Já está na Universidade de Brasília (UnB) o extrativista acreano Raimundo Mendes, 78 anos. Ele é primo do sindicalista e ativista político Chico Mendes, assassinado em dezembro de 1988, em Xapuri, no Acre.
Raimundo Mendes e mais de 250 lideranças dos territórios tradicionais de uso comum estão na capital do Brasil para participar 6º Congresso Nacional das Populações Extrativistas. O evento começa nesta terça-feira (13) e vai até a próxima sexta-feira, dia 17 novembro, na UnB.
Desse modo, o primo de Chico Mendes e as demais lideranças extrativistas representam coletivos, associações, cooperativas e sindicatos pela conservação da floresta viva.
No entanto, a mesa de abertura está prevista para ocorrer na manhã desta terça-feira (16) e a expectativa é que o presidente Lula da Silva esteja presente.
Além dele, há confirmação da ministra do Meio Ambiente Marina Silva, e ministros de diversas pastas voltadas à agricultura, pesca, desenvolvimento agrário e social.
Com a temática “Populações tradicionais extrativistas, em defesa da floresta e do clima”, o Congresso é promovido pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS). Esse movimento foi criado pelo líder seringueiro Chico Mendes e que completa, este ano, 38 anos de resistência.
Assista ao vídeo em que Raimundão, primo de Chico Mendes, fala da luta do ativista político, assim como do primeiro Congresso Nacional dos Seringueiros há 38 anos.
Temas em pauta
Em plenárias e grupos de trabalho, as lideranças vão debater pautas relacionadas à mudanças climáticas e crédito de carbono, manutenção e consolidação de territórios de uso coletivos. Assim como sobre organização e gestão e políticas públicas em educação, saúde, produção, crédito, saneamento básico e energia elétrica.
Dessa forma, os assuntos vão abordar, em diferentes aspectos, as Reservas Extrativistas (Resex) e os Projetos de Assentamento Extrativista (PAE). E ainda vão tratar das Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS), os Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS) e outros territórios de uso comunitário.
De acordo com o presidente do CNS, Júlio Barbosa, o objetivo do congresso é sintetizar novas ideias que reforçarão o plano de ação da entidade. Além do mais, a criação de novos territórios, consolidação das áreas existentes e proteção das populações tradicionais.
Redemocratização
Ainda, segundo Barbosa, o 6º Congresso Nacional das Populações Extrativistas acontece no momento em que o Brasil retoma o processo de redemocratização, após graves turbulências políticas e sanitárias, onde nossos territórios foram extremamente ameaçados.
“Nos últimos anos, vivemos enormes desafios para tornar o meio ambiente equilibrado, justo e de todos e todas, como avanço do desmatamento, extração de madeira e garimpagem ilegal”.
E prossegue:
Houve também o aumento da violência contra nossas lideranças e a carência de políticas públicas de implementação, governança e gestão dos territórios. Portanto, todas as contribuições integrarão nossos próximos passos em prol da floresta viva e pelo futuro dos povos tradicionais”, enfatizou Júlio Barbosa.
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Conselho de seringueiros
A criação do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), antigo Conselho Nacional dos Seringueiros, aconteceu no dia 17 de outubro de 1985, durante o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, realizado na Universidade de Brasília (UnB). Esse primeiro encontro contou com a participação de mais de 100 lideranças extrativistas do Acre, Rondônia, Amazonas, Pará e Amapá.
“Recém saído de um longo processo de ditadura militar (1964-1985), o movimento de seringueiros do Acre, liderados por Chico Mendes, viu no incipiente processo de redemocratização uma oportunidade para defender o seu projeto de reforma agrária para a Amazônia”, lembra o atual presidente da entidade.
Legado
Na avaliação dele, um dos grandes legados coletivos daquele encontro foi a apresentação, por Chico Mendes, da proposta das reservas extrativistas. Estas, um modelo de reforma agrária ecológica, adaptado à realidade dos povos da floresta, inspirado pelas reservas Indígenas.
Segundo o CNS, hoje, essas áreas somam mais de 22 milhões de hectares de florestas protegidas e conservadas pelas populações extrativistas em todo Brasil.
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Fotos: divulgação