A parteira Maria Zenaide de Souza Carvalho relata sua trajetória, que começou aos 23 anos, no dia 22 de janeiro de 19979. Desde então, já foram 306 partos.
Contudo, ela diz que história dela como parteira na floresta começou muito antes: quando tinha apenas 10 anos de idade. Ou seja, ainda menina fez o parto de uma tia.
“Não tinha posto ou hospital. E a gente queria se ajudar.” A maioria dos mais de 300 partos ocorreram no interior do Acre. Como narra a reportagem da Agência Brasil.
Hoje, Maria Zenaide vive em Rio Branco. Mudou para a capital depois que sofreu violência sexual no interior. Agredida, deixou de enxergar com o olho esquerdo.
Um dos partos marcantes em sua trajetória, ela recorda a ocasião em que andou por oito horas.
“A criança e a família não tinham uma cama ou uma roupa para cobrir. Às vezes, eu chorava diante dessas desigualdades.” Veja o vídeo:
VIDEO
Voluntária
Zenaide explica que o trabalho de parteira é voluntário e é feito por causa do amor “que temos uns aos outros”.
Mas Zenaide queria mais. Foi estudar em Pernambuco, fez curso de auxiliar de enfermagem “para misturar o popular com o científico”.
Assim, chegou a trabalhar em um posto de saúde de Marechal Thaumaturgo. “Ganhava um dinheiro que sustentava a minha família.
Mas, depois do estupro, perdi meu trabalho e mudei de lá”. Zenaide conseguiu, depois, se aposentar.
De parteira a cantora
Mas ela não para. Durante esse período de pandemia, fez 13 partos em Rio Branco. Ela é convidada para palestras sobre saúde da mulher e planejamento familiar.
Além disso, em 2017, foi descoberta em um novo talento. O seu caminho iluminado pela lua e pelas memórias é acompanhado também pela música.
Maria Zenaide foi flagrada por uma amiga cantando no caminho. “Já fiz mais de 500 músicas. Queria viver disso até o final da vida”.
O talento já é considerado indiscutível. A fama chegou ao produtor musical Alexandre Anselmo, que insistiu para que ela gravasse um disco.
“Nós consideramos a Zenaide uma mestra da música tradicional aqui no Acre”, afirma o músico.
Shows
“Desde criança, eu canto”. Em 2019, viajou para Espanha com outros músicos. “Foram 22 dias e cinco shows”.
A pandemia interrompeu a carreira em ascensão da parteira-cantora.
“Estava com cinco shows marcados. Tenho 506 músicas. Eu estava gravando um CD com dez músicas sobre a natureza e sobre a temática das parteiras. Música para mim é vida, é saúde.”
Zenaide, além de cantar e fazer partos, faz artesanato para complementar a renda. Quando ajuda no parto, também costuma receber doações. Mas ela sabe que essa é uma missão.
“Ser parteira significa ter coração bom, sem ganhar nada, trabalhar por prazer. Tenho certeza de que o parto na nossa vida é uma realização de vida”.
Leia mais em Agência Brasil .
Leia mais
Foto: Arquivo Pessoal