Manaus parece ter sido palco do desenvolvimento de uma nova variante do coronavírus, que passaria a ser conhecida como P.1.
Segundo os cientistas, a P.1 é nova versão do agente infeccioso mais transmissível.
Ela teria capacidade de driblar a imunidade obtida anteriormente. Isso ajudaria a explicar o quadro crítico na capital do Amazonas.
Algumas pesquisas publicadas nas últimas semanas ajudaram a entender um pouco melhor essa história. Conforme a reportagem do G1.
A princípio, o surgimento de novas variantes está diretamente relacionado ao comportamento das pessoas e à falta de políticas públicas claras e bem definidas.
O problema começa muito antes, quando as medidas de controle são relaxadas.
Com isso, as pessoas começam a transitar livremente pelas ruas. E, sem tomar os cuidados básicos, como o uso de máscaras e o respeito ao distanciamento físico.
Circulação de pessoas
Quanto maior for a circulação, maior a transmissão do coronavírus. Logo, quanto mais o vírus “pula” de uma pessoa para outra, maior o risco de ele sofrer mutações vantajosas.
E assim replicar de forma danosas e preocupantes para os seres humanos.
E esse fenômeno, por sua vez, agrava ainda mais o problema de saúde pública e contribui para o colapso que vivemos em várias cidades brasileiras.
De acordo com o virologista Tiago Gräf, do Instituto Gonçalo Moniz, da FioCruz Bahia não há como culpar só a P.1, quando se fala de aumento de casos e mortes nos últimos meses.
“A variante só surgiu por causa do descontrole nas medidas restritivas capazes de inibir a transmissão”, concorda.
As aglomerações fizeram o vírus circular com grande intensidade novamente e ganhar uma nova versão.
Por isso, tudo indica que a P.1 se desenvolveu a partir de novembro do ano passado e, em dezembro, dominou geral.
Suspeita confirmada
Esse temor de que a P.1 seria mais transmissível era praticamente um consenso entre os cientistas da área logo após a descoberta da nova variante.
Essas alterações no genoma tornaram essa tal de espícula ainda mais sofisticada, o que facilita a invasão viral no nosso organismo.
“A variante P.1 necessita de uma quantidade menor de vírus para causar uma infecção”, explica Gräf.
Essas observações iniciais ganharam mais exatidão no dia 14 de abril, após a publicação de um estudo na revista Science. O estudo envolveu mais de 30 instituições e dezenas de pesquisadores, muitos deles brasileiros.
E esse maior espalhamento, por sua vez, gera uma verdadeira bola de neve. Mais transmissão significa mais gente infectada, novas cadeias de contágio. E, maior procura por atendimento, falta de leitos em ambulatórios e UTIs, cuidados inadequados, aumento de mortes…
Leitos
A médica Suzane Lobo, diretora-presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira detalha os ingredientes extras desta equação: o colapso do sistema de saúde e a falta de vagas para atender a enorme demanda de novos infectados.
“Como é que eu posso dizer que a variante é mais letal se há outros fatores envolvidos? Demora no atendimento, falta de leitos”, pensa.
“Se tivéssemos leitos para os pacientes e todos eles fossem atendidos rapidamente, seria possível dizer que existe uma grande chance de a linhagem ser mais letal do ponto de vista epidemiológico”, completa a especialista.
O que fazer
Enquanto a ciência evolui e conhece mais a fundo os detalhes da P.1, uma coisa continua igual: os cuidados necessários para prevenir a covid-19.
O virologista Paulo Eduardo Brandão, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo disse que vírus não liga para frio, calor, umidade… Ele gosta mesmo é de proximidade entre as pessoas.
“E, para qualquer variante, o uso de máscaras, o distanciamento físico e a limpeza das mãos seguem válidos e efetivos”, orienta.
Para evitar que as variantes se espalhem mais (ou surjam outras linhagens que tragam um perigo ainda maior), é essencial acelerar também a vacinação.
“Quanto mais gente vulnerável, maior o risco de proliferação do vírus, o surgimento de novas linhagens e todos os problemas relacionados a isso”, completa o virologista.
Leia a matéria completa no G1 .
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Foto: Itamar Crispim/ Fiocruz