Mortes de Bruno e Dom não são fatos isolados, diz indigenista da Funai
Segundo ele, a região está invadida por pessoas que praticam diversos crimes ambientais em conexão com o narcotráfico internacional.

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 23/06/2022 às 20:20 | Atualizado em: 23/06/2022 às 20:36
O presidente do Indigenistas Associados (INA), Fernando Vianna, rebateu a versão propagada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) segundo a qual a morte do indigenista Bruno Ferreira e do jornalista inglês Dom Phillips se trata de um caso isolado. Os dois foram mortos em Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas
Viana participou de audiência na Comissão dos Direitos Humanos do Senado nesta quarta-feira (22). De acordo com ele, a região onde Bruno e Dom foram mortos está invadida por pessoas que praticam diversos crimes ambientais em conexão com o narcotráfico internacional.
“Bruno e Dom foram assassinados barbaramente na mesma região em que, em 2019, também foi assassinado um colaborador da Fundação Nacional do Índio (Funai) por conta de suas atividades. Maxiel era o nome desse colaborador”, lembrou.
De acordo com o servidor licenciado da Funai, antes da morte, as bases do órgão no interior da terra indígena foram objeto de ataques a tiros seguidas vezes.
“Esses grupos que entram, que invadem para praticar, para se apoderar ilicitamente dos recursos naturais da terra indígena Vale do Javari estão, hoje em dia, articulados com criminalidades, com forças do crime muito mais complexas, muito mais amplas, que têm conexões com o narcotráfico internacional”, explicou
“Estamos tratando de uma terra indígena numa região de tríplice fronteira, com Peru e Colômbia, tráfico internacional de armas”, completou.
Ele diz que essa situação grave vem sendo denunciada pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) há muito tempo. E Bruno foi exonerado do cargo de coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai por que “vinha fazendo o que deveria ser feito”.
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Garimpo
“Há várias situações que merecem esse combate por parte da Funai, das ilegalidades, por exemplo, de garimpo, que afetam essas terras indígenas. E isso requer uma articulação da Funai com outros órgãos para o combate a essas atividades ilícitas que afetam as terras com presenças de isolados e de indígenas de recente contato”, afirmou.
Disse que Bruno estava atuando como sempre fez quando foi exonerado do cargo. “Talvez tenha sido a pessoa que percebeu mais rapidamente o que estava em curso e que segue em curso hoje na Funai, que é uma gestão absolutamente comprometida com o contrário do que deveria ser a missão institucional do órgão indigenista”, criticou.
Vianna disse ainda que a atual gestão da Funai não tem compromisso com os direitos indígenas, mas com os interesses econômicos e dos setores que querem as terras para se apoderar dos recursos naturais.
Foto: Reprodução