Governo federal confessa incompetência ao fechar porto de Parintins
Lista de "considerandos" do Dnit só comprovam que a decisão tomada em Brasília se deve mais a providências que não adotou para o festival
Aguinaldo Rodrigues, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 23/06/2022 às 10:34 | Atualizado em: 23/06/2022 às 14:33
A exposição de “considerandos” da direção do Dnit para fechar o porto público de Parintins a dois dias da maior festa folclórica da região Norte é uma carta que o Governo do Amazonas e o prefeito da cidade devem guardar com carinho. Nela, o órgão responsável pela gerência do local, em nome do governo federal de Bolsonaro, faz sua confissão de incompetência de administração.
Aliás, essa já era uma certeza visível. Afinal, faz três anos que o governo federal reduziu a capacidade de operação do maior porto de entrada do estado pelo rio Amazonas. A estrutura só servia mesmo nesse período para o embarque e desembarque de passageiros. Para carga e descarga, os empresários dos barcos tinham de se virar em portos improvisados, encarecendo seus custos.
Só que agora, com a declaração de incompetência, o governo federal, via Dnit, prejudicou Parintins com requinte de crueldade. Tendo em mãos com bastante antecedência o plano do festival, esperou que os barcos abarrotados de turistas começassem a chegar à cidade, oriundos de Manaus e de cidades do Pará, principalmente, para bater as portas na cara dos visitantes.
Até mesmo a Marinha, que monta enorme operação para fiscalizar a navegação, não foi consultada. E olha que estamos falando de uma força federal, que imaginava-se integrante das decisões pertinentes às suas atribuições.
O próprio comando da Marinha alertou que o Dnit não levou em conta que o porto tem licença para funcionar no embarque e desembarque até 1º de julho. Depois disso, entraria em manutenção que o governo não faz há 16 anos.
Porto do Dnit na manhã da véspera do festival, quando chegam à ilha milhares de turistas
Na ilharga do porto do Dnit às moscas, a muvuca de chegada dos barcos recheados de turistas
Dessa forma, Parintins e o Amazonas não poderiam ser prejudicados de uma maneira covarde. Afinal de contas, o Dnit se declarou um gestor incompetente até para questões básicas, que se resolveriam até em uma parceria com a prefeitura.
Por exemplo, a “organização dos procedimentos para atracação e limitações” e “a necessidade de delimitação do fluxo de passageiros sob o convés e a de evitar aglomerações”. Eram providências que qualquer gestor público atento tomaria a bom tempo.
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Na véspera do festival, governo federal fecha porto de Parintins
“Considerandos” da ignorância
Em outros “considerandos”, a direção do Dnit nos gabinetes refrigerados de Brasília expõe mais sua incapacidade:
“[…] que seja avaliado o contingente atual de profissionais atuantes no porto é suficiente para suprir à quantidade de atividades a serem desenvolvidas durante o festival, assim como rádios para comunicação no local”.
Como conclusão, a diretora Karoline Lemos, a partir de Brasília, faz a confissão-chave que motivou a decisão de fechar o porto que talvez ela não consiga visualizar a importância estando tão distante da ilha do rio Amazonas:
“[…] que as equipes da Superintendência Regional do DNIT/AM não são suficientes para assegurar e garantir a limitação do fluxo de pessoas sobre o flutuante”.
Ora, como se percebe, são todas essas situações de pleno conhecimento do responsável pelo porto. À exceção dos últimos dois anos, tudo se repete do mesmo jeito: número de barcos, quantidade de turistas-passageiros etc.
Karoline alega, entre outras frágeis questões, que está zelando pela vida humana. É bom que ela fique atenta aos riscos a que expôs os mais de 100 mil passageiros dos barcos, obrigados por sua medida a descer dos barcos se equilibrando sobre pranchas de madeira.
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Contrassenso ou desgoverno?
A desnudar que o fechamento do porto é um ato na contramão do incentivo ao festival de Parintins que o governo federal deve ao Amazonas, o próprio site do Dnit chama o turista para a cidade.
Usando artistas dos bois Caprichoso e Garantido, publicações compartilhadas pelo site do Ministério do Turismo chamam o turista para a festa cultural.
Leia um dos trechos:
“O município de Parintins (AM), distante 369 quilômetros da capital Manaus, é palco de umas das mais importantes celebrações culturais do país, o Festival de Parintins. No Bumbódromo, os bois Garantido e Caprichoso se enfrentam e encantam os presentes no local. A rivalidade é tanta que extrapola os limites da arena. Até a decoração das ruas entra na disputa das cores que divide a cidade. Casas, bares, postes, telefones públicos: tudo é vermelho ou azul”.
Só boato
No final do dia de ontem, após a notícia ruim de fechamento do porto, dada em primeira mão pelo BNC Amazonas, circulou na ilha que o Dnit ia recuar da sua medida. O prefeito Frank Bi Garcia estava otimista e teve até vereador de Parintins comemorando em redes sociais.
Contudo, até o meio da manhã de hoje (23), nada havia mudado. O porto do governo federal continuava às moscas. E bem ao lado, em estrutura improvisada, o movimento frenético de passageiros ávidos para brincar de boi-bumbá.
Fotos: BNC Amazonas