Transporte privado do Amazonas já se prepara para estiagem
Empresas buscam soluções de transbordo de cargas entre Itacoatiara e Manaus, segundo Abani.

Antônio Paulo , do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 16/07/2024 às 21:26 | Atualizado em: 16/07/2024 às 21:27
O setor privado de transportes do Amazonas, assim como os governos federal e estadual, está se preparando para nova crise hídrica de 2024, semelhante à seca extrema do ano passado.
De acordo como o diretor-presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Navegação Interior (Abani) e da Companhia Norte de Navegação, Dodó Carvalho, os terminais de cargas do Amazonas estão buscando as soluções de transbordo dos produtos principalmente entre Itacoatiara e Manaus.
“Manaus, hoje, opera 350 mil contêineres por ano, sendo o terceiro ou quarto terminal de contêiner do Brasil. Assim, a gente recebe dez navios por semana, lembrando que tivemos a crise do ano passado, em razão da seca”.
Segundo Carvalho, provavelmente, haverá crise de novo em 2024, só que, este ano, será diferente porque os terminais já estão buscando solução de transbordo desta carga em Itacoatiara para chegar de balsa até Manaus.
“Mas, nós não vamos sofrer com esse abastecimento e nem com dificuldade de escoar a produção agora”.
As declarações de Carvalho ocorreram durante o debate on-line (webinar) do projeto “Diálogos Amazônicos”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ocorrido na noite desta segunda-feira (16/7).
Com o tema “Logística e rios na Amazônia”, também participou do debate o novo secretário nacional de Hidrovias e Navegação, Dino Batista.
Esse “Diálogos Amazônicos”, sobre a logística da navegação regional, foi mediado pelo professor da escola de Economia da FGV, Márcio Holland.
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Concessão do Madeira
O secretário Batista falou da importância das hidrovias na Amazônia, como vetor de desenvolvimento, com destaque para a concessão à iniciativa privada da hidrovia do rio Madeira, cerca de 1.000 mil quilômetros entre Rondônia e o município de Itacoatiara, no estado do Amazonas.
De acordo com ele, o projeto de privatização do Madeira vai entrar na fase de audiência pública.
Dessa forma, Batista disse que a proposta é melhorar a sinalização dos rios e a segurança da navegação por meio de dragagem e batimetria constantes e outros projetos de iniciativa do poder público.
“A gente realmente acredita que vai ser uma quebra de paradigma, quando a gente trouxer também a iniciativa privada para nos apoiar. E, nesse intuito, há vários outros projetos e políticas públicas que tratam de segurança no transporte na Amazônia, segurança patrimonial e preocupação com a formação de tripulantes, tudo reunido no grande projeto da ‘BR dos rios’, voltado ao setor hidroviário”.
Foco da privatização
Batista reforçou o discurso de que a concessão do rio Madeira é um projeto de infraestrutura focado no transporte das grandes cargas da logística brasileira: granel sólido agrícola, granel líquido (petróleo, gás, combustível) entre outros.
“A gente não está falando de maneira alguma de passageiros de pesca, de embarcações, de lazer, enfim, da distribuição da pequena carga acompanhada, da linha branca, por exemplo. Portanto, de uma vez por todas, os ribeirinhos que trafegam pelos rios, pela hidrovia, não vão ser cobrados. Somente as grandes cargas”.
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Custo, eficiência e descarbonização
Os participantes do “Diálogos Amazônicos” também discutiram sobre custo e eficiência da navegação. Segundo eles, as hidrovias ou transporte aquaviário, em geral, são considerados de baixo custo e mais eficiente pelo menor consumo e energia.
Por outro lado, entrou ainda na discussão dos especialistas a descarbonização dos meios de transportes, assunto caro principalmente entre os países europeus e dos Estados Unidos.
“A Europa sofre um grande desafio com relação a isso porque os transportes desses países mais ricos, em geral, são as principais fontes de emissões de gases de efeito estufa. É um transporte muito caro e ainda consome bastante energia”, disse Holland.
Desse modo, Carvalho concordou com a tese e acrescentou que se o setor hidroviário caminhar na direção descabornizante da economia e, ao mesmo tempo, for eficiente, o paradigma a ser enfrentado será relevante.
“Sem dúvida, esses dois elementos – custo e a pegada de carbono – são vantagens ao transporte aquaviário. No entanto, porque não se usa com mais frequência esse modal? Especialmente a descarbonização, há uma carência muito grande”.
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Licenciamento ambiental
Por fim, o presidente da Abani fez questão de tocar em um tema criticado porque quase todo empresário da Amazônia ou de outra região brasileira: o licenciamento ambiental dos empreendimentos.
Segundo Carvalho, se uma instalação industrial na Europa necessita de licença ambiental e ela está ao lado de uma hidrovia e, portanto, utiliza o sistema hidroviário, esse é um elemento facilitador do licenciamento daquele empreendimento.
“Já no Brasil, a gente tem uma grande dificuldade de licenciamento em obras hidroviárias, o que é estranho já que é uma energia limpa, renovável. Penso que precisamos ficar mais próximos do Ministério Público, levar nossos argumentos e pôr à luz os temas que nos parecem óbvios”.
Foto: divulgação