Faltando poucos dias para a eleição no Brasil, a cúpula do Parlamento Europeu realizou, nesta segunda-feira (26), uma série de reuniões com líderes indígenas do país para mostrar solidariedade aos povos tradicionais e declarar repúdio ao governo de Jair Bolsonaro . O brasileiro chegou a ser chamado no Parlamento Europeu de “irresponsável” e “neofascista”, além de ser denunciado por seu desmonte da Funai e das medidas de proteção de direitos humanos.
Um dos eventos também contou com um relator da ONU, que acusou a administração brasileira de “fracassar” na proteção dos povos indígenas.
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Uma delegação que representa os povos Yanomami, Kayapó, Munduruku e Yekwana foi recebida no Parlamento Europeu, em Bruxelas.
Oficialmente, o tema era apresentar uma denúncia sobre a inadimplência do governo brasileiro em relação a uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, do dia 2 de julho passado, que dava prazo ao governo brasileiro até 20 de setembro para tomar medidas cautelares de proteção das comunidades indígenas ameaçadas pelo garimpo ilegal na Amazônia.
Relatores da ONU também criticam Bolsonaro
José Francisco Cali, relator da ONU para o direito dos povos indígenas, também participou do encontro e denunciou a falta de demarcação de terras, a criminalização dos povos indígenas, o desmonte da Funai e a impunidade. Para ele, o governo “fracassou em proteger os indígenas de invasões ilegais”.
Já o relator da ONU para questões de meio ambiente, Marco Orellana, também denunciou Bolsonaro por ter adotado “atos irresponsáveis”.
Os indígenas ainda foram recebidos em Bruxelas pela presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola. A denúncia ainda foi levada para a chefia da Divisão da América do Sul da Comissão Europeia, o braço executivo do bloco.
A delegação conta com Maurício Yekwana, presidente da associação Hutukara, que reúne os Yanomami e Yekwana, além de Patxon Metuktire, representante das associações que reúnem os Kayapó e o cacique Yabuti Metuktire, representando o conjunto da Aliança que reúne os quatro povos e parente do cacique Raoni.
O tradicional líder indígena que chegou a ser apresentado como candidato para o prêmio Nobel da Paz não pode participar da missão por ter sido submetido a uma cirurgia na semana passada.
A pressão sobre o governo continuarão nesta terça-feira, desta vez em Genebra no Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Na sessão oficial da ONU, Maurício Yekwana alertará sobre o agravamento da “situação de violência, depredação ambiental e impunidade” na terra indígena Yanomami, enquanto Patxon Metuktire solicitará apoio da comunidade internacional para que os índios “possam viver em paz pois não representam um obstáculo para o desenvolvimento”.
Os indígenas apresentarão a situação de violação de direitos humanos na Amazônia brasileira num evento específico organizado na sede da ONU pela ONG No Peace Without Justice. Eles ainda serão recebidos pelo Relator Especial da ONU sobre Povos Indígenas, Cali Tzay, pelo diretor do Alto Comisariado pelos Direitos Humanos da ONU, Hernan Vales, e pelo Relator Especial da ONU sobre Substâncias Tóxicas, Marcos Orelllana, em função da contaminação por mercúrio causada pelo garimpo ilegal.
A missão dos indígenas conta com o apoio da No Peace Without Justice, da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, do Instituto Raoni, do Instituto Kabu e da associação Hutukara
Leia mais na coluna do Jamil Chade no portal UOL
Foto: reprodução/youtube