Os saberes da culinária não tradicional e do artesanato ecológico, saídos da biodiversidade amazônica, foram os componentes básicos da oficina de quase um mês realizada no município do Careiro Castanho, no interior do estado do Amazonas.
A troca de conhecimento e de sabores, compartilhada pelos agricultores locais, foi organizada pelo Centro de Treinamento Agroflorestal (CTA), ligado ao Museu da Amazônia (Musa), dentro do projeto Arte & Escola na Floresta.
O Centro de Treinamento Agroflorestal – que promove educação agrícola na região rural do município de Manaus há dez anos – está instalado no nordeste de Manaus, na floresta que se encontra entre os limites da Reserva Ducke e o lago do Puraquequara, no assentamento Água Branca do Incra.
“Da terra ao corpo, do corpo à terra. A terra só dar se a gente plantar. Se a gente não plantar, a terra não dar. Bora comer o que a terra tem a nos oferecer”, convida o ator e artesão Chico Caboco, que participou no projeto com uma performance teatral.
Leia mais
Cantando Abílio Farias e Diana, prefeito entrega feira flutuante de Manaus
Prefeito doa 300 mil alevinos para piscicultores de Autazes
Culinária panc
A culinária panc (plantas alimentícias não convencionais) foi um dos ingredientes da oficina de saberes no Careiro Castanho. Esse tipo de alimentação, que muitos especialistas já consideram a comida do futuro, vem crescendo nos últimos anos porque resgata as raízes das cozinhas regionais
As cozinheiras da oficina Arte & Escola na Floresta utilizaram nos preparativos do cardápio dos participantes produtos como batata ariá, taioba e outras hortaliças não convencionais: coração e a casca da banana, ora-pro-nóbis (espinafre da Amazônia), cipó-alho, picão preto, erva de jabuti, urtiga, bertalha, jaca e mamão verdes.
“Essas são hortaliças que se encontram nos quintais, porém as pessoas não usam por falta de conhecimento”, explica Emerson Vagalume, técnico em agroecologia e florestal e proponente do projeto.
Mais informações sobre a culinária panc da Amazônia no vídeo:
VIDEO
Bioartesanato
Mas, a troca de conhecimento entre camponeses do interior do Amazonas não ficou só na comida. Objetos artesanais do dia a dia do agricultor tradicional, como o tipiti, paneiro, peneira, cesta e tupés foram utilizados na produção de utensílios.
Durante as oficinas, Ivanilda Batista, da etnia Mura, orientou os participantes a criar a própria peneira de arumã e as vassouras de cipó titica.
“O trabalho do artesanato é muito importante para as pessoas do interior porque faz parte da cultura, a qual está se perdendo ao longo dos anos. É imprescindível o resgate do bioartesanato, as técnicas e o uso de materiais não madeireiros é que muitas pessoas já não lembram que existem” explica a artesã indígena.
Soberania alimentar
Para a organizadora da oficina Arte & Escola na Floresta, Nora Hauswirth, com os recursos naturais da floresta e da terra há múltiplas maneiras de garantir a soberania alimentar e renda para as famílias, seja na agricultura, na produção de sementes, em pequenas agroindústrias para o beneficiamento de frutas e extração de óleos vegetais e no aproveitamento de produtos não madeireiros, como o artesanato.
“A industrialização elimina os métodos tradicionais de trabalho e cultivo e a legislação tenta impedir que os pequenos produtores participem do mercado e assim, perde-se o conhecimento sobre as técnicas tradicionais”, lembra Nora Hauswirth.
De acordo com a curadora da oficina, a arte ecológica questiona todos os aspectos da sociedade desde da produção de alimentos e ferramentas do campo, até a política climática e traz uma nova perspectiva ecológica.
Oficina premiada
O projeto Arte & Escola na Floresta, do CTA, foi contemplado pelo programa Cultura Criativa – 2020, dentro da Lei Aldir Blanc, de apoio à cultura.
Além disso ganhou o prêmio “Encontro das Artes, do governo do Amazonas, com apoio da Secretaria Especial da Cultura e do Fundo Nacional de Cultura.
Fotos: Divulgação