Funai pede desculpas às famílias de Bruno e Dom, corrigindo difamação
Nota do governo Bolsonaro foi publicada em junho de 2022, logo após o desaparecimento do indigenista e do jornalista inglês.

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 28/02/2023 às 16:16 | Atualizado em: 01/03/2023 às 10:57
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) fez um pedido formal de desculpas às famílias do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Isso porque os nomes deles teriam sido insultados pela antiga direção do órgão, no governo Bolsonaro, no momento mais difícil da vida de suas famílias, quando ocorreram os assassinatos em 5 junho de 2022.
Por conta disso, a Funai corrigiu nesta terça-feira (28) os termos da nota publicada pela fundação, quando era presidida pelo delegado Marcelo Xavier. O documento foi considerado difamatório e violento pela atual gestão, comandada pela ex-deputada federal, a indígena Joenia Wapichana.
A nota publicada no dia 10 de junho de 2022, apenas cinco dias após o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips, ameaçava a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) de processo judicial e trazia uma série de inverdades contra Bruno e Dom.
O texto foi retirado do site da Funai por ordem da Justiça Federal do Amazonas, que considerou a nota “violadora de direitos humanos”, “inoportuna”, “indevida” e que seu conteúdo não era “compatível com a realidade dos fatos e com as normas em vigor”.
Ao se retratar, a Funai pediu desculpas pelo que chamou de capítulo lamentável de sua história. Disse ainda que é dever do Estado brasileiro reconhecer a violência difamatória que sofreram, desculpar-se com seus familiares e nunca mais permitir a repetição de atos dessa natureza.
Afirmamos a importância do trabalho da Univaja, organização indígena cuja colaboração é fundamental para a proteção e promoção dos direitos indígenas na região do Vale do Javari e sem a qual os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips não teriam sido, pelo menos em parte, solucionados. Foram os indígenas do Javari que localizaram o ponto exato dos crimes e forneceram informações cruciais para que as investigações pudessem se aprofundar, diz a nova nota da Funai.
Trabalho reconhecido
De acordo com a Funai, Bruno Pereira era um indigenista dedicado, de seriedade e compromisso amplamente reconhecidos, que sofreu perseguição dentro do órgão que o deveria proteger e foi exonerado de suas funções por incomodar criminosos, ou seja, por cumprir o seu dever como funcionário do Estado.
Pagou com a vida pelo comprometimento inabalável que tinha com os povos indígenas. Dom Phillips era um jornalista que devotava seu trabalho à proteção da Amazônia e de seus povos e também pagou com a vida por essa dedicação.
Leia mais
Viúvas de Bruno e Dom visitam região do crime no Vale do Javari
Reaberta investigação do servidor da Funai morto antes de Bruno Pereira
Homenagem a Maxciel
Nesta segunda-feira (27) a Funai este presente, com outras autoridades federais e ministros, no Vale do Javari, a convite da Unijava. De acordo com a entidade, foi o primeiro passo para retomada do Vale do Javari, assolado por quadrilhas criminosas diante do abandono promovido pelo governo Bolsonaro.
Na ocasião, a Funai também prestou homenagem ao indigenista Maxciel Pereira, que em função dos trabalhos na fiscalização da terra indígena Vale do Javari também foi assassinado pelo crime organizado que atua na região.
A negligência de autoridades públicas e sua atuação muitas vezes contrária aos direitos indígenas está diretamente relacionada a esse crime e a todos os outros que ocorreram no Javari. A Funai se compromete a acompanhar e cobrar a resolução das investigações, para que a família de Maxciel tenha direito à Justiça, disse Joenia.
Com informações da Funai.
Foto: Ilustração