O grupo de índios isolados moxihatetea, que vive no território indígena Yanomami, entre os estados do Amazonas e Roraima, está seriamente ameaçado de extinção.
A denúncia foi feita pelo líder indígena Davi Kopenawa Yanomami que entregou na terça-feira, dia 3, na Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, na Suíça, um relatório sobre a ameaça ao seu povo.
“Talvez em breve estarão exterminados. É o que eu acho. Os garimpeiros, sem dúvida, vão matá-los com suas espingardas e suas doenças, a sua malária, a sua pneumonia (…) Os indígenas não têm vacinas de proteção, vão todos desaparecer”, disse Davi Yanomami, que falou na sua língua com tradução da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha e Laura Greenhalgh.
Segundo ele, os garimpeiros se aproximam da área por uma trilha próxima ao rio Apiaú. “No início, eles trabalhavam com as mãos, mas agora usam máquinas. Descem as peças dessas máquinas de um helicóptero para, depois, montá-las ali mesmo. É assim”, contou.
Os Moxihatetea estão vigilantes e desejam ficar longe dos Brancos. “Eles não conhecem garimpeiros e não querem que se aproximem. Então, já fugiram muitas vezes. Mas agora não podem mais fugir”, denunciou.
O líder Kopenawa contou que os isolados fugiram subindo o rio Catrimani, mas nessa direção também encontraram garimpeiros.
Relatou que os guerreiros Moxihatetea atacaram os garimpeiros com flechas, mas receberam tiros de espingardas.
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Indígenas cercados
“Eles agora estão cercados. Por isso, estou falando para defender os Moxihatetea. Mas eu não conheço as suas casas, assim como vocês também não conhecem. Eu só as vi do céu, do avião. Nunca os visitei a pé. Nunca nos falamos. É por isso que estou muito preocupado”.
O líder indígena também relatou que os isolados têm o seu alimento roubado pelos garimpeiros.
“Começaram a roubar a comida dos roçados – a mandioca, as bananas, as canas de açúcar -, quando as suas provisões de arroz, farinha e latas de conservas se esgotaram. É o que aconteceu com os Moxihatetea isolados, e eu acho isso muito errado”, lamentou.
Os Moxihatetea são chamados assim por causa do prepúcio do pênis (moxi) preso entre dois barbantes (hatëtë) amarrados na cintura.
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Outros isolados
Além dos Moxihatetea, o líder lembrou que há outros isolados na suas terras localizados nas margens do rio Catrimani, nas cabeceiras do rio Xeriuini e na floresta próxima dos Waimiri-Atroari.
“São eles que cuidam verdadeiramente da floresta. São os Moxihatetea e todos os povos isolados da Amazônia que ainda guardam a última floresta. Mas os Brancos não sabem disso, porque eles não compreendem a língua desses povos. Os brancos apenas pensam: ‘O que eles estão fazendo aqui?’. E quando os Brancos chegam, são suas epidemias que chegam também com eles”, afirmou.
Foto: Foto: Joelle Hernandez/Funai