Os rios como o Amazonas e o Tapajós, além de seus afluentes, estão altamente contaminados com medicamentos. É o que aponta estudo do Projeto Silent Amazon (Amazônia Silenciosa).
Segundo o levantamento, a contaminação apresenta produtos farmacêuticos, incluindo analgésicos, antibióticos e anti-inflamatórios.
Conforme publicação feita pelo Uol, nos córregos urbanos, as concentrações chegam a ser cem vezes maiores do que nos rios principais.
Nesse sentido, o ecotoxicologista do IMDEA Water Institute e pesquisador-chefe do estudo, Andreu Rido explica:
“Nosso objetivo era quantificar a atual ocorrência, exposição e os riscos de um grupo de contaminantes que costumam ser pouco estudados nas regiões tropicais. O que vemos é que as pressões demográficas e a falta de saneamento e tratamento de água permitem que eles atinjam áreas de grande valor ecológico”.
Desse modo, a equipe do estudo coletou amostras de água em 40 pontos ao longo de 1.500 quilômetros dos rios Amazonas, Negro, Tapajós e Tocantins.
Assim como, em pequenos afluentes que passam pelas cidades de Manaus, no Amazonas; Santarém e Belém, ambas no Pará; e Macapá, no Amapá.
Então, avaliou a presença de 43 produtos farmacêuticos e outros contaminantes urbanos.
Produtos
Além disso, a publicação destaca que quarenta desses produtos foram encontrados acima do limite de detecção.
Ou seja, a maior concentração de um poluente que pode ser revelada pelo método analítico.
Além das medicações já mencionadas, antiarrítmicos, anti-hipertensivos, antidepressivos, antiepiléticos, ansiolíticos, hormônios (sintéticos e naturais) e fragrâncias foram identificados nos cursos d’água.
Da mesma forma, as maiores concentrações, contudo, foram de psicoestimulantes como cafeína e nicotina.
“O número de substâncias foi consideravalmente mais alto nos afluentes que atravessam áreas urbanas (de 23 a 40 por amostra) do que no Rio Amazonas e seus principais tributários (de 9 a 17)”, diz o estudo.
“A concentração [no primeiro grupo] foi, em média, cerca de duas ordens de grandeza maior do que aquelas medidas no segundo.” .
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Rio Amazonas
Em suma, outro estudo, publicado em fevereiro de 2022 e realizado internacionalmente em 258 rios em 104 países, classificou o Rio Amazonas “a jusante de Manaus” como um “local com baixas concentrações de ingredientes farmacêuticos ativos (IFA), devido a “altos fluxos fluviais com um grande componente de diluição”.
As amostras para este estudo foram feitas exclusivamente no leito principal do Amazonas, então as concentrações foram mais baixas do que no estudo da Silent Amazon.
Entre os contaminantes encontrados pela equipe da Silent Amazon está a metformina, a medicação mais comumente prescrita para tratar a diabetes tipo 2, e medida pela primeira vez nas águas superficiais da América Latina neste estudo.
“As concentrações nos córregos de Manaus e Belém constituem os valores máximos reportados na literatura até agora.”.
Ameaças
Portanto, como aponta a investigação da Silent Amazon, as maiores ameaças aos organismos aquáticos nas águas analisadas podem ser o paracetamol.
Isto é, analgésico que pode causar alterações genéticas e prejudicar a reprodução de invertebrados aquáticos e peixes.
O estrogênio (um esteroide que contribui para a feminização dos peixes), o ibuprofeno (anti-inflamatório que tem impactos negativos sobre a reprodução dos peixes).
E ainda, o 17β-estradiol (hormônio estrógeno natural com alto potencial de toxicidade).
“Em vista dos resultados, podemos concluir que os produtos farmacêuticos contaminantes estão espalhados pela Bacia Amazônica e que as áreas urbanas contêm concentrações que podem resultar em efeitos a longo prazo para um grande número de espécies aquáticas, entre 50% e 80%”, diz o pesquisador-chefe.
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Foto: Divulgação