A jornalista Maria Cristina Fernandes, do Valor , analisa os pedidos de forças federais do Amazonas contra a onda de violência que começou no sábado (5) em Manaus e alguns municípios.
Conforme a análise, esse pedido de socorro federal, em suma, pode significar a capitulação do poder civil às Forças Armadas .
Particularmente sobre a anunciada intenção do prefeito de Manaus de pedir operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), a avaliação do jornal considera a medida como a que mais tem contribuído para a politização dos quartéis.
Tomando o Rio de Janeiro por exemplo, a GLO apenas impôs a descontinuidade da dinâmica dos negócios entre milicianos, tráfico e policiais. Tudo foi retomado depois do fim da operação, em 2019. E com mais força, como a cobrança pelas milícias até para o uso de internet.
Nunca é demais lembrar que quem comandou a intervenção federal no Rio foi o atual general-ministro da Defesa, Walter Braga Neto.
Ao assumir o comando da Secretaria de Segurança Pública carioca, no primeiro mês da GLO, o general viu a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes serem assassinados. E por ex-policiais, agora milicianos.
“Uma operação do gênero no Amazonas teria o agravante de recolocar as Forças Armadas no comando do palco de operações que tanto desgastou a imagem da corporação na pandemia”.
O texto da matéria do Valor considera que a CPI da covid está empenhada em provar que Manaus foi laboratório do Exército de Bolsonaro e Pazuello para experiências de imunidade de rebanho e “tratamento precoce” do coronavírus com o uso de cloroquina.
“Se Manaus desencavar uma GLO, à incúria da pandemia se acrescerá às Forças Armadas o risco de uma operação em momento explosivo de politização das forças de segurança por um presidente da República em confronto desenfreado com as instituições”.
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A raposa e as galinhas
Dessa forma, o prefeito que derrotou o candidato bolsonarista nas eleições de 2020 estaria entregando o galinheiro à raposa.
Contudo, como o pedido formal da GLO não teria sido feito até o final da tarde desta segunda (7), ainda haveria chance de Manaus evitar os riscos apontados com a intromissão federal na segurança pública.
Afinal de contas, se há alguma procedência da denúncia feita em comunicado atribuído à facção que praticou os atos de violência no Amazonas, a capital pode estar sendo palco de disputa entre o tráfico de drogas e setores da polícia supostamente tomados pelas milícias.
Situação, portanto, muito semelhante à que levou o Rio a sofrer uma GLO que pouco contribuiu no combate às milícias.
Foto: BNC Amazonas