Um parecer do PGR (Procuradoria Geral da República), uma liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) e um estranho comunicado seguido de uma republicação de decisão, emitidos praticamente em menos de 24 horas, causaram confusão, boatos e desinformação na mídia e na população a respeito do futuro administrativo e político do Amazonas.
O Estado vive hoje uma crise severa em vários setores em função, em grande parte, da instabilidade provocada por ações judiciais e a lentidão do judiciário para uma decisão definitiva sobre a chefia do Governo do Estado.
Após decisões, publicações e comunicados que ora devolviam o governo a José Melo (Pros) e ora o deixavam na mão de David Almeida (PSD), a última decisão do ministro do STF Ricardo Lewandowski, a ser publicada nesta sexta-feira, 30, pôs um fim na confusão.
E segurou o deputado estadual e presidente da ALE-AM, David Almeida, no exercício do cargo de governador do Estado sem que ele tenha recebido nenhum voto para a função.
O teor da última decisão é exatamente o mesmo divulgado por advogados contratados pelo PTN/Podemos na noite de quarta-feira, 28, que foi espalhado e defendido com veemência por aliados de David Almeida do início ao fim da confusão.
Embora todo o resto das informações dos juristas estivesse equivocada e distante da realidade dos fatos porque se referiam a outro processo cujo parecer da Procuradoria-Geral da República havia vindo a público horas antes.
A decisão do ministro atendeu, na verdade, a um pedido apresentado pelo advogado do vice-governador cassado Henrique Oliveira (SD), o ex-ministro da Justiça Eduardo Cardozo. Esta decisão liminar suspendeu o acórdão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que cassou o governador José Melo (Pros), o afastou do cargo e decretou eleições diretas.
Os textos do resumo da decisão e da íntegra da decisão, disponibilizada nesta quinta no Diário da Justiça Eletrônico (DJE), são claros para qualquer neófito em linguagem jurídica: suspendem o acórdão do TSE. Portanto, suspende tudo o que se determinou nele e suas consequências.
Com esta decisão, o ministro causou verdadeira reviravolta no meio político e surpresa na população: a volta de José Melo ao comando do Estado. Ele que havia jogado a toalha assim que foi cassado pelo TSE. O sangue voltou a circular no governador cassado e até coletiva já estava sendo preparada.
Mas, após longa espera para o comunicado, e com o TRE-AM pronto para executar a clara decisão do ministro e dar posse a Melo, um ofício enviado à tarde ao TRE-AM “esclarece” que não era bem isso que Lewandowski queria decidir. Como vinham mesmo alertando os aliados de David.
O ministro diz que a suspensão que ele concedia era apenas das eleições suplementares. Portanto, nada de escolha para governador nem direta e nem indiretamente, muito menos volta do Melo. A decisão, na prática, manteve a caneta do Estado nas mãos de David.
A esta altura, só restava uma dúvida: como um comunicado, um ofício teria maior validade que o acórdão que suspendia tudo e decretava, portanto, retorno de Melo?
No meio da tarde, veio a informação sobre a decisão correta. O ministro, justificando erro material na primeira decisão, a refez e mandou publicar novamente. Resolvido.
Cronologia dos acontecimentos que sacudiram o mundo político nas últimas horas:
26 de junho – Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, dá parecer único para três ADPFs (Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental) que questionam a eleição suplementar no Amazonas.
O parecer é de que o instrumento jurídico usado pelos advogados da Mesa Diretora da ALE-AM, do PTN e de Henrique Oliveira é errado para discutir o assunto. Porém, ressalta que na opinião do Ministério Público, eleição para sucessor de Melo deveria ser indireta.
Tarde de 28 de junho – Meio político se agita com informações que criam expectativa de que o ministro Ricardo Lewandowski poderia decidir “a qualquer momento” por eleição indireta no Estado do Amazonas. Um sinal, para políticos ligados a David Almeida em Brasília, seria a presença na capital do País do procurador-geral do Estado, Tadeu Silva, esta semana na companhia de advogados contratados para atuar nas ações que que cuidam do caso.
Início da noite de 28 de junho – Vem a público o parecer de Janot.
22h da noite de 28 de junho – Vem a público, decisão do ministro Ricardo Lewandowski determinando suspensão do acórdão do TSE que cassou, afastou José Melo do cargo e decretou eleições diretas.
Manhã do dia 29 de junho – STF publica decisão de Lewandowski no DJE (Diário de Justiça Eletrônico) com o teor de suspensão do acórdão que cassou, afastou José Melo e determinou eleições direta. Com isso, Melo estava apto a mais uma vez receber o comando do Estado até o julgamento dos embargos de declaração no TSE da sentença que o cassou.
14h do dia 29 de junho – STF manda comunicado ao TRE-AM em que o ministro Ricardo Lewandowski refaz decisão acrescentando que suspensão era só das eleições diretas. Ministro anexa decisão com conteúdo diferente do comunicado e não dá nenhuma indicação ao TRE-AM de que fará retificação e republicação do mesmo.
Meio da tarde do dia 29 de junho – Site do STF publica determinação do Ministro Ricardo Lewandowski para que decisão sobre a situação do Governo do Amazona fosse republicada para correção de “erro material”. Com isso, torna juridicamente válido posicionamento feito via comunicado poucas horas antes.