“Aqui passa até uma carreta”, do obstetra do vídeo para paciente

Publicado em: 21/02/2019 às 23:47 | Atualizado em: 21/02/2019 às 23:47
Aguinaldo Rodrigues, da Redação
Justamente no dia (20) em que sua imagem corria o mundo pelas redes sociais e sítios na internet, flagrado em vídeo agredindo física e moralmente uma paciente fragilizada pelo ato de dar à luz, o médico obstetra Armando Andrade de Araújo, de 71 anos, foi normalmente tirar plantão no SPA Galileia, na zona norte de Manaus.
Quem denuncia a incômoda presença do médico ao BNC Amazonas são servidores da unidade de saúde do estado, que dizem não suportar mais trabalhar com Armando.
Uma enfermeira, que já assistiu o obstetra em vários partos, se refere a ele como “nojento, caquético, sem pudor. Meu Deus, ele é horrível. É muito desumano”.
“Ele não tem higiene, vai para o procedimento sujo”, afirmou ela.
Segundo a profissional de enfermagem, os casos de humilhação e constrangimento às parturientes são frequentes.
Por exemplo, quando a paciente diz “doutor, não consigo [parir]”, pelo método normal, ele responde:
“Aqui passa até uma carreta”.
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Agressão importa menos que o vídeo
Enquanto circulava tranquilamente pelo SPA, o Instituto de Ginecologia e Obstetrícia do Amazonas (Igoam), cooperativa médica que contratou o médico para prestar serviço ao Governo do Estado, informava que só tinha tomado conhecimento do episódio ocorrido com a gestante em 2018, na maternidade Balbina Mestrinho, na zona sul de Manaus, por meio da imprensa.
E que ia abrir procedimento disciplinar para averiguar o caso.
Hoje, dia 21, depois de se reunir com o secretário de Saúde (Susam) e vice-governador, Carlos Almeida Filho (PRTB), o Igoam anunciou que o obstetra será suspenso até a conclusão de investigação administrativa.
Em nota que distribuiu à imprensa, contudo, a cooperativa mostra mais disposição de procurar saber quem filmou e divulgou o vídeo do médico agredindo a jovem de 16 anos, em uma situação de total vulnerabilidade, do que a própria conduta violenta de seu cooperado.
Veja o que diz o Igoam, em trecho de nota reproduzida pelo portal Em Tempo:
“O Igoam se solidariza a parturiente e seus familiares e espera que os órgãos competentes investiguem e denunciem os responsáveis pela filmagem e divulgação nas redes sociais e imprensa, sem autorização dos presentes, causando constrangimento e dano irreparável aos envolvidos, ao invés do devido encaminhamento a ouvidoria da maternidade, onde seria evitada a desnecessária exposição da parturiente”.
Vídeo incentivou outras vítimas a denunciar
A parturiente, entrevistada pela TV A Crítica, mostrou mais preocupação com a agressão sofrida pelo cooperado do Igoam, que lhe causou trauma bastante para não mais querer engravidar, do que com a divulgação do vídeo, que serviu para alertar a atitude de um mau profissional que se multiplica em denúncias e processos criminais.
Foi graças a esse vídeo que o governo e as autoridades puderam saber que o obstetra Armando Araújo cometia contra a jovem outro crime no mesmo ano em que era condenado a dois anos de prisão. Ele foi um dos envolvidos na operação Jaleco.
Ou seja, quem gravou o médico praticando um crime contra uma mulher grávida, ainda que a tenha exposto a constrangimento, prestou um serviço público. Foi só depois da divulgação do vídeo pela imprensa que 16 vítimas do médico procuraram a produção da TV A Crítica (veja no A Crítica Play) para denunciar agressões.
Obstetra Armando Araújo é acusado de ser desumano com pacientes
Forçando a cesariana paga
Armando é acusado por uma delas de forçar situação para que o parto fosse por cirurgia cesariana, e aí, embora a paciente estivesse internada em unidade pública, ele só faria mediante o pagamento de R$ 4 mil. Como a família da vítima só conseguiu R$ 2 mil, o médico teria aceitado, segundo a parturiente. O episódio foi há seis anos.
Fotos: Reprodução/TV