BR-319: Asfaltamento, sim. Carga pesada, não, concordam políticos e empresários
Portaria do Dnit suspendeu por tempo indeterminado o tráfego de veículos de passageiros e de cargas acima de 23 toneladas na rodovia

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 30/08/2024 às 20:49 | Atualizado em: 31/08/2024 às 01:34
Representantes da classe política, empresarial e do governo do Amazonas reagiram, nos últimos dias, sobre a decisão do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) de suspender, por tempo indeterminado, o tráfego de veículos pesados na BR-319.
Apesar das críticas costumeiras, pelos atrasos e impedimentos do asfaltamento do trecho do meio da Manaus-Porto Velho, governo, políticos e empresários são unânimes: é mesmo inviável caminhões, carretas, bitrens e outros veículos pesados trafegarem na BR-319.
“Não há a menor condição de uma carreta de 70, 80 toneladas passar por pontes de madeira, verdadeiras pinguelas que existem ao longo da estrada. Se deixar isso acontecer, a BR-319 ficará ainda mais danificada. Portanto, é acertada a medida do Dnit. O que precisamos mesmo é asfaltar urgentemente a rodovia”, declarou o deputado federal Sidney Leite (PSD-AM), atual coordenador da bancada parlamentar da região Norte.
Em 16 de agosto deste ano, o Dnit publicou a retificação da portaria 6.854/23, mudando para tempo indeterminado, em vez do período dezembro a junho, a proibição do tráfego de veículos de cargas com a capacidade de peso bruto total combinado-PBTC acima de 23 toneladas.
A medida se refere a caminhões trucados, reboques, semirreboques, rodotrem, bitrem e hexatrem. Isso, para assegurar e manter um tráfego seguro no tocante ao transporte de passageiros e de cargas para o atendimento às comunidades e cidades lindeiras da rodovia BR-319/AM.
O trecho previsto na portaria compreendido entre o início da travessia do rio Amazonas (Careiro), (Km 1,0) e o entroncamento rodovia BR-230/AM(B) (p/ Humaitá/AM) (Km 679,30).
A autarquia ressalta que veículos de serviços básicos e essenciais, como transporte de alimentos, combustível e de socorro, independentemente do peso, estão autorizados a circular.
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Críticas
Logo que saiu a retificação da portaria, parlamentares do Amazonas se apressaram, na tribuna da Câmara dos Deputados, a criticar a medida do Ministério dos Transportes.
O próprio Sidney Leite disse ter sido surpreendido pela portaria do Dnit, que regula o volume de cargas a transitar na BR 319, sendo esta a única ligação terrestre do Amazonas e Roraima com o restante do país.
“Essa BR é fundamental não apenas para os dois estados, ela é fundamental para a Amazônia Ocidental e se faz agora necessária, haja vista que nós estamos sem chuvas intensas nessa região da BR, garantindo o acesso”, ressaltou o parlamentar.
O coordenador da bancada do Norte declarou que apesar da trafegabilidade, diversos produtos já tiveram seus valores reajustados três vezes mais, impondo uma dura realidade a população desses estados. E, da tribuna, fez um apelo ao ministro Renan Filho, para que reveja a portaria e que garanta a função da estrada.
Leite assegurou que os parlamentares da região estão em permanente diálogo e negociação com o governo federal para resolver os entraves na BR-319.
Alternativa ao Madeira
Por sua vez, o deputado Átila Lins (PSD-AM) e colegas da bancada do Norte, como Rondônia, Roraima, Pará e Acre, em reunião na Defesa Civil, trataram com o secretário nacional Wolney Aparecido, sobre as restrições impostas pelo Ministério dos Transportes, via DNIT, de trafegabilidade da BR-319.
“Essa estrada é uma alternativa ao rio Madeira, que já sofre com a forte vazante, inclusive com a restrição da navegação de balsas, tornando a BR-319 essencial para a chegada de todo tipo de produto, principalmente, alimentos. Portanto, a decisão do Dnit só piora o atual momento enfrentado”, declarou Lins.
Distrações
Quem também foi a público falar sobre a BR-319, o seu não asfaltamento e as restrições do Dnit foi o coordenador da comissão de logística do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Augusto César Rocha, que também é professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
“Queremos que asfalte a rodovia, não adianta falar de hidrovia, canal do Pacífico, ferrovia. Qualquer outra coisa que não seja o asfaltamento da rodovia é uma perda de tempo gigante. Estamos discutindo o que não interessa. É um monte de distração para perder o foco. Precisa, portanto, o que precisa é asfaltar a rodovia”, diz Augusto César Rocha.
Nesse sentido, o professor e executivo do Cieam afirma que há questões políticas que lhe escapam a compreensão. No entanto, Rocha compreende a decisão do Dnit em restringir o tráfego pesado na BR-319.
Veículos pesados
“Eu entendo, claramente, o aspecto técnico, associado a essa discussão, pois, do ponto de vista prático, não pode trafegar veículos de grande capacidade na BR-319. Nem compreendo o motivo da portaria porque realmente não tem condições de trafegar, nessa rodovia, veículos com grande carga”, explicou o coordenador da comissão de logística do Cieam, Augusto César Rocha.
O dirigente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas acredita ainda que, provavelmente, haverá outra portaria do Dnit, daqui a duas semanas ou um mês, quando a hidrovia do Madeira tiver algum tipo de restrição por conta do baixo calado. Indiretamente, ele quis dizer que o órgão da infraestrutura poderá rever ou flexibilizar as restrições na BR-319.
Avançar no diálogo
Por fim, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), Serafim Corrêa, afirma que o Estado, os poderes e a sociedade precisam avançar no diálogo em relação à BR-319.
“Esse diálogo precisa ocorrer não apenas com o governo federal [responsável pelo asfaltamento da rodovia], mas também na esfera do Judiciário. O que o judiciário disse nas decisões, em que embarga a obra, é que falta governança na estrada. Isso, até certo ponto, é verdade, mas não é toda a verdade. A verdade é que falta a presença do Estado brasileiro na Amazônia como um todo. Isso vale em todos os setores”, declarou Serafim Correa.
Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real via fotospúblicas