O projeto “Casa das Frutas”, de Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas, foi o vencedor do 2º Prêmio BNDES. O prêmio é de Boas Práticas em Sistemas Agrícolas Tradicionais (Prêmio SAT 2020).
A iniciativa premia com R$ 610 mil às melhores práticas em projetos agrícolas, pecuários, extrativistas e pesqueiros.
Essas atividades empregam conhecimento e técnicas da cultura de comunidades e povos tradicionais.
Os projetos classificados nos três primeiros lugares receberão R$ 70 mil cada um. Para as demais iniciativas selecionadas, no entanto, o valor do prêmio é de R$ 50 mil.
O projeto “Casa das Frutas” foi criado pela Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro (ACIMRN).
O objetivo é estruturar e gerir a cadeia de valor de produtos desenvolvidos com frutas secas em Santa Isabel.
A ação compreende um projeto arquitetônico e construção de uma casa de beneficiamento de frutas secas. A Casa das Frutas seria e é utilizada por agricultores de comunidades indígenas de diversas etnias da região.
Sistema Agrícola Tradicional
Santa Isabel do Rio Negro é um dos três municípios de abrangência do Sistema Agrícola Tradicional (SAT) da região. Fica a 631 quilômetros de Manaus. Os demais municípios são São Gabriel da Cachoeira e Barcelos.
O sistema se estende pelo território de 23 povos indígenas, dispersos por um complexo de cerca de 300 milhões de hectares.
Levantamentos de produção e sazonalidade apontaram os produtos prioritários a serem processados na Casa das Frutas.
A captação dos dados foram realizados entre 2017 e o início de 2019 nas comunidades indígenas.
Cardápio da merenda escola
Os produtos visam atender o mercado privado e a merenda escolar pelo Plano Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
O projeto teve apoio da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro ( Foirn ) e do Instituto Socioambiental (ISA).
Também apoiaram, o Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento da França (IRD) e a Universidade de Campinas (Unicamp).
O Polo Sindical das Organizações da Agricultura Familiar da Borborema, no Sertão da Paraíba, também foi premiado. Ficou em segundo lugar pela conservação da agrobiodiversidade.
E conseguiu isso por meio da Rede de Bancos Comunitários de Sementes da Paixão do Território da Borborema, iniciada em 1993.
O terceiro colocado no prêmio SAT/BNDES 2020 foi o projeto das comunidades de apanhadoras de flores sempre-vivas. Esta representou o programa Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial ( Sipam ), da FAO de Minas Gerais.
Visibilidade nacional
“Foi ótimo poder ver como a cultura brasileira está desenvolvida nesses setores, apesar de ser muito pouco conhecida pela população”. A observação é do engenheiro Bruno Malburg , da Área de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES.
Para ele, o prêmio dá visibilidade aos sistemas agrícolas tradicionais ( SATs ), fundamentais para a sobrevivência dessas comunidades, E de acordo com ele, contribui para a valorização e preservação desse patrimônio da cultura nacional.
Também foram premiados:
– a Associação dos Pescadores Artesanais de Porto Moz (Aspar), no Pará, pela conservação dos estoques pesqueiros e fortalecimento da entidade e da categoria;
– o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica e o Centro Cultural Kàjire, pela feira de sementes tradicionais do povo indígena krahô, em Goiatins (Tocantins);
– as comunidades tradicionais de fecho de pastos do Oeste da Bahia, pela iniciativa dos guardiões e guardiãs do cerrado em defesa da biodiversidade;
– Associação Indígena Ulupuwene, do Alto Xingu, pela festa do Kukuho (espírito da mandioca);
– o coletivo da agriflorestas e frutas nativas da região dos Campos de Cima da Serra Gaúcha, pela conservação e manutenção dos potreiros tradicionais, por meio do aproveitamento e uso das espécies vegetais nativas;
– e o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica, do Vale do Jequitinhonha, em Minas, pelo Catálogo de Sementes Crioulas do Alto Jequitinhonha.
Fotos: divulgação