O integrante do coletivo “Revolução Periférica” Paulo Roberto da Silva Lima, conhecido “Galo”, disse, nesta quarta-feira (28), que seu ato de ajudar a incendiar a estátua do bandeirante Borba Gato foi para abrir o debate sobre “um genocida e um abusador de mulheres”.
A Justiça do Estado de São Paulo expediu, hoje, mandados de prisão contra ele e a esposa Géssica. Galo é também entregador de aplicativo, conforme a reportagem do Brasil de Fato.
Os mandados ocorreram após ele se apresentar voluntariamente ao 11º Distrito Policial de Santo Amaro.
O Polícia Civil de São Paulo investiga os supostos envolvidos no fogo ateado em volta da estátua de Borba Gato, no último sábado (24), na zona sul de São Paulo.
O “Revolução Periférica” já assumiu a autoria do ato, que, segundo o portal Brasil de Fato, não causou qualquer dano estrutural ao monumento, feito de concreto e revestido de cerâmica.
Galo assumiu ser um dos autores do protesto. Já sua esposa sequer estava presente no local na hora do incidente, conforme diz a publicação.
A juíza substituta Gabriela Marques da Silva Bertoli é quem assina os mandados de prisão.
A polícia faria uma busca e apreensão na casa do manifestante nesta quarta. Para tanto, contou com a colaboração do próprio Galo, conforme informa nota da defesa do entregador de aplicativo.
“O mandado de busca e apreensão para a residência de Paulo havia sido expedido para o local errado e Paulo apresentou seu endereço correto, autorizando e possibilitando a entrada em sua residência para possíveis buscas.”
Abrir debate
Ao chegar à delegacia, Galo fez uma breve manifestação sobre seu pensamento:
“O ato que foi feito no Borba Gato foi feito para abrir um debate. Em nenhum momento aquele ato foi feito para machucar alguém ou querer causar pânico na sociedade”, disse Galo.
Paulo Roberto da Silva, o “Galo” Foto: Brasil de Fato/Zé Bernardes/reprodução
E o incendiário prosseguiu: “E o debate foi aberto. Aqueles que dizem que tem que fazer pelas vias democráticas, a gente buscou fazer isso. Abriu o debate para que esse debate ocorra e as pessoas agora possam decidir se elas querem uma estátua de 3 metros de altura que homenageia um genocida e um abusador de mulheres”.
Movimento contra estátuas
A ato do último sábado na estátua de Borba Gato faz parte de uma série de ações que defendem a derrubada de monumentos que exaltam personagens da escravização de povos afrodescendentes e indígenas.
No caso de Manuel de Borba Gato, ele fez fortuna, na segunda metade do século 17, ao caçar indígenas pelo sertões do país para escravizá-los, conforme o texto do Brasil de Fato.
Em setembro de 2016, quando teve início este movimento, a estátua do bandeirante amanheceu manchada de tinta, num repúdio a sua figura, assim como o Monumento às Bandeiras, na Praça Armando Salles de Oliveira, no Ibirapuera, também na zona Sul de São Paulo.
Outros envolvidos
A decisão de se apresentar à polícia veio depois que advogados localizaram um pedido de prisão temporária em tramitação contra Galo, e depois da prisão em suposto “flagrante” – ocorrida 12 horas após o incidente – de Thiago Vieira Zem, que teria sido o responsável por dirigir o caminhão utilizado para levar as pessoas e os pneus até o local da manifestação. Zem já foi liberado.
Danilo Silva de Oliveira, conhecido como Biu, também se apresentou de forma espontânea ao DP nesta quarta, assumindo sua participação no ato de sábado.
Ao chegar ao local, ele afirmou que “favelado nunca teve voz” e que, com o ato, eles buscam debater sobre ter um monumento homenageando uma pessoa que foi responsável por muitas mortes.
De acordo com Jacob Filho, advogado de Galo, a defesa já esperava que fosse expedido um mandado contra o entregador, que confirma ter participado do ato.
Porém, ele diz que não é razoável prender a esposa dele, que nem estava no local. “Prender uma mãe com um filho de três anos é absolutamente sem sentido. Ela sequer estava presente. Não conseguimos entender a razão de tudo isso”, disse.
Segundo o advogado, o motivo pelo qual Géssica está sendo envolvida no caso é que o telefone celular usado por Paulo em que constavam mensagens sobre a organização do ato estava no nome da esposa. Para ele, a situação não faz sentido. Afinal, ela não estava envolvida na ação.
Com informações do Brasil de Fato
Foto: Jovem Pan/reprodução