Por Lúcio Carril*
A Amazônia virou um objeto de projeção mundial do presidente Lula.
Ele está usando a Amazônia para questionar a divisão internacional do trabalho. Está certíssimo. Se o mundo compreender que desse bioma depende a existência do planeta, nada mais correto do que questionar a distribuição de riqueza no mundo.
Só que essa instrumentalização é falaciosa. O governo Lula não tem um plano de preservação da Amazônia. Não tem por um motivo simples: não existe uma política de atendimento aos quase 30 milhões de habitantes da região, tampouco à sua diversidade étnica.
Lula está usando a Amazônia para se projetar internacionalmente. Só isso.
Esse discurso de pressionar o mundo para investir na Amazônia não tem sustentação na realidade. Para onde vai esse recurso todo, já que não há um projeto que envolva todas populações nativas?
Só no Amazonas, mais da metade da população vive em situação de insegurança alimentar. Qual é o projeto para pegar essa grana do Fundo Amazônia e fazer superar essa barbárie?
Enquanto governos olharem a Amazônia como um espaço da economia, nós, povos que moramos aqui, estaremos vulneráveis ao ataque implacável do capital. Sempre foi assim.
A Amazônia é nosso lar e não moeda de troca ou objeto da vaidade de governante.
Aqui moram cerca de 160 povos indígenas e outros tantos quilombolas, e temos milhares de comunidades de pescadores, ribeirinhos, agricultores familiares e extrativistas. Somos gentes e não números.
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Não existe um projeto para aplicar os recursos destinados por vários países para fazer superar a pobreza na nossa região.
Quem mantém a floresta em pé e os rios limpos são as populações tradicionais. Se não houver uma política pública estruturante para esses povos não vamos ter preservação ambiental.
Acredito na sensibilidade do presidente Lula e espero que passe a olhar a Amazônia como espaço de vida de milhões de brasileiros e não como objeto de valor econômico.
*O autor é sociólogo
Foto: Ricardo Stuckert/PR