Amazonas: polĂªmica com indĂgenas Ă vista no mercado de carbono
Licenças para projetos de carbono em 21 UCs do Amazonas levantam preocupações sobre a proteĂ§Ă£o de seus direitos.

Publicado em: 11/06/2024 Ă s 12:33 | Atualizado em: 11/06/2024 Ă s 12:37
Reportagem de Jullie Pereira e FĂ¡bio Bispo, publicada por InfoAmazonia em 06-06-2024, destaca a concessĂ£o de licenças para projetos de carbono em 21 unidades de conservaĂ§Ă£o (UCs) do Amazonas, envolvendo renomadas empresas do setor.
As Ă¡reas protegidas abrangem mais de 12 milhões de hectares e teriam sido cedidas sem consulta prĂ©via Ă s comunidades indĂgenas sobrepostas, como as terras Acapuri de Cima, Uati-ParanĂ¡, Jaquiri e Porto Praia.
Entre as empresas aprovadas estĂ£o Future Carbon, Ecosecurities, Carbonext, Permian Brasil e brCarbon.
A Ecosecurities, que gerenciarĂ¡ o projeto na RDS MamirauĂ¡, Ă© uma das lĂderes globais em projetos de carbono, enquanto a Carbonext, associada Ă petroleira Shell, tambĂ©m se destaca pelo seu histĂ³rico de contratos significativos na AmazĂ´nia.
JĂ¡ a Future Carbon recentemente firmou um acordo para compensar 400 mil toneladas de carbono com a Latam.
Os projetos tĂªm como objetivo reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) atravĂ©s do desmatamento evitado (REDD+).
A cada tonelada de carbono evitada, Ă© concedido um crĂ©dito, cujo preço varia entre 5 e 15 dĂ³lares. Esses crĂ©ditos sĂ£o adquiridos por grandes empresas, como petroleiras e companhias aĂ©reas, para compensar suas emissões.
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No entanto, a concessĂ£o dessas licenças tem gerado debate.
O edital de seleĂ§Ă£o das empresas nĂ£o especificou a necessidade de consultas prĂ©vias Ă s comunidades indĂgenas, um passo essencial conforme a ConvenĂ§Ă£o 169 da OrganizaĂ§Ă£o Internacional do Trabalho (OIT).
Tanto a FundaĂ§Ă£o Nacional dos Povos IndĂgenas (Funai) quanto o MinistĂ©rio dos Povos IndĂgenas (MPI) nĂ£o teriam sido informados sobre o edital, levantando preocupações sobre a proteĂ§Ă£o dos direitos das populações locais.
Representantes indĂgenas, como os Kokama, Tikuna e Kambeba, expressaram desconhecimento sobre os projetos aprovados.
A falta de consulta foi tambĂ©m destacada pelo MPI, que enfatizou a importĂ¢ncia de um diĂ¡logo amplo e inclusivo envolvendo todas as partes interessadas para garantir a segurança e os direitos das comunidades afetadas.
As empresas envolvidas tĂªm se comprometido a seguir os padrões de consulta e transparĂªncia.
A Carbonext, por exemplo, afirmou que a etapa de consulta serĂ¡ realizada antes da implementaĂ§Ă£o final dos projetos.
Da mesma forma, a Future Carbon anunciou o inĂcio das consultas prĂ©vias em algumas reservas.
O governo do Amazonas, em resposta, garantiu que todos os projetos respeitarĂ£o as normativas da ConvenĂ§Ă£o 169 da OIT e que nenhuma implementaĂ§Ă£o ocorrerĂ¡ sem o consentimento das comunidades.
Esse compromisso visa assegurar que os benefĂcios dos projetos de carbono sejam alcançados de maneira justa e sustentĂ¡vel, preservando tanto o meio ambiente quanto os direitos das populações indĂgenas.
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Foto: Pedro Guerreiro Ag/ParĂ¡