinação na região está avançada, bem como a taxa de mortalidade de indígenas por covid-19 vem reduzindo drasticamente em 2021, nesta segunda onda da pandemia.
Denúncias da frente parlamentar
O vice-coordenador da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas, da Câmara dos Deputados, deputado José Ricardo, rebateu as informações do dirigente da Sesai.
Segundo ele, a frente parlamentar tem recebido inúmeras denúncias sobre a falta de ações efetivas no combate e controle da covid-19 entre os povos indígenas.
Da mesma forma, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) também já denunciou que a doença já causou 760 mortes e infectou em torno de 33 mil indígenas desde o início de fevereiro deste ano em toda a região.
“Portanto, vamos continuar cobrando, no Congresso Nacional, mais vacinas e políticas efetivas de enfrentamento aos povos originários da Amazônia”, declarou José Ricardo.
Foto: Marcely Gomes/Semcom