A denúncia de que o coordenador da Funai no Vale do Javari, Henry Charles Lima da Silva, estimulou o povo marubo a “meter fogo” em indígenas isolados na região repercutiu no Congresso Nacional. A terra indígena fica no município de Atalaia do Norte (AM), a 1.140 quilômetros de Manaus.
O jornal Folha de S.Paulo divulgou, nesta quinta-feira (22), o áudio do encontro entre o tenente da reserva do Exército e moradores da região no dia 23 de junho deste ano.
“Eu vou entrar em contato com o pessoal da Frente (de Proteção Etnoambiental) e pressionar: ‘Vocês têm de cuidar dos índios isolados, porque senão eu vou, junto com os marubos, meter fogo nos isolados’”, afirmou o coordenador como solução para o conflito entre os indígenas na região.
A deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) classificou a atitude do coordenador da Funai como criminosa.
“Incentiva guerra entre povos indígenas e fala em ‘meter fogo’ em indígenas isolados! Um típico representante de um governo milicianos que precisa ser enxotado!”, criticou.
A vice-líder do Psol na Câmara dos Deputados, Fernanda Melchionna (RS), classificou a atitude como absurda.
“É o retrato do desgoverno bolsonarista: violento, armamentista e genocida! O coordenador, claro, é um tenente do Exército! Militares, façam um favor ao Brasil e voltem para os quartéis!”, protestou.
“Meter fogo nos índios isolados”! É isso o que disse um coordenador da Funai do Vale do Javari (AM), em áudio vazado pela Folha, diante de um impasse entre aldeias na região. O tenente da reserva Henry Charles Silva reproduz a linha bolsonarista de genocídio a povos originários!”, reagiu o deputado Ivan Valente (Psol-SP).
“Eles agridem homossexuais, gritam com mulheres, ofendem jornalistas, xingam cientistas e, agora, falam em ‘meter fogo’ em indígenas. Falta mais o quê? Cortar a cabeça das pessoas em praça pública?”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE).
Coiab
Por meio de nota, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) afirmou que a situação coloca em risco a sobrevivência dos povos isolados.
“É inadmissível que um órgão Indigenista, que deveria por sua obrigação lutar para proteger os povos indígenas, tenha um coordenador anti-indígena que em áudio fala sobre ‘meter fogo nos isolados’, colocando em risco a vida desses povos”, diz a Coiab.
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O que diz a Funai
O BNC entrou em contato com a Funai em Brasília, vinculada ao Ministério da Justiça, e respondeu que a fala do coordenador regional Henry Charlles Lima da Silva, citada no texto, não representa a posição oficial da instituição.
Leia a resposta
“Acerca de reportagem publicada nesta quinta-feira (22) na versão online do jornal Folha de S.Paulo, a qual reproduz áudio referente a uma reunião entre servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) e lideranças, na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, a Funai esclarece que a fala do coordenador regional Henry Charlles Lima da Silva, citada no texto, não representa a posição oficial da instituição.
Cumpre informar que a Política para Proteção de Índios Isolados é executada pela Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recente Contato e localmente pela Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari. A Funai acompanha atentamente os relatos dos Marubo do rio Ituí em relação à presença de índios isolados no entorno de suas aldeias, bem como tem envidado todos os esforços para evitar qualquer conflito interétnico na região. Três equipes já foram deslocadas para as aldeias Marubo nos meses de abril, junho e julho. Além disso, as equipes da Funai que desempenham suas funções na Base de Proteção Etnoambiental Ituí seguem atentas ao caso.
Por fim, a Funai ressalta que sua atuação é pautada na mediação de conflitos, redução de tensionamentos e formulação de estratégias para apaziguar as relações entre os indígenas. A fundação destaca, ainda, que não compactua com qualquer conduta ilícita, bem como com juízos açodados, emitidos antes que seja concluída a rigorosa apuração dos fatos”.
Foto: Adam Mol/Funai