Amazônia: indígenas ocupam Cargill em protesto contra Ferrogrão
Polêmica rodovia, apoiada pelo agro e governo federal, invade terras indígenas

Ferreira Gabriel
Publicado em: 05/03/2024 às 10:47 | Atualizado em: 05/03/2024 às 11:24
O porto graneleiro da Cargill em Santarém (PA) foi palco de um protesto de indígenas nesta segunda-feira (4). Povos kayapó, munduruku e panará manifestaram-se contra o que chamaram de “trilhos de destruição” da Ferrogrão.
O projeto de ferrovia é defendido por gigantes do agronegócio e repudiado por comunidades indígenas, quilombolas, pescadores e pequenos agricultores.
Ao lado de faixas e cartazes que pediam “Ferrogrão Não”, a líder indígena Alessandra Korap Munduruku puxou as palavras de ordem “Fora Cargill”, repetidas em coro pela multidão.
Manifestantes que estão na rota dos quase 1000 km da ferrovia dizem não ter sido consultados a respeito dos impactos socioambientais, entre eles o desmatamento de 50 mil km², área maior que o estado do Rio de Janeiro.
Destino das colheitas de soja e milho que devastam a Amazônia no oeste do Pará, o terminal de cargas da Cargill não foi escolhido à toa para sediar o protesto. A instalação, erguida sobre um cemitério ancestral dos Tapajó, provocou um boom de commodities agrícolas em áreas protegidas e de casos de violação de direitos humanos de comunidades indígenas e tradicionais.
A Cargill, uma das maiores comerciante de grãos do mundo, é dona de marcas comuns na mesa dos brasileiros, como Liza, Pomarola e Elefante. A multinacional é uma das principais interessadas na construção da Ferrogrão, ferrovia que enfrenta forte oposição de lideranças indígenas na Amazônia.
Ao Brasil de Fato, a Cargill disse que “não participa do consórcio formado para a construção da Ferrogrão”. Porém a empresa foi uma das responsáveis por contratar a consultoria que elaborou o estudo inicial da ferrovia, em 2016. Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil, disse no ano passado que a ferrovia é um projeto prioritário, em discurso durante evento do agronegócio.
Junto com a Ferrogrão, a Cargill está “no banco dos réus” nesta segunda-feira (4). Em Santarém, organizações de populações atingidas reúnem-se em um tribunal popular para fazer um julgamento simbólico da linha férrea, com a participação indígenas, quilombolas, pequenos agricultores de assentados e outros moradores da área impactada.
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Foto: Leandro Barbosa/Amazon Watch