O líder indígena Jair Maraguá vai denunciar ao Conselho de Direitos Humanos da ONU o massacre de seu povo, ocorrido na região do rio Abacaxis, no estado do Amazonas, que vitimou quatro ribeirinhos e dois indígenas mundurukus.
Em 3 de agosto de 2020, a comunidade dos maraguás, que fica entre os municípios de Borba e Nova Olinda do Norte, no Amazonas, foi alvo de uma ação policial que resultou na morte de dois indígenas mundurukus na terra indígena Kwatá Laranjal.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ribeirinhos e indígenas ainda sofrem com a insegurança e com o descaso das autoridades sobre o ocorrido, uma operação policial movida a vingança.
“Indígenas e ribeirinhos seguem denunciando a negligência do Estado brasileiro nas investigações e a falta de proteção às comunidades afetadas”, diz o secretário-executivo do Cimi, Antônio Eduardo de Oliveira.
O massacre dos maraguás no rio Abacaxis é uma das várias denúncias que lideranças e organizações indígenas vão fazer ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Assim como o aumento da violência contra os povos originários no Brasil, os discursos de ódio e a política anti-indígena adotada pelo governo federal também estão na lista.
Situação dos povos indígenas
A denúncia pública ocorrerá na 49º sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU (HRC 49), que começa nesta segunda-feira, 28 de fevereiro, e vai até 1º de abril deste ano.
A participação das organizações e lideranças indígenas será por videoconferência, devido à pandemia
O presidente do Cimi, dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO) é quem vai apresentar o retrato da atual situação dos povos indígenas no Brasil, agravada pela crise sanitária da covid-19 e pelo o aumento das invasões dos territórios indígenas por grileiros, garimpeiros, madeireiros e outros invasores.
Ente os dados a serem levados ao Conselho da ONU está alto número de mortes ocorridas em decorrência da má gestão do enfrentamento à pandemia, a desinformação e negligência do governo federal.
Liberdade e crença religiosa
Para abordar o tema da sobre liberdade e crença religiosa, a líder do povo guarani kaiowá, no Mato Grosso do Sul, Taty Nhandeva, vai tratar dos constantes ataques contra as casas de reza e rituais tradicionais enfrentados por seu povo.
Segundo a Aty Guasu – grande assembleia dos povos kaiowá e guarani, pelo menos sete casas de reza foram criminosamente incendiadas em 2021.
Já o líder Adriano Karipuna retorna à ONU para denunciar invasões e grilagem na terra Indígena karipuna, em Rondônia.
Em 2021, os karipunas chegaram a processar a União, Funai e o estado de Rondônia por invasões e pela devastação da terra indígena.
De acordo com o Cimi, no ano passado, houve um aumento de 44% no desmatamento registrado na terra em relação ao período anterior, pondo em risco a sobrevivência dos karipunas e dos povos que vivem em isolamento voluntário naquela região.
Violência e discriminação racial
As lideranças indígenas brasileiras e as entidades indigenistas que estarão na HRC 49 da ONU também vão denunciar:
• situação do Brasil, bem como o contexto de violações e violências enfrentadas pelos povos indígenas no país;
• gradual enfraquecimento da política indigenista da Funai e do fortalecimento da pauta governamental contra os direitos dos povo indígenas
• iniciativas autônomas e estratégias para a proteção dos territórios indígenas principalmente dos povos isolados;
• discriminação racial, xenofobia e intolerância, mortes, fome atingem as comunidades indígenas em situação de vulnerabilidade extrema;
• preconceito e o racismo têm sido um agravante do sofrimento vivenciado pelos povos indígenas durante a crise sanitária, em especial quando buscavam atendimento ou assistência.
“Os indígenas brasileiros esperam que as denúncias feitas ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU resultem em ações concretas e por isso recorrem ao órgão”, disse o advogado indígena e assessor do Conselho Indígena de Roraima, Ivo Makuxi.
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