Deputado quer ex-prefeito de Manaus na CPI para explicar suspeitas
Segundo Ricardo Nicolau, o ex-prefeito deve dar explicações das ações, gastos e contratos milionários realizados em sua administração de 2020

Publicado em: 27/05/2021 às 19:30 | Atualizado em: 27/05/2021 às 19:31
O deputado estadual Ricardo Nicolau (PSD) defendeu nesta quinta-feira, (27), na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), a convocação do ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, à CPI da Covid-19, no Senado.
Segundo Nicolau, o ex-prefeito deve dar explicações das ações, gastos e contratos milionários realizados por sua administração em 2020.
Da tribuna, o parlamentar levantou suspeitas dos crimes de sobrepreço e superfaturamento sobre diferentes contratos firmados pela gestão anterior da prefeitura de Manaus a partir do início da crise de Covid-19. Nesse período foram decretados estado de emergência e calamidade pública na capital.
“O ex-prefeito Arthur Neto tem muito a explicar à CPI da Pandemia e ao povo de Manaus. Ele precisa explicar o que foi feito de verdade, não aquelas explicações midiáticas, mas na prática: o que foi realizado e o que foi deixado para a nova administração enfrentar esse grave problema. Ele é um ‘leão’ para defender seu enteado, mas ele vira uma ‘coala’ para defender os interesses de Manaus”, afirmou.
Ricardo Nicolau relatou que, após fazer uma consulta ao site da prefeitura de Manaus, foi surpreendido pelos valores divulgados pela administração de Arthur Neto. A gestão alega ter gastado o montante de R$ 14,5 milhões somente com o extinto Hospital de Campanha Gilberto Novaes.
Para o deputado, as quantias e quantidades declaradas devem ser investigadas. Ele diz que não condizem com a realidade da unidade que operou por 71 dias.
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Contratos devem ser investigados
De acordo com dados oficiais, o contrato de lavanderia hospitalar de Arthur Neto pagou R$ 11 pelo quilo da roupa suja. Por outro lado, o preço praticado no mercado chega a pouco mais de R$ 3, conforme o deputado.
Para esterilização de materiais hospitalares, a gestão de Arthur gastou R$ 500 mil. Trata-se, portanto, de valor dez vezes maior que o necessário para atender à demanda da unidade. Já a limpeza do hospital consumiu R$ 3 milhões dos cofres públicos.
“Milhões para a limpeza de um hospital temporário, de um andar só, um hospital grande, mas não tanto para esse valor”, apontou.
Com o medicamento azitromicina, Arthur Neto torrou R$ 850 mil para a compra de 250 mil comprimidos.
“Eu afirmo que não entraram mais que cinco mil comprimidos no hospital de campanha”, garantiu Ricardo Nicolau. A princípio, o parlamentar atuou como coordenador da unidade pela iniciativa privada.
“A prefeitura comprou 250 mil comprimidos, o que era para pagar no máximo R$ 500 na caixa, pagou R$ 1.500.”
Além disso, o contrato para aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) chegou a R$ 3 milhões.
“Não existe a mínima possibilidade de se gastar R$ 3 milhões de EPIs naquele hospital que atendeu pouco mais de 750 pessoas. Seria em torno de R$ 4 mil por paciente só com EPIs. Não há a mínima possibilidade”, criticou.
“Eu nunca vi tamanho descaramento e certeza de impunidade. Tudo isso me chamou atenção porque eu estava ali no dia a dia e a prefeitura muito pouco aparecia. O prefeito Arthur, em vez de ter cuidado das pessoas, achou na pandemia uma maneira de se beneficiar. Ele tem muito a esclarecer: a omissão, a negligência, a corrupção e o que ele fez para a segunda onda”, pontuou.
Responsabilidade pela 2ª onda
Conforme Nicolau, é preciso apurar as responsabilidades pelas falhas na condução da pandemia que tornaram o Amazonas campeão mundial em mortes por Covid-19. Dessa forma, deve-se incluir nas investigações o ex-prefeito Arthur Neto, que administrou a capital durante toda a primeira onda e o início da segunda.
Além disso, para o deputado, o fechamento precoce do hospital de campanha contribuiu para a gravidade da segunda onda.
“Ele mesmo (Arthur) falava que acreditava na segunda onda e mesmo assim mandou fechar o hospital de campanha que estava pronto, preparado, com 180 leitos para atender à população. Eu nunca vi poder público fechar hospital. Se ele achava que haveria a segunda onda, por que fechar o hospital?”, questionou o parlamentar.
Foto: Danilo Mello/ALE