Gigante da Amazônia, pirarucu é oportunidade, mas também ameaça
Considerado uma espécie invasora de rios, o pirarucu é uma ameaça à biodiversidade, devido ao seu apetite voraz e ausência de predadores naturais

Ferreira Gabriel
Publicado em: 29/12/2023 às 16:35 | Atualizado em: 29/12/2023 às 16:37
Maior peixe de água doce do mundo, o pirarucu avança mais 40 km nos rios da bacia amazônica, chegando a Amazônia Boliviana, onde o chamam de paiche.
De acordo com Federico Moreno, diretor do Centro de Investigação de Recursos Aquáticos da Universidade Autônoma de Beni, na Bolívia, seu tamanho e apetite fazem dele uma séria ameaça para as populações de peixes nativos.
“É um peixe territorial, toma conta de um corpo d’água e afugenta as espécies nativas. Esse é um problema grave. As outras espécies fogem do predador e entram em outros corpos d’água muito mais distantes e de difícil acesso”, explica Moreno.
Ninguém sabe ao certo o ano exato em que o pirarucu apareceu pela primeira vez na Bolívia.
Acredita-se que sua chegada tenha sido resultado de uma fuga de uma piscicultura de pirarucus no Peru, onde esses peixes são nativos. De lá se espalhou pelos rios da Bolívia.
No Brasil, o pirarucu também é considerado espécie invasora em alguns rios do norte do país. Nos últimos anos, foi avistado até mesmo em rios do interior de São Paulo, onde é considerado uma ameaça à biodiversidade, devido ao seu apetite voraz e ausência de predadores naturais.
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Oportunidade
Para os pescadores locais, a chegada do pirarucu tem sido uma oportunidade.
Embora no início tivessem medo, os pescadores logo perceberam seu potencial, diz Guillermo Otta Parum.
“Quando trouxe o primeiro peixe, dei pequenos pedaços aos clientes para que experimentassem.”
Alguns pescadores chegaram a dizer que era uma espécie de bagre para vencer a resistência das pessoas em comer um peixe tão grande.
Agora, o pirarucu é consumido em toda a Bolívia.
Edson Suzano administra uma fábrica de processamento de pirarucu em Riberalta, cidade no nordeste da Bolívia, perto da fronteira com o Brasil.
“Vendemos em todos os lugares: supermercados, mercados. Há diferentes cortes, então é relativamente barato. Compramos e processamos cerca de 30 mil kg por mês”, afirma.
O desafio dos pescadores é tentar encontrar o pirarucu na enorme extensão da Amazônia.
O peixe tem um órgão semelhante a um pulmão e precisa subir regularmente à superfície para respirar, por isso, prefere águas mais calmas. Geralmente, vive em lagos e lagoas, mas migra quando se sente em perigo.
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil