Fraco, frio, inseguro, evasivo e mentiroso. Esses foram os adjetivos nada positivos que os senadores da CPI da covid tacharam o ex-secretário de saúde do Amazonas, Marcellus Campelo.
Campelo passou sete horas depondo na comissão parlamentar de inquérito do Senado nesta terça-feira, dia 15.
A calma do ex-secretário, que não se exaltou em nenhum momento diante da inquirição, irritou os membros da CPI. Senadores chegaram a dizer que ele é responsável pelas mortes no Amazonas e que responderá na Justiça pela falta de oxigênio, ocorrida em janeiro deste ano, assim como por toda a crise sanitária provocada pelo coronavírus.
“O senhor veio aqui nesta CPI e durante todo esse tempo não influiu nem contribuiu para as investigações desta comissão. Quero que o senhor saiba que poderá responder perante a Justiça por toda as ações ocorridas no estado do Amazonas”, disse o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), ao final da sessão.
Ao questionar Campelo, a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) disse ficar constrangida diante da calma ou frieza do depoente. “Confesso que eu não conseguiria ficar como vossa senhoria. Mas, essa atitude é um mau sinal, pois, a covardia é a mãe da crueldade, principalmente diante do que ocorreu no estado do Amazonas”, disse.
O último senador a interrogar Campelo, Jorge Kajuru (Podemos-GO), fez uma única pergunta: se o depoente mentiu em algum momento do interrogatório.
Ao negar ter mentido sobre suas respostas curtas e evasivas, Kajuru encerrou dizendo: “Se fosse da Justiça do Amazonas eu mandaria prender, em definitivo, o ex-secretário Marcellus Campelo e o governador Wilson Lima”.
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Evidências de Campelo
Embora, sem causar comoção no Senado nem alterar a voz contra os membros da CPI, Campelo deu dicas importantes que poderão ajudar o relator Renan Calheiros (MDB-AL).
Por exemplo, ele confirmou o envio de documento ao Ministério da Saúde antes da falta de oxigênio em Manaus, ocorrida a partir de 10 de janeiro.
Outro fato confirmado por Campelo foi a realização do evento, coordenador por Mayra Pinheiro, do Ministério da Saúde, para promover o medicamento hidroxicloroquina no atendimento aos pacientes do Amazonas.
Abastecimento de oxigênio
Questionado pelo senador Telmário Mota (Pros-RR) sobre a possiblidade de uma nova crise no desabastecimento de oxigênio no Amazonas, o ex-secretário reconheceu que há essa possibilidade. Mas, o Governo do Estado está preparado, com seu plano de contingencia, para uma terceira onda de covid e uma possível falta de oxigênio, principalmente na questão da logística, segundo ele.
Campelo lembrou que houve um aumento de 8 mil metros cúbicos de CO2 desde a última crise até o momento, mas a empresa White Martins, responsável pela produção e distribuição tem armazenado 36 mil metros cúbicos.
“Somando-se às usinas de oxigênio instaladas, a nossa capacidade total está hoje em 66 mil metros cúbicos de oxigênio, volume que consegue fazer o abastecimento necessários às nossas unidades de saúde.
Operação Sangria
Durante o interrogatório, Marcellus Campelo não foi poupado de responder sobre a operação Sangria, da Polícia Federal, que o levou à prisão e mais dois outros ex-secretários de saúde.
“Fui de alvo prisão temporária sob três acusações: contratação fraudulenta do hospital de campanha Nilton Lins, de empresa de radiologia, conservação e limpeza. Mas, quero dizer essas contratações não foram concretizadas nem foi feito pagamento de nenhum centavo pelo governo do estado”, declarou Marcellus Campelo.
Sobre o envolvimento do governador Wilson Lima (PSC) e do vice-governador Carlos Almeida (PSDB), o ex-secretário disse aos membros da CPI que não tinha conhecimento do processo.
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado