Amazonas, com maior reserva, tem gás de cozinha mais caro do país

Na cidade vizinha à mais rica reserva de gás natural, o amazonense paga botija 34% mais cara que a média nacional

Ferreira Gabriel

Publicado em: 24/11/2023 às 17:57 | Atualizado em: 24/11/2023 às 17:59

Vizinha do Polo Urucu, a maior reserva de gás natural do país, a cidade de Tefé (AM) tem o botijão de gás mais caro do Brasil.

O município no interior do Amazonas está entre os 71 em que o preço do gás de cozinha ultrapassou em novembro a maior média nacional semanal do século, de R$ 113,66, registrada entre os dias 10 e 16 de abril de 2022.

Nesse cenário, por exemplo, em Tefé o botijão chegou a superar em quase 34% o recorde histórico, com o vasilhame de 13k de GLP (gás liquefeito de petróleo) sendo comercializado a R$ 152, o preço mais caro do país.

As informações são do Observatório Social do Petróleo (OSP), com base no Levantamento de Preços de Combustíveis da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que verificou o valor do botijão de gás em 456 municípios do Brasil, na semana de 12 a 18 de novembro deste ano.

Os preços do GLP nas 71 cidades que estão acima da marca da série histórica – que tem início em julho de 2001, quando o órgão regulador federal começa a divulgar os valores do gás de cozinha – variam de R$ 114 a R$ 152.

A análise do Observatório mostra que seis das 10 cidades com preços mais elevados estão na região Norte do país, que é abastecida parcialmente pela Ream (Refinaria da Amazônia).

A unidade de refino, que completa em dezembro um ano de privatização, tem sido a recordista nacional dos combustíveis mais caros.

A lista das 10 cidades brasileiras com custo mais alto do gás de cozinha inclui três municípios no estado do Amazonas, três no Mato Grosso, dois em Rondônia, um em Roraima e um na Bahia.

Tefé é a cidade com preço mais elevado do Brasil, seguida por Alta Floresta e Sinop, ambos municípios do Mato Grosso, onde o vasilhame é vendido a R$ 145 e R$ 138,63, respectivamente.

“A cidade de Tefé está localizada a apenas 180 km do Polo Urucu, a maior reserva terrestre de gás natural do país, e é o ápice da contradição que justo nessa região a população seja condenada a pagar os preços mais altos”, afirma o secretário geral da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Adaedson Costa.

Segundo ele, essa situação é fruto da privatização.

“Por isso defendemos a urgência de a Petrobrás voltar a ser uma empresa integrada de petróleo, como são todas as grandes petrolíferas mundiais, reestatizando refinarias, distribuidoras, gasodutos e campos de exploração”, destaca.

O economista Eric Gil Dantas, do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), aponta dois fatores que explicam a concentração dos maiores preços no Norte do Brasil.

“O primeiro motivo é que a média ponderada dos preços praticados por produtores e importadores nessa região está 24% acima da média nacional, de acordo com dados da ANP. E grande parte dessa alta se deve à privatização da refinaria. O segundo fator é que a região tem a maior margem de distribuição e revenda, devido aos custos mais elevados de transporte/logística, sendo R$ 9 (18%) superior à média nacional”, afirma.

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Foto: Observatório Social do Petróleo