Lava Jato deve temperar campanha ao Senado no Amazonas

caixa-preta

Publicado em: 20/05/2018 às 11:32 | Atualizado em: 20/05/2018 às 11:36

Da Redação

A abertura de inquérito na Lava Jato para investigar pagamento de propina ao senador Eduardo Braga (MDB), como forma de manter o apoio dele ao PT e a ex-presidente Dilma Rousseff no Amazonas em 2014, deve turbinar a campanha que coloca em disputa as duas vagas ao Senado em 2018.

As citações na Lava Jato, mesmo sem abertura de inquérito, foram armas apontada para a cabeça de Braga durante toda a eleição suplementar pelos adversários, em 2017.

Na ocasião, a avaliação de quem estava na coordenação da campanha dele e dos adversários foi que a bala não precisou sequer ser disparada. O tema não ocupou  a propaganda gratuita nem panfletagens apócrifas, como é comum.  O conteúdo negativo e o efeito devastador na imagem de  Braga estava na percepção do eleitor em  função do noticiário nacional e diário  sobre a Lava Jato.

Um dos problemas, segundo avaliação de especialistas que atuaram na campanha do senador ao governo, é que, por não ter sido ofendido pelos adversários, Braga não encarou a questão na campanha. Isso foi considerado um erro.

Tanto que inspira outras reações neste pleito. O senador Omar Aziz (PSD), que é pré-candidato ao governo, já saiu da toca se explicando e  apresentando  argumentos em seu favor de forma repetitiva.

Adversários

O outro fator que indica que a Lava Jato vai temperar a campanha ao Senado é que os dois nomes que aparecem na frente nas pesquisas pré-eleitorais para o cargo, assim como Braga, Alfredo Nascimento (PR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB) têm usado como mote de pré-campanha que o nome deles não está na Lava Jato.

É que as citações que chegaram a envolver o nome dos dois eram de denúncias de Caixa 2 em campanha e foram retiradas do âmbito da operação que mais prendeu políticos na história do País. No entanto, os procedimentos prévios à abertura de inquérito contra os dois prossegue no Supremo Trindade Federal (STF).

Alfredo Nascimento

O deputado federal e pré-candidato ao Senado Alfredo aparece na delação de executivos da Odebrecht entre os políticos que receberam recursos não contabilizados em campanha. Os documentos da Odebrecht indicam que Alfredo recebeu R$ 200 mil da empreiteira a pedido do deputado mineiro do PR Milton Monti.

Alfredo nega a acusação e diz que, na verdade, quando era ministro dos Transportes acabou com o “cartel de grandes empresas” na pasta e por isso passou a ser atacado pelas empreiteiras.

Vanessa Grazziotin

O executivo da construtora Odebrecht Fernando Reis afirmou que, na campanha de 2012 e “a pretexto de doação para campanha”, a senadora recebeu R$ 1,5 milhão sem registo oficial na justiça eleitoral. A delação diz que o marido de Vanessa, o ex-deputado estadual Eron Bezerra (PCdoB), fez o pedido à Odrebrecht.

O dinheiro teria saído do Setor de Operações Estruturadas da empresa e o repasse registrado no sistema “Drousys”. Na 26ª fase da operação Lava Jato, chamada Xepa, o setor foi apontado como o “departamento de propina” organizado e estruturado da empresa.

A  senadora  diz  que o delator mentiu e que está conseguindo comprovar tudo no  inquérito.

Eduardo Braga

No âmbito da Lava Jato, Braga foi citado nas delações do ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, e do ex-diretor de relações institucionais da J&F, Ricardo Saud, como um dos senadores que recebeu propina em 2014 a título de ajuda para a campanha. A denúncia dos delatores indica que Braga recebeu R$ 6 milhões em propina justificada como gastos em viagens aéreas na campanha.

O senador Eduardo Braga também foi citado na delação da empreiteira Odebrecht. Em sua delação, o ex-diretor de Projeto de Infraestrutura da Camargo Corrêa, Arnaldo Cumplido, revelou um “ajuste” entre o Grupo Odebrecht e o então governador Eduardo Braga para que fossem feitos pagamentos em seu favor, relativos à obra da Ponte do Rio Negro.

A delação  aponta pagamento de propina no valor de R$ 1 milhão e também afirma que os repasses continuaram a ser feitos após a saída de Braga do governo, envolvendo seu sucessor Omar Aziz (PSD) no caso.

Ex-executivo da Andrade Gutierrez Clóvis Primo revelou aos procuradores, em 2016, que pagaram propina para serem os  executores da obra Arena da Amazônia ao Governo do Amazonas e que pagar propina ao Governo do Amazonas era rotina. As informações foram publicadas pela primeira vez pelo Jornal Hoje da TV Globo.

Primo, na delação, disse que obteve informações privilegiados do governo e que inclusive ajudou a construir o edital de licitação de forma a ficar mais “fácil” para a construtora vencer a concorrência.

O delator disse que combinações prévias à obra da Arena davam à Andrade Gutierrez vantagens no Estado em função de acordo com o então governador Eduardo Braga de pagamento de propina de 10% para cada obra realizada pela construtora no Estado durante a gestão do ex-governador.

Na ocasião, Primo disse que Braga fazia “ameaças” se houvesse atraso no pagamento da propina e que ele era “jogo duro”. A Andrade Gutierrez foi responsável pela obras do Prosamin em Manaus, marca do Governo Braga, que contaram com recursos de empréstimos internacionais e custaram mais de R$ 400 milhões ao Estado. Outro executivo disse que foram pagos de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões ao ex-governador.

Clóvis Primo disse que quando houve a troca de governo tentou “negociar” redução do pagamento da propina com o sucessor de Braga, Omar Aziz. Mas que o mesmo se exaltou, disse ter “compromissos” e depois aceitou. Os delatores indicaram pagamento de R$ 18 milhões a Omar Aziz.

Ambos negam todas as acusações.

Foto: Agência Senado