Agenda de Mourão no Amazonas esconde realidade, diz liderança indígena
Mourão tem a missão de convencer diplomatas estrangeiros de que não é verdade o que se propaga sobre destruição da floresta amazônica

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 03/11/2020 às 19:17 | Atualizado em: 03/11/2020 às 20:34
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), desembarca, nesta quarta-feira, dia 4, em Manaus. Estará acompanhado de embaixadores europeus para visitar pontos turísticos. Na sexta-feira, dia 6, seguirá para São Gabriel da Cachoeira e Maturacá, no noroeste do Amazonas.
Mourão coordena o Conselho da Amazônia, cujo um dos objetivos é melhorar a imagem do país no exterior. Nesse contexto, a imagem brasileira está desgastada pelos altos índices de queimadas e desmatamento na Amazônia.
No entanto, essa situação é contestada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).
O governo brasileiro, portanto, está sob pressão de fundos de investimentos estrangeiros que ameaçam deixar o país.
Tal ameaça pode se consolidar caso o governo não demonstre ações de proteção aos seus biomas, sobretudo à Amazônia.
Para Marivelton Baré, presidente da Foirn, no entanto, o vice-presidente não terá sucesso no seu propósito. A entidade é a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro.
“Quando sobrevoar o noroeste do Amazonas é claro que ele vai encontrar um tapete verde. E índice de desmatamento quase zero. É uma agenda para esconder a realidade”, disse o líder indígena ao BNC Amazonas.
Baré confirmou que foi procurado e manteve contato com os mesmos embaixadores da comitiva de Mourão.
“Essa gente não sabe que não estamos mais no século 19? Estamos no século 21. Eles (europeus) têm acesso a monitoramento das áreas preservadas e dos locais onde a situação é crítica. Então, eles não vão conseguir maquiar a realidade”, disse.
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Governo ausente da luta
Na conversa com os embaixadores, Baré explicou a luta dos indígenas para manter a região preservada. E lamentou, todavia, que atuam sem nenhum apoio do governo federal.
“Apresentamos o contexto da nossa diversidade. São 23 povos, nove terras indígenas e população de 40 mil. Eles deveriam priorizar na região uma série de política públicas na área de saúde e educação”.
O líder indígena não descarta, porém, questionar a comitiva em São Gabriel da Cachoeira. Baré vai querer saber quais as soluções para os problemas dos povos indígenas.

Serras de Tapuruquara fazem parte do noroeste do Amazonas, região das mais preservadas do estado e que estão no roteiro dos embaixadores estrangeiros
Foto: Foirn/divulgação
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Agenda no Amazonas
Em Manaus, os embaixadores visitarão o zoológico do Cigs (Centro de Instrução de Guerra na Selva), do Exército. Conhecerão também o centro gestor e operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam).
Conforme divulgação do Planalto, na quinta (5) a visita é ao laboratório-modelo de investigação de crime ambiental da Polícia Federal. Além disso, verão um projeto integrado de colonização do Incra. No fechamento, passeio pelo Encontro das Águas (dos rios Negro e Solimões).
Na conclusão da agenda, a comitiva viaja na sexta (6) a São Gabriel da Cachoeira. Em primeiro lugar visita o pelotão de fronteira no distrito de Maturacá. Em seguida, participam da formatura militar na 2ª Brigada de Infantaria de Selva. Por fim, conhecerão uma Casa de Apoio à Saúde Indígena.
Foto: Juliana Radler/ISA/divulgação (Distrito de Pari-Cachoeira, terra indígena Alto Rio Negro, roteiro da comitiva)