Cimi cobra demissão de agente da Funai que incitou ‘meter fogo’ em indígenas
Governo Bolsonaro não toma providência e entidades veem como um risco para os indígenas a presença do militar aposentado no cargo

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 27/07/2021 às 18:33 | Atualizado em: 27/07/2021 às 18:33
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) pediu a imediata demissão do coordenador e agente da Funai no Vale do Javari, no Amazonas, o tenente Henry Charles Lima da Silva, que encorajou o povo marubo a “meter fogo” em indígenas isolados na região.
“Sua permanência representa uma grave e continuada ameaça aos povos indígenas da região, em especial aos isolados, e torna o governo corresponsável por suas declarações de incentivo à violência e ao genocídio”, disse nota do Conselho publicada nesta terça-feira (27).
Por meio da Equipe de Apoio aos Povos Indígenas Livres (Eapil), o Cimi reforçou o pedido da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab) feito à 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF) para a instalação de inquérito para apurar crime de genocídio contra povos indígenas isolados.
No pedido, a Coiab também pede que seja determinado o afastamento imediato do coordenador regional da Funai no Vale do Javari.
O jornal Folha de S.Paulo divulgou o áudio com fala do militar durante reunião com moradores da região no dia 23 de junho passado.
“Eu vou entrar em contato com o pessoal da Frente (de Proteção Etnoambiental) e pressionar: ‘Vocês têm de cuidar dos índios isolados, porque senão eu vou, junto com os marubos, meter fogo nos isolados’”, afirmou o coordenador.
O Cimi considerou as declarações “abomináveis por encorajar que os indígenas do Vale do Javari usem as armas uns contra os outros para resolver os conflitos, inclusive fazendo referência a uma suposta guerra.”
“E por serem feitas por um servidor público que ocupa um cargo de chefia na Funai e que, portanto, tem como função institucional proteger os povos indígenas e as terras que ocupam”, diz um trecho da nota.
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Desconhecimento
A fala do coordenador e agente da Funai, diz o Cimi, revela total desconhecimento sobre a forma de ocupação territorial dos povos do Vale do Javari, região onde há pelo menos quinze povos em situação de isolamento.
A entidade também acusa um total despreparo para ocupar o cargo de coordenador regional da Funai.
De acordo com a entidade, o coordenador incentivou os indígenas marubo à violência com uso de armas de fogo contra um grupo indígena isolado, ato caracterizado como crime contra a humanidade, como solução para dirimir um conflito.
“Queixando-se da inoperância da Frente de Proteção Etnoambiental da própria Funai diante dos insistentes apelos das lideranças indígenas para ajudar na mediação de uma situação conflitiva gerada pela presença de indígenas isolados na proximidade da aldeia Paulino, o coordenador regional ameaçou jjunto com os marubos, meter fogo nos isolados”, diz o Cimi.
Foto: Divulgação/Funai