Em nota, a Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa) repudiou a nomeação do amazonense João Pedro e do paraense Márcio Meira, ambos ex-presidentes da Fundação Nacional do Índio (Funai), no grupo de transição dos povos originário da equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Ficamos indignados em ver o nome de dois não indígenas, inclusive, um dos quais é do Pará, por isso manifestamos que, não aceitamos não indígenas na equipe de transição dos Povos Originários”, diz a Fepipa.
Ao BNC Amazonas , João Pedro disse que foi convidado para a equipe de transição pelo governo eleito por conta da sua experiência no tema, sobretudo por ter dirigido a Funai.
“Sou da Amazônia, do Amazonas, e tenho uma vida dedicada às causas indígenas. A transição é responsabilidade dos partidos políticos e do governo. A [reivindicação ] indicação é um direito deles e um direito do governo”, disse.
Também repudiaram a ausência no grupo de indígenas do Pará, o segundo com maior quantidade e diversidades de povos – o primeiro é o Amazonas.
A Federação diz que os indígenas do estado estão preocupados com a formação da equipe da transição responsável pela “organização das orientações para o Governo Lula relativa aos povos originários”.
“Participamos ativamente na eleição de Lula confiantes na mudança do cenário de morte que Vivíamos e acreditando na volta do poder popular, da democracia e na participação efetiva dos povos Indígenas na construção das políticas públicas e nos instrumentos de execução das políticas de Estado, como é o Ministério dos Povos Indígenas”, criticaram.
A Federação alegou que tem capital social indígena para fazer parte do processo de transição e apresentar o melhor para o governo Lula e para as políticas públicas indigenista no país.
“Queremos ser respeitados e sugerimos que no lugar dos Não Indígenas sejam indicados Indígenas do Estado do Pará. Chega de colonialismo, não precisamos mais de Tutor. Só nós sabemos melhor o que é melhor pra nós! Nós indígenas!”, finalizou.
Ampliação
Por pressão da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o grupo de transição dos povos originários terá mais cinco nomes indígenas, mas nenhum do Pará.
De acordo com O Globo, são eles: Eloy Terena, coordenador jurídico da Apib ; Weibe Tapeba, coordenador da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince) e do jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme); Kleber Karipuna, coordenador-executivo da Apib e ex-secretário executivo da Coiab; Kerexu, cofundadora a Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga)); e Yssô Truká, liderança do povo Truká e da Apoinme.
Leia mais
Confira o grupo povos originários:
Benki Piyãko, também conhecido como Benki Ashaninka representante político e xamânico do povo Ashaninka.
Célia Nunes Correa, também conhecida como Célia Xakriabá, professora e ativista indígena do povo Xakriabá em Minas Gerais. Integra a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade e é deputada federal eleita.
Davi Kopenawa Yanomami: escritor, ator, xamã e líder político yanomami. Atualmente, é presidente da Hutukara Associação Yanomami, entidade indígena de ajuda mútua e etnodesenvolvimento.
João Pedro Gonçalves da Costa: ex-deputado estadual, ex-senador pelo Amazonas, servidor aposentado e ex-superintendente do Incra e ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Joênia Batista de Carvalho: conhecida como Joênia Wapichana, foi a primeira mulher indígena a exercer a profissão de advogada no Brasil e a primeira eleita deputada federal, representando Roraima, nas eleições de 2018.
Juliana Cardoso: educadora, ativista dos movimentos sociais e sindicais, vereadora pelo PT de São Paulo, foi eleita deputada federal pelo estado.
Marcio Augusto Freitas de Meira: historiador e antropólogo do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará, foi presidente da Funai entre 2007 e 2012.
Marivelton Baré: presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro.
Sônia Bone de Souza Silva Santos: conhecida como Sônia Guajajara, líder indígena e política filiada ao Psol, é formada em letras e em enfermagem e especialista em educação especial pela Universidade Estadual do Maranhão. Recebeu em 2015 a Ordem do Mérito Cultural. Deputada federal eleita por São Paulo.
Tapi Yawalapiti: cacique do povo Yawalapíti da região do alto Xingu.
Foto: Agência Cenarium/reprodução