Carta da Amazônia é enviada à cúpula dos povos na COP-26

O manifesto público será lido e entregue no dia 9 de novembro na Assembleia Mundial pela Amazônia, na Cúpula dos Povos, em Glasgow, Escócia. O evento é paralelo à 26ª Conferência das Nações Unidas para a Mudança do Clima

Amazônia emite mais carbono do que consegue absorver - carbono

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 29/10/2021 às 19:54 | Atualizado em: 29/10/2021 às 19:55

Quase uma centena de entidades, personalidades públicas, cidadãos brasileiros e estrangeiros já assinaram a “Carta Amazônia e Mudanças Climáticas” e o mutirão de coleta de assinaturas individuais, associativas e institucionais ainda continua para quem quiser fazer parte dela.

O manifesto público foi aprovado no Encontro de Saberes, realizado entre 20 e 23 de outubro em Belém/Pará. A carta será lida e entregue no dia 9 de novembro deste ano, na Assembleia Mundial pela Amazônia, na Cúpula dos Povos, em Glasgow, Escócia.

O evento é paralelo à 26ª Conferência das Nações Unidas para a Mudança do Clima (COP-26) que acontece na cidade escocesa, entre os dias 1 a 12 de novembro de 2021.

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“Em poucos dias, a atenção do mundo estará voltada para uma terra de montanhas, chamada Escócia, onde se reunirão vontades e esperanças de deter uma catástrofe que já acontece em todo mundo”, diz a introdução do documento.

Destinada aos governantes e aos povos da terra, a “Carta Amazônia e Mudanças Climáticas faz um alerta sobre o aquecimento do planeta, que vem derretendo a neve da Cordilheira dos Andes, descongelando o Ártico, provocando inundações e secas de grande intensidade na floresta amazônica.

“Por sua capacidade de absorver carbono da atmosfera, regular as chuvas e a temperatura, a floresta amazônica é vital para o equilíbrio climático da terra. Ataques contra a floresta são, na prática, ataques contra a humanidade”, afirmam os signatários da carta endereçada aos participantes da Cúpula dos Povos.

Constatações científicas

Dessa forma e de acordo com a constatação de estudos científicos, há provas de que nas áreas devastadas, no sul e sudeste da Amazônia brasileira, a antiga floresta, exatamente pelo sacrifício de suas árvores, está emitindo mais gás carbônico do que absorvendo.

Outras investigações comprovam também que se aproxima o ponto de não retorno, quando a floresta não terá mais capacidade de se recuperar. Em todo continente latino-americano os efeitos da destruição da floresta já são sentidos. Do Pacífico ao Caribe, da Cordilheira dos Andes aos Pampas.
Os signatários da Carta destacam ainda:

  • a campanha da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica para que chegar a 2025 com 80% da cobertura florestal da Amazônia de pé, garantindo que o ponto do não retorno não será alcançado.
  • a necessidade de interromper, em escala internacional, o consumo dos produtos ligados ao desmatamento da Amazônia, como os derivados do agronegócio predador.
  • a demarcação e proteção de todas as terras indígenas e das comunidades tradicionais, cessando imediatamente as invasões e os ataques.
  • exigir o cumprimento da Convenção 169 da OIT, que garante consulta livre e bem-informada aos povos e populações tradicionais, no caso de projetos que afetam nossos territórios e nosso modo de vida.
  • cessar com os custos sociais, ambientais e culturais impostos por megaprojetos hidrelétricos, de infraestrutura e monoculturas de soja, dendê, eucalipto, acácia que em nada beneficiam a vida e são ameaças concretas à existência do planeta.

Como deter a catástrofe climática

“Quando esta carta chegar às vossas mãos, governantes do mundo, é possível que estejam discutindo sobre como destinar os recursos previstos para deter a catástrofe climática. Deixem-nos dizer sinceramente, que nenhum centavo deve ser destinado para quem, através de ataques abertos ou falsas soluções ambientais, promove a destruição da natureza e sua transformação de ente vivo em coisa morta”, afirmam os assinantes do documento.

Na opinião dos signatários, os recursos do mundo para defender a floresta devem ser destinados aos que derramam seu sangue, afrontam a violência e mesmo assim são os mais comprometidos defensores da natureza.

Por isso, para eles é justo que os envolvidos nesse processo recebam diretamente os recursos destinados para salvar a floresta. “Desta forma, poderemos potencializar e expandir nossa ação, beneficiando toda humanidade”, escrevem.

Troca de conhecimentos e percepções

Os apelos são feitos por indígenas, quilombolas, pescadores, moradores das cidades amazônicas, cientistas de várias áreas que, reunidos por quatro dias em Belém, Pará, trocaram conhecimentos, percepções e chegaram a essas conclusões descritas na “Carta do Encontro de Saberes: Amazônia e Mudanças Climáticas”

“Não há como salvar o clima do planeta sem deter os ataques contra a Amazônia e nossa gente. Acreditamos que a força dos povos do mundo será capaz de mudar esta história. Uma Amazônia preservada e vitoriosa será o trampolim de uma nova humanidade”, diz o documento em seu encerramento.

Para ler a íntegra da “Carta do Encontro de Saberes: Amazônia e Mudanças Climáticas e assinar, basta clicar no linka seguir : https://www.forosocialpanamazonico.com/cartaencontrodesaberes/.

Foto: Reprodução