Fome de 125 milhões é ignorada por Bolsonaro, mas debate vai lembrar

Na estreia da propaganda eleitoral, assunto que mais aflige o brasileiro não mereceu atenção do candidato à reeleição. Ele agora quer falar de vacina

Em 2022, a fome no Brasil gerou 1 milhão de menores desnutridos

Aguinaldo Rodrigues, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 28/08/2022 às 11:38 | Atualizado em: 28/08/2022 às 11:38

O atual presidente do país, Jair Bolsonaro (PL), que busca mais quatro anos de mandato, ignorou o tema que mais perturba o brasileiro hoje: a fome de 125 milhões. Ele não abordou o assunto na estreia da sua propaganda eleitoral. Contudo, isso não deve passar batido no primeiro debate desta eleição, na noite de hoje (28), na TV Band.

Conforme dados atualizados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, de junho deste ano, o país tem 125 milhões de brasileiros passando fome. Desses, 33 milhões em insegurança grave, ou seja, passando fome.

A abordagem da gravidade do assunto é uma exigência diante do avanço da pobreza no país, e também porque o Brasil é, ao lado de China, Índia e Estados Unidos, dos maiores produtores de alimentos do mundo. Sobretudo na produção de proteína animal (boi e frango), em que assume as primeiras posições globais. 

Apesar disso, Bolsonaro, porém, preferiu investir em assunto vencido e também ignorado por ele quando se fez necessária, que foi a compra de vacinas contra a covid-19. 

Diretamente mesmo, só os candidatos Lula da Silva (PT) e Soraya Thronicke (União Brasil) trataram da fome na estreia da propaganda no rádio e TV. Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) falaram de alimentos, mas só quanto à inflação.

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Lula, por exemplo, fez um questionamento a Bolsonaro: “Como é que este país tão rico retrocedeu tanto? Como pode um governante não se importar com o sofrimento de tanta gente?”. 

Além de ignorar os 33 milhões de brasileiros passando fome, Bolsonaro ainda fez deboches durante a semana dos mais necessitados.

Na sabatina no “Jornal Nacional”, da TV Globo, disse que os números da economia no seu governo são “fantásticos”. Nesta sexta (26), novamente renegou a gravidade da fome no Brasil. Foi no programa “Pânico”, da rádio Jovem Pan, quando se saiu com essa pergunta aos entrevistadores: “Vê alguém pedindo pão?”.

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Dever recordar a triste história da vacina

Outro tema que Bolsonaro deve ser fortemente confrontado no debate, e que é o que ele vem explorando mais neste momento, é o da compra de vacina.

Apostando que o eleitor já esqueceu o horror vivido pelo Brasil, Bolsonaro investe em afirmar que seu governo comprou 500 milhões de doses de vacinas.

Seus adversários, contudo, devem lembrar os eleitores a campanha que o presidente do país fez contra a vacina. Por exemplo, criticando em dezembro de 2020 a “pressa pela aprovação de uma vacina”. “A pressa pela vacina não se justifica, porque você mexe com a vida das pessoas”.

Não bastasse isso, ignorando as estatísticas e registros oficiais, afirmou que a pandemia estava chegando ao fim.

Pouco tempo depois, por conseguinte, nos primeiros meses de 2021, veio a explosiva segunda onda de mortes em todo o país. Só no Amazonas, por exemplo, morriam centenas por dia. 

Dessa forma, seus adversários, principalmente Simone Tebet, que participou ativamente da CPI da covid, deve lembrar que Bolsonaro ignorou pelo menos três propostas para o país ter vacina ainda em 2020.

Ademais, é dever dos candidatos concorrentes de Bolsonaro, já que ele mesmo jamais faria isso, trazer à memória que o brasileiro só começou a ser vacinado graças à ação do Governo de São Paulo. 

Não fosse, portanto, a encomenda da “chinesa” coronavac, produzida pelo Instituto Butantã, a imunização que salvou milhares de vidas não teria começado em 17 de janeiro de 2021. Contra a vontade de Bolsonaro.

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