Em Santo Antônio do Içá, município a 879 quilômetros de Manaus, as eleições municipais são disputadas de quatro em quatro anos por apenas dois grupos políticos.
Diferentemente de outros municípios, bem como na capital amazonense, onde várias frentes políticas se levantam para apresentar outras opções de candidatos, a situação naquela localidade resume a apenas dois lados.
Figura bastante conhecida na política içaense, o ex-prefeito Antunes Bittar Ruas (Podemos) tenta voltar ao poder a cada eleição firmando diferentes parcerias. Após passar mais de 12 anos no poder, Ruas amarga derrotas através de três eleições seguidas.
No último sábado (03/08), Antunes anunciou sua nova parceria com outra figura bastante conhecida pela população e que até pouco tempo atrás, era considerado por ele como um dos seus principais ‘adversários’ na política. Trata-se de Abraão Lasmar (PSD), empresário e ex-prefeito do município por dois mandatos seguidos.
‘Obras fantasmas’
Antunes é réu em um dos processos movidos pelo Ministério Público do Estado do Amazonas, que em 2024 completa 16 anos. Segundo o processo iniciado em 2008, Ruas na época era prefeito de Santo Antônio do Içá e presidente do Consórcio Intermunicipal da Mesorregião do Alto Solimões (Conaltosol), e que após firmar convênio com a empresa Pampulha Construções e Montagens foram acusados de ter gerado um rombo de mais de R$ 17 milhões aos cofres do governo do estado por meio de ‘obras fantasmas’.
Na época, a Justiça solicitou o sequestro e a indisponibilidade dos bens e imóveis, bem como a quebra do sigilo bancário e fiscal de Antunes, do então secretário estadual de Infraestrutura e do empresário e sócio da empresa Pampulha.
As obras que seriam realizadas pelo convênio em Santo Antônio do Içá, consistiam em três na zona rural (Lago Grande, Betânia e Juí) com a ampliação e melhoria do sistema viário destas comunidades, e três na sede do município com a reforma da Praça da Igreja, Calçadão e Coreto, além da pavimentação que dava acesso ao aterro sanitário da cidade.
Após uma inspeção realizada pelo Ministério Público em janeiro de 2008, foi constatado que a empresa Pampulha não havia realizado nenhuma obra no município, e tampouco na zona rural. “São obras inexistentes”, apontava o relatório. O órgão constatou regularidades semelhantes
Em março de 2017, Antunes, o ex-prefeito de Atalaia do Norte, Rosário Conte Galante Neto e três fiscais da Seinfra, foram condenados pelo Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) a devolver R$ 6.221.336,79 milhões aos cofres do Estado em virtude das irregularidades encontradas no convênio 86/2006, firmado entre a Seinfra e Conaltosol.
Na época, vários veículos de reportagem publicaram sobre o caso de improbidade administrativa que ficou conhecido como “obras fantasmas do Alto Solimões”. A reportagem não conseguiu localizar nem Antunes que está como pré-candidato a vice-prefeito de Santo Antônio do Içá, nem Rosário Conte e demais envolvidos.
Fotos: divulgação