Desova do “tratamento precoce” em indígenas é alvo da CPI da covid

Conforme denúncias, o governo federal “desovou" (escoar estoque) o “kit covid”, formado de remédios sem eficácia comprovada contra o coronavírus

Mariane Veiga

Publicado em: 04/05/2021 às 19:44 | Atualizado em: 04/05/2021 às 19:46

Denúncias que vêm desde 2020 dão conta que o governo Bolsonaro distribuiu cloroquina e outros remédios do chamado “tratamento precoce” da covid (coronavírus) nas aldeias indígenas da Amazônia. Esse é um tema que agora tem foro apropriado de apuração, que é a CPI da covid (CPI da pandemia).

Conforme essas denúncias, o governo federal “desovou” (escoar estoque) o “kit covid”, formado de remédios sem eficácia comprovada contra o vírus.

“Um pessoal de Brasília foi à terra ianomâmi e levou três mil quilos de cloroquina”, afirmou Júnior Hekuari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indigenista Yanomami e Ye’kuana.

Ele confirmou a Renata Lo Prete (G1/Globo) que a recomendação era dar o kit a qualquer um que apresentasse suspeita de coronavírus.

Além desses indígenas do Amazonas e Roraima, há relatos oriundos de Rondônia, outro estado amazônico. Lá, documentos públicos orientam explicitamente o tratamento com o chamado “kit covid”.

Uma das vítimas fatais desse “tratamento precoce” pode ter sido Aruká Juma, o último homem de sua etnia.“Tudo indica que Aruká morreu por negligência no tratamento”, diz um desses documentos.

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Sugestões para CPI investigar

Como resultado, representantes indígenas vão indicar pelo menos 15 sugestões de temas para investigação da CPI da covid.

Entre elas, orientação do Ministério da Saúde para o uso de ivermectina e cloroquina em índios do Amazonas.

Conforme avaliação dos indígenas, há “abandono e negligência” do governo federal no combate ao vírus nas aldeias.

Em Roraima, o Ministério Público Federal (MPF) investiga a distribuição de cloroquina às comunidades indígenas.

Equipes dos ministérios da Saúde e da Defesa e da Fundação Nacional do Índio (Funai) realizaram recentemente ação sobre o coronavírus entre os ianomâmis da reserva Raposa Serra do Sol.

A ideia do MPF-RR é apurar se houve o desrespeito ao isolamento de comunidades que temem os riscos de infecção pelo coronavírus. Além disso, a distribuição de cloroquina aos indígenas.

Conforme o MPF, foi uma “operação com vultoso gasto de recursos públicos”.

Leia mais no G1/RR e O Globo.

Foto: Marcio James/Prefeitura de Manaus