Recém-nomeado cardeal pelo Vaticano, o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner, cobrou que o assassinato de indígenas no rio Abacaxis, em 2020, seja desengavetado.
Ele alerta para o risco de que as mortes no Vale do Javari também sejam esquecidas.
“No ano passado tivemos o caso do rio Abacaxis, onde foram assassinados diversos indígenas, que até hoje não se solucionou. Desapareceu da mídia, como vai desaparecer daqui a pouco o caso do Bruno e do Phillips também”.
Em agosto de 2020, depois que dois policiais militares foram mortos em conflito na região, pelo menos cinco pessoas, entre elas indígenas, acabaram assassinadas em operação da segurança pública do Amazonas.
Conforme o cardeal, os dois episódios são “um reflexo da violência que a Amazônia passa”.
“Esse modo de avançar nas terras indígenas, essa pesca predatória e o garimpo que acontece na região têm levado a uma violência muito grande. Uma violência em relação aos povos indígenas, mas também uma violência em relação às pessoas que têm procurado acompanhar a situação. A impunidade tem aumentado a violência”.
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Bruno e Dom
Sobre os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, no Vale do Javari, no Amazonas, Steiner diz que eles eram completamente comprometidos com o futuro dos povos indígenas.
“Eram duas pessoas profundamente comprometidas com a verdade, comprometidas com o futuro, com o futuro desses povos. É uma região onde avança cada vez mais a violência”.
Para ele, “a mídia, finalmente, começou a mostrar a violência que acontece” na região.
“Não são as únicas pessoas. Teve essa repercussão porque tinha um estrangeiro. Um estrangeiro da Europa. Talvez se fosse de uma outro país não tivesse essa repercussão. É uma aflição, porque vejo crescer a violência. Não só no interior, mas também da cidade de Manaus”.
Bolsonaro e violência
O arcebispo também faz um balanço e aponta a relação da postura do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o aumento da criminalidade na região amazônica.
“As declarações do presidente não me parecem muito condizentes com a aflição que devem estar sentindo as famílias dessas duas pessoas. Mas também não me parecem muito condizentes com o sentido do que significa ser brasileiro, muito menos do que significa uma relação digna em relação aos povos indígenas e o cuidado com o meio ambiente. Assusta a demora em começar a acompanhar”.
“A violência muito grande, não se fiscaliza. Roraima tem um número assustador de garimpos, e não se faz quase nada”.
“A impunidade tem aumentado a violência. Quando não existe respeito, existe a ganância, a destruição dos povos indígenas. Há necessidade de a lei agir, a justiça agir. Aqui está faltando fiscalização e punição”.
“É claro que, quando você escuta umas declarações, você tem a sensação de que agora dá para fazer, que não vai acontecer nada. Isso ajuda a uma expansão muito grande da violência. Na nossa região e em outras terras indígenas também. Espero que haja uma ação mais efetiva”.
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Foto: Reprodução