Por ocasião do Dia Internacional dos Povos Indígenas do Mundo (9 de agosto), a alta-comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet (foto ), advertiu que 23 mil indígenas estão infectados pela covid-19 na Bacia do Amazonas.
Segundo ela, houve na região mais de mil mortes, entre as quais de vários anciãos com profundo conhecimento de tradições ancestrais, incluindo a trágica morte no Brasil do cacique Aritana, do povo Yawalapiti.
Em nota divulgada pela ONU, Michelle Bachelet afirmou que na vasta região, que abrange áreas de Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, vivem 420 ou mais povos indígenas.
Ela diz esse contingente sofre com a exploração de suas terras por ação de invasores. “Estão cada vez mais danificadas e poluídas pela mineração ilegal, exploração madeireira e agricultura de corte e queima”, diz.
Apesar de regulamentações restritivas, muitas destas atividades econômicas ilegais têm continuado nos últimos meses.
A movimentação de missionários religiosos também expõe as comunidades a um elevado risco de infecção.
“Os povos indígenas que vivem em isolamento voluntário das sociedades modernas, ou que se encontram nas fases iniciais de contato, podem ter uma imunidade particularmente baixa a infecções virais, criando riscos especialmente agudos”, disse Bachelet.
E prosseguiu: “As comunidades e povos que foram forçados a abandonar suas terras são também muito vulneráveis, particularmente aqueles que vivem em territórios transfronteiriços.”
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A alta-comissária da ONU diz que o modo de vida comunitário dos indígenas pode aumentar a probabilidade de contágio rápido, embora muitas comunidades têm se organizado para adotar medidas protetivas como o isolamento social.
“Aqueles que vivem em ambientes mais urbanos sofrem com frequência com a pobreza multidimensional, danos que são agravados por uma severa discriminação, inclusive no contexto dos cuidados de saúde”, declarou.
Orientações
Em junho, o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) emitiu orientações sobre os direitos humanos dos povos indígenas no contexto da covid-19 .
O documento destaca práticas promissoras adotadas por vários países, muitas em estreita consulta com os povos indígenas, e enfatiza recomendações práticas com impacto imediato e a longo prazo sobre a saúde.
“De modo geral, a pandemia ressalta repetidamente a importância de assegurar que os povos indígenas possam exercer os seus direitos de autogoverno e autodeterminação”, disse a alta-comissária da ONU.
“Eles devem também ser consultados e devem poder participar na formulação e implementação de políticas públicas que os afetam, através de suas entidades representativas, líderes e autoridades tradicionais.”
Segundo ela, trata-se de salvar vidas e proteger “uma preciosa rede de culturas, línguas e conhecimentos tradicionais que nos ligam às raízes profundas da humanidade”.
“Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, meu escritório compromete-se a trabalhar com os povos indígenas, bem como com a Organização Mundial de Saúde, as equipes das Nações Unidas nos países, os mecanismos de direitos humanos da ONU, e os Estados, para apoiar uma melhor proteção dos seus direitos humanos fundamentais”, concluiu.
Foto: Fotos Públicas/Ximena Navarro/Governo do Chile/arquivo