Aguinaldo Rodrigues , da Redação
Os habitantes dos municípios amazonenses de Humaitá, Apuí e Manicoré estão vivendo um drama com a cheia do rio Madeira e as intensas chuvas do inverno amazônico. Os reflexos são sentidos mais pelas comunidades ao longo das rodovias federais BR-319 (Manaus-Porto Velho) e BR-230, a Transamazônica.
Ribeirinhos e moradores de ramais das estradas são os mais prejudicados. Além de ficar desabrigados, perdem suas plantações e criações de animais. A canoa é o meio de transporte neste momento. As viagens ainda são pelas estradas, mas por sobre as águas que cobrem quilômetros de trechos.
E não são só esses os problemas. O isolamento das famílias traz falta de água e alimento. E até morte por doenças (diarreia, malária, dengue, leptospirose) e picadas de cobras e de outros animais peçonhentos é risco constante.
A quota do rio Madeira, que passa por Porto Velho, a capital de Rondônia, e desce atingindo diversos municípios até desaguar no rio Amazonas, passou dos 17,3 metros em relação ao nível médio do mar, e já é considerada de emergência.
Geralmente, as chuvas vão até abril. Na cheia recorde do rio Madeira, em 2014, acima de 19 metros, o estado de calamidade foi declarado no final de fevereiro, quando as águas atingiram 18,6 metros.
Na capital rondoniense, as águas desabrigaram ou desalojaram mais de 1.400 pessoas, invadem a região central e ameaçam prédios públicos, como os da Justiça Federal e do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), informou na sexta, dia 8, o site Rondônia Agora .
BR viram estradas de rio
Trecho da BR-319, após a ponte que passa por sobre o rio Madeira, precisou receber reforço de alteamento da pista com pedras. A lâmina de água na pista, por uma extensão de 50 metros, chegou a 25 centímetros, segundo o site do Diário da Amazônia . Dias antes, a população protestou interditando o local por estar intransitável.
Na Transamazônica, a BR-230, a situação é caótica entre os municípios de Humaitá à Apuí, no Amazonas. Vídeo mostra que as águas já tomaram totalmente o leito da estrada por pelo menos seis quilômetros, isolando totalmente as comunidades. A informação é do site Rondônia Ao Vivo .
Veja vídeos na Transamazônica e outros
O medo do cenário de 2014
“Quando chegamos às comunidades, a impressão era que pareciam cemitérios, muita lama espalhada, casas quebradas, pertences das pessoas jogados, carro, moto e restos de animais. Foi realmente uma cena muito triste e chocante que vai ficar marcada para sempre na minha vida”.
O relato é da assistente social Auricélia Cavalcante Santos, agente da Defesa Civil de Rondônia, sobre os efeitos do rio Madeira na cheia de 2014. Ela foi alvo de homenagem do site Rondônia Agora pelo trabalho das mulheres na ajuda aos prejudicados pela enchente.
Os aproveitadores de sempre
Não bastassem os prejuízos causados pela cheia e chuvas, quem se arrisca a trafegar pelas BR ainda tem de enfrentar os que se aproveitam para faturar com as dificuldades.
Para atravessar o rio na balsa do Igapó, no km 240 de Manaus a Humaitá, cada veículo paga R$ 20 à empresa que ganhou licitação para explorar o serviço. Só que outra balsa resolveu também oferecer travessia, cobrando R$ 30. A briga está estabelecida e as empresas alternam os dias. Hoje é mais caro, amanhã mais barato.
Oportunismo se repete na área rural de Porto Velho, próximo da ponte do rio Madeira. Condutores de carros de passeio e motocicletas que não se arriscam a enfrentar as águas têm de desembolsar até R$ 50 de pedágio para os guinchos.
Imagens pelo olhar dos habitantes
As fotos e vídeos são contribuições ao BNC Amazonas de leitores e habitantes das comunidades de Santo Antônio do Matupi, o 180; Manicoré, Humaitá e Apuí. Agradecimento especial ao Clube das Brutas, a Jaqueline Ferrasso, ao jornalista @vinicius_fotografo1416, André Dietrich e aos casais Nonato e Margarete e Iracy e Valdeci, e outros moradores da região atingida.
Na foto em destaque, ponte sobre o rio a 3 quilômetros de Humaitá, em direção ao Matupi/180.