“O Brasil não é Bolsonaro”, diz relator do Parlamento Europeu

Eurodeputado também fala sobre o forte lobby de produtores europeus contrários ao acordo, os riscos do enfraquecimento do multilateralismo

"O Brasil não é Bolsonaro", diz relator do Parlamento Europeu

Publicado em: 14/07/2020 às 13:27 | Atualizado em: 14/07/2020 às 13:27

A missão do eurodeputado espanhol Jordi Cañas, relator do acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul no Parlamento Europeu, começou a ficar difícil desde junho do ano passado.

Na época, os dois blocos comemoraram um entendimento depois de 20 anos de idas e voltas comerciais.

De lá para cá, o Brasil se tornou alvo constante de críticas internacionais que miram especialmente a gestão ambiental do governo de Jair Bolsonaro.

 

Leia mais

CPI das fake news quer ver contas do PT banidas pelo WhatsApp

 

Os revezes no caminho do relator, que trabalha para que o acordo seja ratificado por todos os países dos dois blocos, começaram com a negação do presidente à onda de incêndios de 2019 na Amazônia.

Bolsonaro dizia que não havia fogo e chegou a culpar ONGs pelas chamas.

Os problemas ganharam corpo com o avanço do desmatamento, que alcançou recorde de mais de 10 mil km² nos primeiros nove meses de governo Bolsonaro e continua crescendo há 14 meses consecutivos segundo o Deter, sistema do governo que mede o ritmo da destruição de matas no país.

 

Mais problemas

 

Outra pedra no caminho do acordo foi a declaração do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre aproveitar a pandemia para “passar a boiada” por meio do relaxamento de regras ambientais.

Em junho, a fala foi criticada em uma carta assinada por dezenas de parlamentares europeus alarmados com as políticas ambientais no Brasil.

E em pelo menos dois países, Áustria e Holanda, os Parlamentos locais aprovaram moções contrárias à ratificação do acordo.

“Mais preocupante é que esses comentários apareçam em um momento em que as pessoas estão, de forma compreensível, distraídas com a pandemia de coronavírus”, dizia o texto.

 

Brasil não é Bolsonaro

 

“O Brasil não é Bolsonaro”, diz Canãs — mais de uma vez — em entrevista por telefone à BBC News Brasil, em referência à natureza do acordo: um tratado entre países, não entre governos, com efeitos a longo prazo para além da situação política atual.

À reportagem, critica Bolsonaro (“Por suas declarações, parece ir em linha contrária ao que acreditamos ser bom”) e o presidente francês Emmanuel Macron, (“é preciso ser respeitoso com a independência e a autonomia de um país”), e diz que a ratificação do acordo significará um controle maior sobre a preservação da Amazônia.

“Estou convencido de que a Amazônia estará mais protegida com um acordo com a União Europeia do que com um não-acordo com uma China que não se importa em nada em como se exploram os recursos”.

O eurodeputado também fala sobre o forte lobby de produtores europeus contrários ao acordo, os riscos do enfraquecimento do multilateralismo e faz uma mea culpa sobre a visão “muito carregada de preconceitos e informações estereotipadas” dos europeus sobre os latino-americanos.

 

Leia mais no BBC News

 

Foto: Divulgação