Amazônia agoniza, mas extração de madeira não para

Área de exploração ilegal de madeira no Amazonas, que derrubou ministro do Meio Ambiente, continua sendo atacada

Mariane Veiga, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 05/10/2023 às 16:48 | Atualizado em: 05/10/2023 às 18:05

A tragédia ambiental e climática que atinge a Amazônia, com calor extremo e vazante recorde dos rios, não está sendo suficiente para conter a agressão à floresta, que pode dar equilíbrio ao fenômeno.

Esse é o caso da extração de madeira ilegal no rio Mamuru, divisa do Amazonas com o Pará. Ali, a agressão ao meio ambiente acontece há mais de quatro décadas.

No entanto, os ataques se acentuaram nos últimos anos, ao ponto de envolver até a cúpula do Ministério do Meio Ambiente no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Isso porque foi na região do Mamuru que estava parte da madeira ilegal apreendida em novembro de 2020. Tal apreensão resultou na demissão do agora deputado federal Ricardo Salles (PL-SP)) do cargo de ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro.

Agora, da região, vem novo relato de retirada de madeira da floresta em grande quantidade.

“Esse quadro de balsas e mais balsas passando abarrotadas de madeira é diário. Somos humilhados todos os dias pelos grupos que estão devastando nossa floresta”.

O relato é do padre Manoel do Carmo, da diocese de Parintins, em nome de 15 organizações da sociedade civil.

E como “pedido de socorro”, esse movimento encaminhou documento ao Ministério Público Federal, Defensoria da União, Polícia Federal, Ibama, Funai e ao Instituto Chico Mendes (ICMBio), no Amazonas e Pará.

Entre as instituições estão grupos, movimentos populares, pastorais, sindicatos e moradores do rio Mamuru e seus afluentes, nos municípios de Parintins, no Amazonas, e Juruti, Alveiros e Itaituba, no Pará,

Desse modo, pediram investigações, punições e suspensão urgente da exploração de madeira nessa região, adjacências e confluências dos estados do Amazonas e Pará.

Além de pedir que se faça valer o desmatamento zero proposto pelo atual governo Lula.

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Prática desde 2020

O documento das 15 entidades da sociedade civil elencou, pelo menos, cinco motivos para que as autoridades tomem providências:

Informam que, em 2020 e anos seguintes, foi constatada grande devastação na região do Mamuru, que é constituída de terras da União, área indígena demarcada dos saterés-maués, assentamento Vila Amazônia, em Parintins.

E, segundo as organizações, ribeirinhos, assentados e indígenas da região, o desmatamento continua.

As informações dos ribeirinhos e população da área dão conta que é o mesmo grupo criminoso de 2020 que atua na região.

“Por lá, há mais de cem homens trabalhando com cerca de cincoenta máquinas em funcionamento. Dezenas de balsas e empurradores transportam as madeiras ilegais pelo percurso dos rios”, afirmam as entidades denunciantes.

Além disso, torres de comunicação, centenas de quilômetros de estradas, olheiros e jagunços, invadindo a área citada, atemorizando as pessoas.

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Ligações clandestinas

Pelos relatos das organizações, há uma estrada de chão que liga a comunidade da Sabrina (PA) à serra da Valéria (AM), às margens do rio Amazonas.

Por ela, a madeira é transportada por caminhões e desembarca nas balsas. E o que eles não conseguem levar por terra, retiram pelos rios Mamuru e Uaicurapá e paraná do Ramos, até desembocar no rio Amazonas, em direção a Santarém e Belém, já no estado do Pará.

“São milhões, bilhões de reais em negócios ilícitos. A gente se sente impotente diante da situação. Isso porque tem muita madeira em toras, que estavam estocadas, aguardando passar o período das chuvas para serem retiradas”, disse o padre.

Madeira retirada da floresta

Política ambiental

Salientam ainda que a política ambiental, do governo federal atual, é para zerar o desmatamento, mas o cenário que se desenha, nas confluências do rio Mamuru e adjacências do Amazonas e Pará, é de desastre ambiental.

Por fim, o documento das entidades civis cita a recente reunião da Cúpula da Amazônia em Belém. Nesse encontro, realizado em agosto de 2023, ocorreram encaminhamentos importantes para manter a floresta em pé e toda a biodiversidade da Amazônia.

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Incra e Funai

Desse modo, os problemas de extração de madeira ilegal também foram denunciados ao diretor de assuntos fundiários do Incra, João Pedro Gonçalves, ao Incra do Amazonas e à agência da Funai em Parintins.

Segundo relato do padre Carmo, essas ações ocorrem nas terras do Amazonas, especialmente nas comunidades do Igarapé-Açu, Sermão e Ponta Alta. Assim como nos rios Mamuru e Uaicurapá.

Consequentemente, ameaçam as terras indígenas nas extremas com a comunidade do Paraíso e São Tomé, no município de Parintins.

Quem assina o manifesto

_ Prof. Dr. Manuel do Carmo da Silva Campos

_ Comissão Pastoral da Terra (CPT) – Regional Amazonas

_ CPT da Diocese de Parintins

_ Departamento de Comunicação do CDDHPA

_ Comissão de Defesa dos Direitos Humanos de Parintins e Amazonas

_ Grupo Natureza Viva de Parintins

_ Arquidiocesana de Manaus

_ Padres em Novas Dimensões.

_ Movimento de Trabalhadores Cristãos do Amazonas

_ Comissão de Defesa dos Direitos Humanos de Parintins e Amazonas

_ Comunidades do Rio Mamuru, seus afluentes, confluências Amazonas e Pará

_ Associação dos Assentados da Gleba Vila Amazônia

_ Sindicato de Trabalhadores Rurais de Parintins

_ Coletivo em Defesa da Amazônia Rio Mamuru Confluências Amazonas/Pará e Adjacências

_ Coletivo Rio Abacaxis

_ Teia de Educação Ambiental e Interação Agrofloresta de Parintins.

Foto: reprodução/vídeo