A luta pela nossa humanidade

Refiro-me aos valores imprescindĂ­veis para construĂ§Ă£o de uma sociedade fraterna, solidĂ¡ria e justa

Por LĂºcio Carril

Publicado em: 12/05/2022 Ă s 19:01 | Atualizado em: 12/05/2022 Ă s 19:22

NĂ£o tem sido fĂ¡cil a construĂ§Ă£o da nossa humanidade. Continuamos cedendo Ă  barbĂ¡rie e aquilo chamado de processo civilizatĂ³rio vive sob as pancadas das guerras, do racismo, do preconceito, da destruiĂ§Ă£o do meio ambiente e da violĂªncia generalizada.

Temos no mundo, hoje, cerca de 28 conflitos armados, 800 milhões de pessoas passando fome, hĂ¡ genocĂ­dios de jovens e negros em muitos paĂ­ses, incluindo o Brasil, onde um jovem Ă© assassinato a cada 17 minutos. A escravidĂ£o ainda Ă© uma realidade, mesmo que ilegal. O feminicĂ­dio e a violĂªncia contra a mulher continuam encontrando guarida em muitas sociedades. Enfim, cadĂª nossa tĂ£o almejada humanidade? CadĂª nossos valores humanos de amor, justiça e tolerĂ¢ncia?

Tenho acompanhado aqui no Brasil as campanhas em defesa da vida, em particular aquelas que deram cores aos meses do ano. Tenho visto o empenho do movimento feminista e da sociedade civil organizada no combate ao feminicĂ­dio. Louvo as campanhas de educaĂ§Ă£o no trĂ¢nsito. Defendo as jurisprudĂªncias de condenaĂ§Ă£o do preconceito aprovadas na suprema corte.

O problema Ă© que tudo isso tem se mostrado inĂ³cuo diante do crescimento das vĂ¡rias formas de violĂªncia. EstĂ¡ sendo fĂ¡cil para o rebotalho que governa o paĂ­s implementar seu projeto de destruiĂ§Ă£o cultural. NĂ£o se trata apenas de uma questĂ£o polĂ­tica. O que estĂ¡ em jogo Ă© a civilizaĂ§Ă£o ou a barbĂ¡rie. E o retorno Ă  barbĂ¡rie tem milhões de defensores distribuĂ­dos por todas as classes e segmentos sociais.

O que fazer, entĂ£o, para defender os melhores valores do ser humano?

É preciso, de imediato, degolar a cabeça do monstro e interromper seu crescimento. Para destruir seu corpo e retomarmos o processo civilizatĂ³rio, o colocando num caminho irreversĂ­vel, serĂ¡ necessĂ¡rio iniciar a construĂ§Ă£o da cidadania das novas gerações.

É na educaĂ§Ă£o que vamos extirpar das relações sociais o feminicĂ­dio, o racismo, o preconceito e todas as mazelas que impedem o ser humano de construir sua humanidade. Isso serĂ¡ possĂ­vel com a humanizaĂ§Ă£o do processo educativo, atravĂ©s das disciplinas responsĂ¡veis pela reflexĂ£o crĂ­tica do mundo e das relações entre as pessoas; da missĂ£o humana na construĂ§Ă£o do amor, do bem e da felicidade.

O investimento em educaĂ§Ă£o nĂ£o pode ter teto. Dele depende o futuro. Mas a educaĂ§Ă£o precisa fazer do ser humano um ser do amor e nĂ£o da guerra e da intolerĂ¢ncia.

É inadiĂ¡vel a retomada da civilizaĂ§Ă£o, a derrota da barbĂ¡rie e a instauraĂ§Ă£o de uma visĂ£o de sociedade e de mundo, onde a arte, em toda sua dimensĂ£o, e a ciĂªncia sejam partes intrĂ­nsecas de  uma nova educaĂ§Ă£o, humanizante e libertadora.

O autor Ă© sociĂ³logo.

Foto: AgĂªncia Brasil